O cinema é um recurso potente para a elaboração de diferentes propostas educativas. A professora da Universidade de São Paulo (USP) e idealizadora do Coletivo Janela Aberta – Cinema & Educação, Claudia Mogadouro, lembra que, em aula, ele pode ser considerado uma ferramenta de educomunicação quando ajuda a emancipar o aluno, abre espaço para ouvir suas opiniões e se contrapõe à visão do docente como detentor do conhecimento e estudante como receptor.

A primeira dica é que filmes não podem ser confundidos com livros didáticos. “Um longa-metragem apresenta ambiguidades. Tem, simultaneamente, uma linguagem artística – presente no roteiro, músicas, interpretação e traços da animação –, e também um viés comercial. Ou seja, não arrisca na narrativa, pode se valer de estereótipos ou de uma história com pouca tensão e caminha para um final feliz”, exemplifica. Segundo ela, aluno e professor não consumirão o produto da mesma forma. “Como obra de arte é simbólica, ela tem carga subjetiva forte, além de transmitir mais de uma mensagem.”

Assim, é importante dialogar com o estudante e ouvir sua opinião. “É comum o professor selecionar um filme que acha edificante, passar para os alunos e pedir que eles prestem atenção, porque farão uma redação ao final para explicar a sua mensagem. Isso acaba com a experiência, porque a turma assistirá pensando em entender aquilo o que o docente quer ouvir”, diz. O educador também não deve se ater apenas à mensagem central do filme.

Em aula, o cinema deve ter a mesma importância que a literatura. “Explica-se se a narrativa é linear, recursos usados, biografia do diretor, contexto social e histórico da obra e elementos que fazem dela pertencente a uma determinada vanguarda”, exemplifica.

Tapa-buraco

Um equívoco é exibir um filme para substituir a aula de um professor que faltou. “Com isso, quando um docente traz uma produção cinematográfica para a turma tendo intencionalidade educativa, não raro, é visto pela coordenação como ‘estar enrolando para não dar aula’”, revela. A linguagem cinematográfica também não pode ser ensinada como apenas fonte de entretenimento. “O cinema comercial, geralmente, não traz grandes tensões, e é visto como alternativa para ‘relaxar’, evitar pensar muito. Mas o aluno pode entender que há filmes que instigam, são fontes de conhecimento e reflexão”, aponta.

Confira, a seguir, sete links que podem ajudar o professor a entender melhor como utilizar filmes nas aulas e como planejar sua exibição de modo que essa seja significativa para seus estudantes.

Cinema em sala de aula – Dia a Dia Educação
Projeto da Secretaria de Educação do Paraná, o site reúne trechos de filmes com orientação de uso em disciplinas diversas, como matemática, língua portuguesa, geografia, história e química. Além disso, traz uma entrevista com a professora de literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), Andrea do Roccio Souto, sobre o uso da sétima arte nessa disciplina.

Palestra “A análise de filmes em sala de aula”, com Marcos Napolitano
Marco Napolitano é professor vinculado à Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Como usar o cinema na sala de aula”. Nessa palestra, gravada em 2010, ele fala sobre a cultura e o currículo. “Em nenhum momento o audiovisual deve ser usado para substituir o letramento ou estímulo para quem não gosta de ler, os dois devem caminhar juntos. Ele deve se conectar com as atribuições da escola, incluindo a preparação para o mundo da escrita e leitura”, afirma.

Debate “Cinema na escola” (Multirio)
A MultiRio é uma empresa municipal de multimeios, vinculada à Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Em seu canal do YouTube, ela traz um debate sobre como o cinema pode contribuir para a aprendizagem e ajudar no desenvolvimento de diversas habilidades. A mesa é composta pela secretária-executiva do Cineduc – Cinema e Educação, Elisabete Bullara, e a professora de História da EM Grécia, Lidia Santos Arruda.

TED “Cinema na Sala de Aula: Diálogos Possíveis”
Gloria Elena é doutora em letras e professora de educação básica. No TEDxUNISUAMED, ela lembra que o texto não é apenas o escrito: lê-se imagens. “Não é porque as imagens estão no nosso cotidiano, que não temos habilidade para lê-las”, diz. “Se você não habilitar o aluno para o que se lê em uma imagem, não será produtivo”, reforça. A educadora também critica a forma como o cinema é usado na escola. “O professor faltou: coloca os alunos para ver um filme. Isso tira o prazer”, reforça.

Conexão Professor – Cinema e Educação
A Live “Conexão Professor”, da Secretaria de Educação do Paraná, aborda a perspectiva pedagógica do cinema. A mesa redonda é composta pelo professor de história e mestre em cinema, Flavio Rocha; a doutora em educação, Solange Straube Stecz; e a mestre em educação e especialista em mídias integradas, Elisandra Angrewski.

Cineclube na escola (MultiRio)
O professor José Leandro Cardoso é articulador do projeto Cineclube nas Escolas da SME-Rio. No vídeo, ele orienta como ter um cineclube e provocar os alunos para se tornarem mais do que espectadores. “Nele, o aluno pode ter a oportunidade de ver um filme que não teria fora da escola, de discutir e se apropriar a linguagem do cinema de maneira aprofundada”, explica. Segundo o docente, a ideia do cineclube é pensar o cinema como objeto de estudo e elemento de aprendizado. “O professor deve saber o que quer daquele filme. É mostrar um período?”, questiona.

Programa NET Educação – Cinema e Educação
O programa entrevista a doutora em comunicação, Claudia Mogadouro, e o documentarista e diretor do filme “Quando Sinto Que Já Sei” (2014), Antonio Sagrado. Eles compartilham suas impressões sobre como o cinema pode colaborar com o ensino de crianças e jovens.

Veja mais:
Programa NET Educação – Cinema e Educação
6 filmes nacionais para ensinar sociologia
Professor cria canal para analisar filmes pelo viés da geografia
Língua portuguesa: respeito à pessoa LGBTI+ pode ser trabalhado por meio de filmes e produção de crônica

Crédito da imagem: BobGrif – iStock

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