Alguns materiais podem ser reaproveitados para compor móveis, caso da madeira, ferro e plástico. “O que irá determinar a utilização é a resistência e a possibilidade de trabalhar com sua forma e tamanho”, ensina o marceneiro artesanal e músico de Imbituba/SC, Fábio Marques. Este é o conceito de upcycling, que visa reaproveitar objetos e estender seu ciclo de vida, intervindo o mínimo possível neles.
Ele é diferente da reciclagem, na qual materiais como alumínio necessitam de derretimento e outros processos para voltar a ter uma função. “No caso da madeira, ferro e plástico, a reutilização mais simples é dar outra função para uma mobília sem desmontá-la. É o caso, por exemplo, do carrinho de supermercado, que se transforma em porta-ferramentas ou baú para brinquedos. Ou da estante que, deitada, vira um rack para a sala”, ilustra Marques. Essas situações geralmente não demandam acabamento. “Quando muito, podem receber retoque ou intervenção simples, seja lixando, cortando ou pintando”, descreve ele, que cria mobílias e instrumentos musicais a partir de objetos descartados.
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Desmontar e reconstruir
Há também móveis que já estão em casa, mas que ganham novos usos a partir da sua desconstrução com ferramentas básicas. “Exige martelo, serrote, serra de arco, furadeira, chave de fenda, cola branca, pregos e parafusos”, lista. A ajuda de um marceneiro também é bem-vinda. “Cortar madeira maciça exige serras mais duras, assim como maquinário para lixar resíduos de tinta e de cola. Não dá para fazer à mão”, indica o marceneiro de São Paulo Paulo Ferrari, que trabalha exclusivamente com madeira reaproveitada.
“Certa vez, uma cliente queria dar outra utilidade para um guarda-roupas antigo. Juntamos as portas e elas viraram um painel para televisão. Outra parte compôs um tampo para mesa”, ilustra Ferrari. “Subverter mobílias, porém, exige ver os objetos ou materiais descartados além da sua função original”, acrescenta Marques.
Garimpo
Mas não são apenas os objetos encontrados em casa que possuem potencial de reaproveitamento. Ferrari, por exemplo, “garimpa” madeira em caçambas de construção e reformas. “É comum o uso da peroba-rosa para construir telhados e ipê em pisos. Batentes de porta também são muito bons”, observa. “Essas podem ser escovadas e ganhar aspecto novo, ou usadas de forma a valorizar seus nós, veias e marcas do tempo. Nesse caso, usa-se um verniz que não muda a tonalidade do material”, orienta.
Ele também encontra mobílias descartadas inadequadamente nas ruas. “Tenho muitas cadeiras. Algumas vezes, aproveitam-se apenas partes do objeto para compor outros”, compartilha ele, que não coleta compensados (MDF). “Eles possuem baixa durabilidade”, justifica.
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Ferraria também é frequentador assíduo de bazares de instituições de caridade que vendem móveis doados a preços módicos. Para avaliar a qualidade da madeira, ele ensina: veja se há marcas de umidade ou cupim. “Quando cortadas, é possível analisar o seu interior”, afirma. E não se engane com a aparência do material. “Madeiras podem estar com fuligem, cola ou tintura e ainda assim estarem resistentes”, garante.
Evitando acidentes
Antes de fuçar em caçambas de construção, são necessários cuidados. Ferrari, por exemplo, orienta manter a carteira de vacinação contra tétano em dia, assim como usar luvas grossas e manusear os materiais cuidadosamente. “Lembre-se que há pregos enferrujados e objetos que podem estar contaminados”, alerta. O mesmo vale na hora de utilizar ferramentas em casa, como serrote. “Para evitar acidentes, é preciso se informar sobre o uso correto, utilizar equipamentos de segurança e bastante atenção durante o manuseio”, adverte Marques.