Mudanças climáticas são alterações nos padrões do clima da Terra causadas pelas atividades humanas que emitem gases de efeito estufa na atmosfera. O cinema pode ajudar a sensibilizar sobre esse tema ao apresentar histórias que mostram os impactos ambientais dessas transformações ou as ações humanas que amplificam o problema.
“As mudanças climáticas são resultado das atitudes do ser humano, que, embora faça parte do ecossistema como qualquer outro animal, frequentemente se esquece dessa condição”, analisa o doutor em Educação Rodrigo Ávila Colla.
“Ao agir como se estivesse separado da natureza, o ser humano adota comportamentos que desequilibram o meio ambiente, gerando problemas como as alterações no clima”, complementa.
Para Colla, o cinema pode ajudar a educar sobre mudanças climáticas por meio da sensibilização.
“Sensibilização contrasta com a lógica cartesiana de que o argumento racional é o que convence. Como aponta o neurobiólogo chileno Humberto Maturana, aprendemos melhor aquilo que, de algum modo, nos tocou”, defende.
Para a professora do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Lucia Estevinho, os filmes conseguem colocar em uma narrativa lúdica ou documental pesquisas e dados acadêmicos de climatologia, oceanográfica, geofísica, entre outros. Porém, ela sugere cuidado com produções que apresentam catástrofes.
“Por um lado, eles atraem um público do gênero fantástico. Por outro, podem afastar da temática ao apresentarem os acontecimentos como algo distante”, pondera a docente. “Prefiro discutir mudanças climáticas com produções que abordem a relação dos seres humanos com a natureza”, complementa.
A seguir, confira oito indicações de filmes e documentários que ajudam a refletir sobre as mudanças climáticas e seus impactos.
Indomável sonhadora (2012)
Hushpuppy é uma menina de seis anos que vive com o pai doente em uma comunidade isolada às margens de um rio, que está sendo inundada e deixará de existir. Estevinho explica que o filme faz referência aos deslocados por catástrofes climáticas. Segundo a professora, a produção foi feita após entrevistas com sobreviventes do furação Katrina, que devastou Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005. “No filme, a população prefere continuar na ilha por não se adaptar aos abrigos”, conta.
Honeyland (2019)
Essenciais para a agricultura, as abelhas são impactadas pelas mudanças climáticas, que afetam suas fontes de alimento e padrões de polinização. Esse filme documentário aborda a apicultora Hatidze, que vive na Macedônia e respeita a regra de pegar apenas metade do mel, deixando o resto para as abelhas. Mas, quando novos apicultores ignoram essa norma, o equilíbrio do ecossistema é ameaçado. “Hatidze não enxerga as abelhas como um recurso, mas como companheiras. Ela se aproxima de um modo de vida que não é predatório e que foge da visão centrada no humano: ela e as abelhas têm importância igual”, afirma Estevinho.
Uma verdade inconveniente (2006)
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore oferece uma análise sobre o aquecimento global, desmistificando os mitos e equívocos associados ao tema e propondo soluções para evitar uma catástrofe climática nas próximas décadas.
Wall-E (2008)
Após poluir a Terra com lixo e gases tóxicos, a humanidade abandona o planeta e vive em uma nave espacial. O plano era o de que robôs limpassem a Terra, e Wall-E é o último a cumprir essa tarefa, compactando lixo e colecionando objetos. Sua rotina muda quando uma nave chega trazendo Eva, um robô moderno, e Wall-E se apaixona por ela. “Fica intrínseca essa questão da mudança climática, já que a Terra se torna inabitável após os acontecimentos decorrentes das mudanças que o homem gera no seu ambiente, ou seja, devido a um modo de vida que altera profundamente o seu meio”, analisa Colla. “Há ainda a ironia do robô se mostrar mais sensível que os humanos”, completa.
Nausicaä no Vale do Vento (1984)
Nessa animação, a humanidade se esforça para sobreviver após um evento que destruiu a maior parte do ecossistema da Terra. O reino de Nausicaä é isolados por uma floresta tóxica, e ela tenta compreender melhor suas plantas e insetos.
Avatar (2009)
Um ex-fuzileiro paraplégico é enviado à lua Pandora para operar um avatar. A região é cobiçada por humanos por ter metais preciosos. Lá, ele se envolve com os Na’Vi, povos originários do local, iniciando um conflito entre os interesses humanos de exploração e a defesa do povo e da natureza local.
“Tem uma cena em que o personagem mata um animal e agradece pela vida dele, e isso lembra que somos parte do ecossistema e precisamos respeitar todas as formas de vida e a Terra”, compartilha Colla.
“O filme coloca o humano como vilão, porque, quando falamos de mudança climática, precisamos reconhecer que o animal humano é o vilão e que precisamos ser reeducados”, analisa Colla.
O Amanhã é hoje – o drama de brasileiros impactados pelas mudanças climáticas
O documentário mostra como as mudanças climáticas já afetam a vida de diversos brasileiros, com histórias de indígenas, agricultores, pescadores e comerciantes que enfrentam secas, incêndios, erosões e tempestades. A produção reúne depoimentos de especialistas que alertam sobre o papel do desmatamento, especialmente na Amazônia, no agravamento desses impactos, e reforça a urgência de preservar as florestas para conter o aquecimento global.
Trilogia Qatsi
Série de três filmes não narrativos de Godfrey Reggio com trilha sonora de Philip Glass. Os títulos dos filmes, Koyaanisqatsi (1982), Powaqqatsi (1988) e Naqoyqatsi (2002), são palavras da língua indígena Hopi, onde “qatsi” significa “vida”.
“Eles abordam a maneira como o homem modifica seu meio, o que é central na discussão sobre mudança climática. Porém, fazem isso de maneira mais artística e filosófica do que lógica, o que pode ajudar a sensibilizar”, opina Colla.
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Crédito da imagem: D-Keine – Getty Images