“Diretor escolar: educador ou gerente”? Esse é título do novo livro do professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Vitor Henrique Paro. Na obra, o autor analisa a interferência privada na escola pública e os limites do papel do diretor – papel fundamental para uma escola bem-sucedida. “Organiza-se uma escola para fazer concursos, para se fazer índices do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Por isso é difícil o próprio papel do diretor”, critica. Confira a seguir a entrevista completa com o autor exclusiva para o NET Educação.

Paro no lançamento de seu livro em abril, em São Paulo (SP) (Crédito: Cortez Editora)
NET Educação – Você fala mais em direção do que em diretor. Qual a diferença?
Vitor Henrique Paro – Se você personaliza, fica algo individual, como se dependesse apenas de pessoas. Falar em direção é mais geral. Na nossa escola pública, quem dá os parâmetros é o próprio Estado. O diretor fica simplesmente como um capataz do Estado. É uma maneira de botar toda a culpa nele.
NET Educação – Você diz que o diretor acaba exercendo uma postura autoritária. Por quê?
Paro – Não por culpa dele, mas porque a escola não está organizada para ser, de fato, uma escola. Não se organiza uma escola para que o aluno vá lá aprender e se fazer humano. Organiza-se uma escola para se fazer concursos, para se fazer índices de Pisa. Por isso é difícil o próprio papel do diretor. A escola é cada vez mais invadida pela ideologia empresarial, negando seu papel educacional.
NET Educação – Como você avalia essa tentativa de transposição de modelos?
Paro – A escola é uma empresa também, pois é uma instituição que envolve esforço humano-coletivo na busca de um objetivo. Mas não é empresa no sentido capitalista. Toda empresa visa um fim e o fim da empresa mercantil é o lucro. Há uma apropriação do trabalho alheio, de modo que a empresa funciona muito bem sendo via de mando. É diferente da escola, cujo objetivo é formar sujeitos e pessoas autônomas. Tudo tem que ser pensado de forma democrática.
NET Educação – Quem é o gerente?
Paro – Tem gente que pega gerente como sinônimo de gestor e de administrador. Gerente, na sociedade capitalista, é quem controla o trabalho alheio. Na empresa capitalista, ninguém trabalha porque gosta, mas para ter um salário. Então, você precisa da gerência. A escola tem como objetivo formar pessoas autônomas, como disse. Por isso, eu só posso coordenar esse trabalho de uma forma democrática, não simplesmente pelo controle. Gerente é a negação do ato educativo.
NET Educação – O diretor deve ser, então, um educador?
Paro – O educando só aprende se quiser. Você tem que dialogar, não pressionar. Esse diálogo exige uma relação pedagógica de risco: quando tento convencer você de algo, corro o risco de não convencê-lo. O diretor precisa ser aquele que coordena o trabalho de trabalhadores –professores – e de alunos. Assim, o diretor tem que ser necessariamente um educador. É uma relação radicalmente política, que consiste em ter aliados, em convencer o outro.
NET Educação – Como é a relação do diretor com os professores?
Paro – A maioria dos professores odeia o diretor e ele não sabe. Muitos sonham em ser diretor no futuro e ser um cara legal, fazer diferente. Mas ele vai acabar sendo igual ao outro, porque o diretor não foi feito para ser legal, mas para mandar e ser um componente autoritário dentro da escola. No estado de São Paulo, por exemplo, é pior, pois o diretor é escolhido por concurso. É como se você escolhesse a presidência da República por um concurso. Educador só pode ser democrático e político, caso contrário não é educador.
NET Educação – Você diz que outra característica do trabalho do diretor é o medo constante. Por quê?
Paro – Na maioria dos estados, diretor tem autoridade para mandar, mas não poder. Costumo dizer que ele é o responsável último para que o estado possa fazer dele o culpado primeiro. Ele é culpado de tudo que acontece na escola, tudo é sua responsabilidade, então ele fica morrendo de medo.
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