A mãe de Gabriel Bernardes até que tentou deixá-lo longe da cozinha, mas não conseguiu por muito tempo. O jovem, hoje com 26 anos, tem Síndrome de Down.

“Aos 10 anos, eu ficava sozinho em casa com a minha irmã de 12 anos enquanto minha mãe ia trabalhar. Eu tinha essa vontade de recebê-la com uma comida gostosa”, conta.

“Ela tinha medo que eu me machucasse na cozinha com faca e panela quente. Mas eu queria aprender a cozinhar. Conforme fui crescendo, consegui ajudar nas tarefas de casa”, relembra.

Certo dia, a mãe de Bernardes foi demitida e a situação financeira familiar ficou difícil. “Tivemos que sair do nosso apartamento e não tinha o que comer”, conta.

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O chef Gabriel Bernardes, do Downlícia (crédito: divulgação/Andre Miranda).

As coisas começaram a mudar quando ela conseguiu um emprego de secretária na paróquia do bairro. Como agradecimento, o jovem e a irmã gravaram um vídeo cozinhando brigadeiros e presentearam o padre com os doces.

“Ele gostou e sugeriu que a gente vendesse para ajudar na renda de casa”. Comunicativo, não demorou muito para que a comunidade descobrisse o talento de Bernardes e começasse a encomendar os quitutes.  Surgia, assim, o Brigadeiros Gourmet Downlícia.

“Ganhei uma food bike personalizada, passei a vender os brigadeiros em eventos, e empresas começaram a me chamar. Percebemos que deu certo quando pagamos a primeira conta de luz com o dinheiro”, comemora o jovem. “Minha food bike já passou por 250 empresas”, calcula.

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A rotina com o preparo e a venda dos doces passou a ser compartilhada no Instagram. Outro passo que ajudou o Downlícia a ficar ainda mais conhecido.

“Sou uma pessoa comum, e as pessoas perceberam que a Síndrome de Down não me limitava como ser humano”, avalia.

Entre seus sonhos, ele conta que deseja criar franquias da Downlicia. “Quero viajar para Disney, conhecer novos países e novos sabores também”, confessa.

Chefs especiais

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A chef Nathália Evangelista (crédito: divulgação/Chefs Especiais).

Incluir pela gastronomia também é o objetivo do Instituto Chefs Especiais, criado em 2006 pela advogada Simone Lozano. A iniciativa oferece cursos de gastronomia gratuitos para pessoas com Síndrome de Down, além de realizar eventos.

“A gastronomia é uma forma de inclusão total. Ela trabalha autonomia, experiência, transformação, quantifica, dá noção de tempo, de organização e, principalmente, une as pessoas”, defende Lozano.

A chef Luiza Camargo (crédito: divulgação/Chefs Especiais).

O projeto começou itinerante, em cozinhas disponibilizadas por hotéis e restaurantes, antes de conquistar sua sede própria. “Podem participar presencialmente das aulas pessoas com Síndrome de Down acima de 14 anos. Online, com deficiência e de qualquer idade”, informa.

Uma das alunas é Nathália Evangelista, de 24 anos, que estava em um tratamento de leucemia quando descobriu a escola. “Lá, conheci meus amigos. Eles são legais e como se fossem minha família. Aprendi a fazer salgados, doces e hoje a minha mãe é a minha assistente”, brinca.

Para a estudante Luiza Camargo, da mesma idade de Evangelista, um dos ganhos da formação foi conquistar autonomia. “Quando estou com fome, vou à cozinha e faço a minha refeição. Eu preparo o meu café da manhã sozinha, com tapioca e ovo. Também gosto de fazer nhoque, pizza e salada”, orgulha-se.

A chef Danielle Gontijo (crédito: divulgação/Chefs Especiais).

Já a aluna Danielle Gontijo, dois anos mais velha, afirma que passou a comer alimentos que achava que não gostava. “Além de querer ser atriz, tenho agora o sonho de ser confeiteira. O prato que mais gosto de fazer é bolo de cenoura”, finaliza.

Foto de destaque: O chef Gabriel Bernardes, do Downlícia (crédito: divulgação/Andre Miranda).

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