O cooperativismo é um modelo de organização econômica e social baseado na cooperação entre pessoas que se unem com um objetivo comum, como acessar bens e serviços.  Diferente de empresas tradicionais, as cooperativas são controladas democraticamente pelos próprios membros, que participam das decisões e dividem os resultados de forma justa.

“Enquanto o modelo empresarial é focado no lucro e no capitalismo e possui uma estrutura centralizada, com pouca participação dos membros, o cooperativismo busca atender às necessidades dos membros baseado em valores como igualdade e solidariedade, além de ter uma gestão democrática e autogerida”, resume a doutora em agronegócio e autora do Manual Teórico e Prático de Governança para Cooperativas Andrea Urack Krug.

“O associado é dono do negócio, com direito a voto na tomada de decisões durante as assembleias”, complementa o coordenador da graduação em Cooperativismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jairo Alfredo Genz Bolter.

A Organização das Nações Unidas (ONU) nomeou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, com o objetivo de valorizar o cooperativismo como um modelo de negócio justo e sustentável, capaz de contribuir para a redução de desigualdades sociais.

Confira, a seguir, nove dúvidas sobre o cooperativismo respondidas pelos especialistas.

O que é o cooperativismo?

“A palavra origina de cooperação, que são pessoas com um objetivo em comum agindo em conjunto. O objetivo é promover e desenvolver aspectos econômicos e sociais desse grupo, com foco em sustentabilidade, ou seja, que essas pessoas possam crescer juntas”, aponta Krug. “O cooperativismo visa atender as necessidades e melhorar as condições de vida dos associados”, acrescenta Bolter.

Como o cooperativismo surgiu?

Iniciou-se em 1844, em Rochdale, na Inglaterra, onde um grupo de artesãos enfrentava dificuldades devido à crise de desemprego, à inflação e à automação de tarefas realizadas por máquinas. “Diante desse momento de crise, essas pessoas se uniram para comprar mercadorias, estocá-las e depois vendê-las por um preço justo para o próprio grupo. Assim, os associados, são donos do negócio e clientes ao mesmo tempo”, pontua Krug.

Como ele se diferencia de outros modelos de negócio?

“O cooperativismo é voltado para o bem-estar coletivo, buscando atender às necessidades dos membros com base em valores como humanismo, liberdade, igualdade e solidariedade. Já o modelo empresarial é focado no lucro e no capitalismo”, explica Krug.

“Na gestão empresarial, a estrutura é centralizada, com pouca participação dos membros, havendo uma separação clara entre quem dirige e quem é dirigido”, diferencia.

No cooperativismo, a gestão é democrática e autogerida, com uma assembleia soberana que orienta as atividades. A lei 5.764/71 assegura a participação dos cooperados nas decisões estratégicas e nos resultados.

Quais são os princípios fundamentais que guiam as cooperativas?

Os sete princípios do cooperativismo são: adesão livre e voluntária, gestão democrática pelos membros, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação, formação e informação, intercooperação e interesse pela comunidade.

“Sobre a participação econômica, em vez de lucro, há a sobra, que é reinvestida na cooperativa ou dividida entre os cooperados”, explica Bolter.

“Em relação ao interesse pela comunidade, a cooperativa pode ajudar o seu entorno a se desenvolver. Em linhas gerais, locais onde há cooperativas possuem melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia temas como saúde, educação e renda da população”, diz Krug.

A intercooperação também é um princípio destacado por Bolter. “Quando uma cooperativa enfrenta problemas, outra do mesmo ramo pode apoiar ou mesmo promover uma fusão. Existem ainda as redes de cooperativas, que se unem para comercializar seus produtos em diferentes regiões”, exemplifica o professor.

Como funciona a governança dentro de uma cooperativa?

A assembleia é o órgão máximo da cooperativa. “Abaixo dela estão a diretoria, o presidente, o conselho de administração e o conselho fiscal. Em seguida, vêm as auditorias e os comitês, que podem incluir recursos humanos e outros, conforme a estrutura da cooperativa. Abaixo desses estão as gerências e áreas operacionais”, diz Krug.

Na divisão básica da cooperativa, a parte superior é chamada de diretoria estratégica, e a parte inferior, de gestão estratégica.

Já a assembleia é democrática, e a participação dos associados é incentivada com base na tomada de decisões por meio dessas reuniões. “O cooperado, ao identificar uma demanda, também pode solicitar a convocação de uma assembleia”, destaca Bolter.

Quais os benefícios de ser membro de uma cooperativa?

O associado é dono do negócio, com direito a voto na tomada de decisões durante as assembleias. Cada associado tem direito a um voto, independentemente da função ou dos valores investidos na cooperativa. “Dependendo da área da cooperativa, ela pode ter acesso a políticas públicas, facilidade de crédito e taxas reduzidas, além dos próprios serviços da sua cooperativa. Em uma cooperativa de saúde, por exemplo, o associado acessa bens e serviços com custos menores”, exemplifica Krug.

“O atendimento é personalizado: o cooperado não é apenas um número, mas reconhecido e valorizado por quem é dentro da organização. Além disso, possui direitos semelhantes aos de um trabalhador celetista”.

Quais ramos de cooperativas existem?

Os sete ramos do cooperativismo são: agropecuário, consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho, transporte, produção de bens e serviços.

“Nesta última, entra a prestação de diversos serviços especializados, como cooperativas de diferentes trabalhadores, de turismo, de material reciclável etc.”, exemplifica Krug.

“Cooperativas de infraestrutura estão se desenvolvendo bastante. Nelas entram cooperativas de energia elétrica, por exemplo”, completa a especialista.

Bolter destaca os benefícios das cooperativas de infraestrutura. “Por exemplo, podem garantir aos produtores um local para armazenamento de grãos. Isso evita que precisem vender imediatamente após a colheita, quando os preços estão baixos, e sim na entressafra, quando os preços aumentam”, descreve.

Como o cooperativismo contribui para o desenvolvimento econômico e social?

“A cooperativa gera desenvolvimento, emprego e renda, democratizando o acesso a serviços financeiros, impulsionando o crescimento econômico, fortalecendo a comunidade, promovendo o bem-estar coletivo e a sustentabilidade. Por tudo isso, contribui para o desenvolvimento econômico e social das localidades onde está inserida”, enfatiza Krug.

Quais os principais desafios enfrentados pelas cooperativas?

“Penso que é preciso fortalecer a intercooperação e a gestão, aproximando os associados das decisões da cooperativa”, opina Krug.

“Destacaria o interesse pela comunidade; há cooperativas que não se preocupam com os desafios do seu entorno”, lamenta Bolter.

“Além disso, é fundamental dialogar com a sociedade sobre os benefícios do cooperativismo. Por exemplo, muitas pessoas que optam por bancos online sem taxas desconhecem que cooperativas de crédito oferecem os mesmos serviços, com o adicional da participação econômica”, finaliza o docente.

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Crédito da imagem: Hannah Busing – Unsplash

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