Com a popularização dos dispositivos móveis, aplicativos voltados ao público infantil se multiplicaram nas lojas virtuais, oferecendo jogos, conteúdos educativos e ferramentas de entretenimento. Porém, nem todos são adequados ou seguros para crianças, podendo conter elementos que incentivam o consumo exagerado, expõem os usuários a conteúdos impróprios ou coletam informações sensíveis sem o devido consentimento. Por conta disso, é necessária a atenção de pais e responsáveis.

A seguir, listamos oito orientações que devem ser observadas antes de baixar qualquer aplicativo voltado ao público infantil.

1) Possui ferramentas de supervisão familiar?

As ferramentas de controle parental são recursos que permitem que as famílias acompanhem e orientem o uso que a criança ou o adolescente faz do aplicativo.

“Elas definem limites do tempo de uso, acompanham atividades e interações, restringem conteúdos inadequados e emitem alertas sobre comportamentos de risco. Assim, ajudam a garantir uma experiência online mais segura, equilibrada e adequada à idade”, sintetiza a psicóloga da Safernet e doutora em Estudos da Criança Bianca Orrico.

Porém, ela lembra que tais ferramentas não substituem o diálogo com os filhos. “Conversar abertamente e sem julgamentos sobre o que as crianças ou os adolescentes fazem online, ouvir suas experiências, dúvidas e preocupações e mostrar disponibilidade para ajudar permite que se sintam seguros em buscar apoio quando precisarem”, justifica.

2) Exige pagamentos para a obtenção de recursos?

O aplicativo pode parecer gratuito, mas oferecer recursos, vantagens ou itens adicionais apenas mediante compra. “Isso pode estimular gastos excessivos ou compras não autorizadas feitas por crianças e adolescentes, que podem não ter desenvolvido maturidade para lidar com dinheiro ou não entender o valor real do que estão adquirindo”, alerta Orrico.

Além disso, é preciso cuidado ao deixar as informações de cartões de crédito ou débito vinculadas à conta. “Utilize as ferramentas de controle parental para bloquear aplicativos e coloque senha nas lojas virtuais para bloquear downloads”, ensina.

3) Contém violência ou premia comportamentos violentos sem estimular reflexão?

“O consumo de conteúdos violentos, especialmente sem uma reflexão crítica, pode banalizar a violência ou influenciar negativamente o comportamento e a forma como a criança lida e interage com o outro”, destaca Orrico.

“Aplicativos e jogos que recompensam a partir desse viés podem dificultar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais para pensar em estratégias saudáveis visando a resolução de problemas”, acrescenta.

4) Coletam dados sensíveis?

Dados têm valor comercial e, por isso, são coletados e negociados. Mesmo sem perceber, ao interagir com a tela, o usuário pode estar fornecendo informações que ajudam empresas a traçar perfis de consumo e oferecer produtos de forma direcionada.

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (nº 13.709/2018) determina que apenas os dados estritamente necessários sejam coletados e que seu uso ocorra com o consentimento do usuário e, no caso de crianças e adolescentes, sempre conforme seu melhor interesse.

“É importante estar atento aos termos e políticas de uso de dados apresentados pelos aplicativos”, explica o guia sobre usos de dispositivos digitais do governo federal.

5) Tem padrões que estimulam o uso prolongado, como reprodução automática, conteúdos acelerados e linha do tempo infinita?

Aplicativos e redes sociais que estimulam o uso prolongado através de reprodução automática, promovendo conteúdos acelerados, vídeos curtos e feed infinito, são desenhados para manter a atenção do usuário por longos períodos, muitas vezes sem que a gente perceba.

“O consumo frequente de conteúdos curtos e fragmentados pode prejudicar a saúde, pois o cérebro passa a lidar com as informações de maneira superficial, o que compromete a atenção e dificulta a execução de atividades que demandam maior tempo e aprofundamento e criticidade” alerta a psicóloga.

“Isso pode prejudicar o desempenho escolar, a interação social, a prática de atividades físicas, o contato com a natureza e a capacidade de aprendizagem de crianças e adolescentes”, complementa Orrico.

6) O aplicativo se pauta exclusivamente em atividades com sistema de reforço ou recompensas?

Quando um aplicativo se baseia exclusivamente em sistemas de reforço ou recompensas — como medalhas, moedas virtuais, curtidas, pontuações ou personagens desbloqueáveis — é preciso atenção. Isso pode ativar o sistema de recompensa do cérebro, levando a uma liberação de dopamina e a sensações de prazer. Essa hiperestimulação impacta na concentração e, em efeito dominó, na memória também.

7) Apresenta anúncios publicitários durante o uso?

Alguns apps gratuitos se mantêm por meio de propagandas, mas nem sempre elas são apropriadas para o público infantil e podem direcionar para sites externos e incentivar o consumo. “Crianças e adolescentes têm mais dificuldade em diferenciar publicidade de entretenimento e em entender a intenção persuasiva da publicidade digital, que usa técnicas para estimular o consumo e fidelizar consumidores desde cedo”, lembra o guia sobre usos de dispositivos digitais do governo federal.

8) Recomendação etária

Apps com classificação acima da idade da criança podem conter elementos que ela ainda não compreende bem ou conteúdos impróprios para sua faixa etária.

Porém, Orrico explica que deve-se considerar a maturidade de cada criança para além da idade cronológica.

“Ou seja, avaliar se ela desenvolveu noções básicas de segurança e privacidade. Se sabe bloquear e denunciar conteúdos ou usuários nas plataformas que utiliza, filtrar a qualidade dos conteúdos, realizar interações respeitosas, tendo cuidado com desconhecidos, entre outros”, aponta a psicóloga.

Veja mais:

Como orientar adolescentes e crianças sobre compras online?

Como proteger a autoestima de crianças e jovens nas redes sociais?

O que é ‘brain rot’?

Crédito da imagem: MStudioImages – Getty Images

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