Ainda são poucos os filmes, séries e documentários sobre o povo cigano no cinema comercial, como analisa o artista e cineasta de origem cigana calón Aluízio de Azevedo.

“Quando aparecem, são com personagens atravessados por estereótipos. Como a fetichização de mulheres ciganas que leem a sorte como bruxas ou em um papel sensual. Ou como na série britânica Peaky Blinders (2013), em que os ciganos são retratados como parte de uma organização criminosa, como ladrões ou trapaceiros. Há ainda o estereótipo do cigano sujo, com piolho etc.”, analisa.

Em contrapartida, a produção de filmes realizados por diretores de ascendência cigana tem apresentado outras narrativas, como o argelino Tony Gatlif.

“A extensa filmografia de Gatlif apesenta a diversidade e as tradições do povo cigano com um olhar intimista e extremamente poético que só uma pessoa de dentro, que conhece a cultura, conseguiria transmitir”, destaca Azevedo.

Evitando generalizações

No Brasil, os principais grupos ciganos são os Rom, Sinti e Calon. Há ainda subgrupos, como Kalderash, Lovara e Matchuara (Rom) e Manouche (Sinti). E, mesmo dentro de um mesmo grupo, as tradições familiares podem variar.

Por esse motivo, ao assistir a um filme, documentário ou série sobre o povo cigano, Azevedo alerta para tomar cuidado com generalizações.

“Por exemplo, ao assistir ao reality show estadunidense Meu Grande Casamento Cigano (2012), é preciso ter em mente que se trata de uma família, de uma etnia, de um país e de uma classe social, que não representa toda a diversidade de ciganos no mundo”, contextualiza.  “No Brasil, por exemplo, há uma grande parte da população cigana que não acessa nem saneamento básico, que é uma realidade de exclusão social diferente da que será vista neste produto, no qual as famílias retratadas são ricas”, compara.

A seguir, confira 11 filmes para conhecer o povo cigano.

Terra de ciganos (2024)

O documentário de Naki Sidik percorreu dez mil quilômetros e gravou comunidades ciganas rom, sinti e calon dos estados de Minas Gerais, Paraíba, Alagoas, Bahia, Rio Grande do Norte e São Paulo. O filme conta ainda com a participação dos consultores da Embaixada Cigana do Brasil Ingrid e Nicolas Ramanush, que também colaboram com a trilha sonora.

Latcho Drom (1993)

O premiado filme de Tony Gatlif acompanha músicos e dançarinos ciganos itinerantes enquanto viajam pela Europa e partes da Ásia. “Ele conta a história dos povos ciganos por meio da música”, resume Azevedo,

DEBAIXO DAS LONAS tudo é mais bonito! (2022)

Dirigido pelo cineasta cigano calón Roy Rogeres Filho, o documentário aborda as tradições do povo cigano circense ao contar a história de Irisma Fernandes, irmã do diretor. Ela viveu itinerante, passando por mais de 20 circos. Após o assassinato de seu pai durante uma apresentação, ela assumiu a responsabilidade de transmitir as tradições ciganas e circenses para seus irmãos, filhos e netos.

Meu grande casamento cigano (2012)

Reality show com seis temporadas no qual ciganos dos Estados Unidos mostram seus costumes, trabalhos e casamentos.

OLHO A’DENTRO (2013)

Curta-metragem documental de Camila Camila que fala de cultura cigana por meio do olhar feminino. Filmado na comunidade cigana do município de Santo Antônio de Jesus, na Bahia.

Diva e as Calins de MT (2021)

Cinco ciganas da etnia calón moradoras do Mato Grosso são retratadas em episódios específicos nesta série-documentário de Aluízio Azevedo. O público pode conhecer Mestre Diva, Terezinha Alves, Nilva Rodrigues, Irandi Rodrigues e Nerana Rodrigues Pereira.

O estrangeiro louco (1997)

Dirigido pelo cineasta cigano Tony Gatlif, conta a história de um jovem francês que viaja para a Romênia em busca de uma cantora cigana que ele ouviu em uma fita cassete e se envolve com a comunidade local.

O Tempo dos Ciganos (1988)

Filme do cineasta sérvio Emir Kusturica que mistura realismo mágico, música e crítica social.  Nele, um jovem cigano com poderes telecinéticos se envolve com o crime em busca de uma vida melhor.

É Kalon: Olhares Ciganos (2011)

Dirigido por Aluízio Azevedo, o documentário retrata a vida de um grupo calón, que percorre o Mato Grosso há mais de 80 anos.

Transylvania (2006)

No filme de Tony Gatlif, uma mulher grávida viaja com sua amiga Marie para a Romênia, em busca de seu namorado, que a rejeita. Em sua jornada, ela interage com a comunidade cigana.

Rio cigano (2013)

Da diretora Julia Zakia, conta a história de Kaia, uma jovem cigana que viaja por diferentes mundos para resgatar sua amiga de infância. O filme, inspirado nas tradições da narrativa oral cigana, aborda questões contemporâneas, como vaidade e laços de amizade.

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Crédito da imagem: Jake Hills – Unsplash

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