A literatura pode ser uma boa parceira na hora de sensibilizar crianças e adolescentes sobre o racismo e suas consequências. “Ela é um recurso facilitador, principalmente por atuar no campo do imaginário social”, pontua a fundadora da livraria Africanidades, de São Paulo (SP), Ketty Valencio. “Desestimula a disseminação da homogeneidade e ajuda na construção de uma sociedade mais igualitária e justa”, acrescenta.
Valencio indica seis obras, de diferentes gêneros, que podem ser usadas para trabalhar o tema com os alunos da educação básica. “Elas apresentam a valorização de narrativas negras e do protagonismo dessa população, possuem um discurso sobre a descolonização dos saberes, estimulam o conhecimento sobre a história do país e a ressignificação do passado para a construção de autoestima”, descreve.
O ódio que você semeia
Angie Thomas, Galera Record, 2017
Durante o dia, a jovem Starr estuda numa escola cara, com colegas brancos e ricos. No fim da aula, volta para seu bairro, periférico, negro e oprimido pela polícia. Certo dia, ela e seu amigo Khalil são parados por viaturas e ele é assassinado. Em luto, indignada com a injustiça que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas, Starr precisa descobrir a sua voz.
A cor do preconceito
Sueli Carneiro, Vera Vilhena e Carmem Lúcia Campos; Editora Ática; 2007.
Após conquistar uma bolsa de estudos graças aos seus conhecimentos, Mira troca a escola pública da periferia onde estuda por um colégio de elite. Contudo, a identidade da adolescente negra é posta à prova ao se ver confrontada por situações de preconceito, racismo e intolerância.
Leite do peito
Geni Guimarães, Mazza Edições, 2001
O livro de contos com inspiração autobiográfica narra o amadurecimento de uma garota negra. Entre os temas abordados, estão o sonho de ser professora, o amor da família como apoio para superar adversidades financeiras, discriminação e a amizade com sua irmã, que tem deficiência intelectual.
O perigo de uma história única
Chimamanda Ngozi Adichie, Companhia das Letras, 2019.
A famosa palestra do TED Talk da autora nigeriana é apresentada em formato de livro. Chimamanda lembra que o conhecimento é construído pelas histórias que escutamos: quanto maior for o número de narrativas diversas, mais completa será nossa compreensão sobre determinado assunto. Assim, é importante ter cautela ao ouvir somente uma versão da história, que pode fomentar preconceitos.
Histórias da Preta
Heloísa Pires Lima, Companhia das Letrinhas, 1998
Como é ser negro no Brasil? Reunindo informação histórica, reflexão intelectual, estímulos ao exercício da cidadania e historinhas propriamente ditas (tiradas da mitologia africana, por exemplo), a autora fala sobre essa população no país, com a experiência de quem já foi alvo de racismo.
Meu crespo é de rainha
Bell Hooks, Boitatá, 2018
Para as garotas negras, o peso de tentar se enquadrar em padrões de beleza pode ser maior pela falta de representatividade na mídia e na cultura popular, assim como pelo excesso de referências eurocêntricas, de pele clara e cabelos lisos. Para fazer um contraponto a essa questão, o livro enaltece a beleza dos fenótipos negros, exaltando penteados e texturas afro. “Macio como algodão” e “gostoso de brincar” são qualidades realçadas por essa obra, publicada originalmente em 1999 em forma de poema rimado. Indicado para crianças a partir dos três anos de idade.
Veja mais:
7 livros infantojuvenis para valorizar a cultura negra com os alunos
Reação a cabelos crespos revela racismo na escola
Professora da rede pública compartilha em livro práticas pedagógicas contra racismo e outros preconceitos
Plano de aula: Racismo, raça e etnia
Crédito da imagem: monkeybusinessimages – iStock