A doação de órgãos permite que pessoas com doenças graves e terminais tenham a oportunidade de receber um órgão saudável, recuperando o bom funcionamento do organismo e retomando o direito a uma vida plena e ativa. Em muitos casos, o transplante é a única esperança de sobrevivência, salvando vidas e oferecendo uma nova chance a pacientes em estado crítico.

No entanto, no Brasil, o processo ainda suscita dúvidas tanto em pessoas que desejam se tornar doadoras quanto em familiares que se veem diante do dilema de autorizar ou não a doação dos órgãos de um ente querido. Para estimular esse ato de generosidade, esclarecemos 15 questões comuns sobre o tema com a ajuda de dois médicos especialistas. Confira!

Quais são os tipos de doadores de órgãos?

Existem duas modalidades de doação de órgão: a do doador vivo — que doa parte de um órgão ou um órgão inteiro, desde que não haja prejuízo à sua vida — e a de doadores falecidos, ou seja, em morte encefálica.

Quem pode ser doador de órgãos?

O coordenador médico do programa de transplantes de órgãos do Hospital Albert Einstein, José Eduardo Afonso Junior, explica que para ser doador em vida é necessário parentesco de até quarto grau com o receptor. “Assim como compatibilidade sanguínea e imunológica”, acrescenta. 

A doação entre não-parentes é realizada com autorização judicial e aprovação do comitê de bioética do hospital transplantador. “Nesse caso, o doador deve ser maior de 18 anos e o órgão a ser doado deve estar em bom funcionamento, conforme os critérios da equipe transplantadora”, esclarece Junior. 

Já no caso de doadores falecidos, podem doar aqueles que tiveram diagnóstico de morte encefálica e autorização da família.

O que é a morte encefálica?

É a morte do cérebro, incluindo tronco cerebral que desempenha funções vitais como o controle da respiração.

“Quando isso ocorre, a parada cardíaca é inevitável. Embora ainda haja batimentos cardíacos, a pessoa não pode respirar sem aparelhos e o coração baterá por poucas horas. Por isso, a morte encefálica já caracteriza a morte do indivíduo”, ensina Junior. 

Os critérios para identificar a morte encefálica são rígidos, incluindo exames clínicos com intervalo de seis horas e avaliação de um médico especializado.

Preciso avisar minha família sobre o desejo de ser doador?

Sim, apenas com a autorização da família seus órgãos poderão ser doados. “A maior dificuldade ainda é a autorização familiar”, lamenta o médico e conselheiro da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Valter Duro Garcia.

É possível deixar algum documento por escrito manifestando o desejo de ser doador de órgãos?  Isso tem valor legal?

Não. No Brasil, ainda que uma pessoa tenha dito em vida que gostaria de ser doador, esta somente acontece se a família autorizar. Assim, a melhor maneira é fazer com que a família saiba desse desejo. “Geralmente, tendem a respeitá-lo”, conta Junior.

Em quais situações de morte a doação de órgãos pode ocorrer?

No Brasil, só são aceitos doadores em morte encefálica para doação de órgãos sólidos. Ou seja, órgãos internos compostos de tecido sólido, que realizam funções específicas e são vitais para a sobrevivência — caso do coração, pulmões, fígado, rins e pâncreas.

“Em morte encefálica, os demais órgãos funcionam com auxílio de aparelhos e medicamentos. Em contrapartida, com o coração parado, pode-se retirar tecido ocular (córnea), mas não órgãos sólidos”, compara Junior. 

Para onde vai o órgão doado?

No caso de doadores falecidos, o órgão é oferecido à lista de espera controlada pela Central Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, com o apoio das Centrais Estaduais de Transplante.

Como funciona o processo de doação por morte encefálica?

Garcia explica que a identificação de pacientes com morte encefálica que podem ser potenciais doadores é realizada nos hospitais pelas Comissões Intra-hospitalares de Transplante, nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e emergências. 

“O potencial doador é notificado às Organizações de Procura de Órgãos e Centrais Estaduais de Transplantes que avaliam se todas as etapas para o diagnóstico da morte encefálica foram realizadas”, descreve Junior.

 Um profissional entrevista a família para saber se ela autoriza a doação dos órgãos. Em caso positivo, exames adicionais são realizados e o potencial doador é mantido com seus órgãos funcionando por meio de aparelhos e medicações. 

“As centrais estaduais comunicam as equipes transplantadoras que cuidam dos pacientes nas primeiras posições da fila de espera de cada órgão. As equipes avaliam os dados clínicos e história do doador e aceitam ou não aquele doador”, complementa Junior.

Quais órgãos podem ser doados após morte encefálica?

Coração, pulmões, fígado, pâncreas, rins e o intestino delgado. Também pode-se doar tecidos como medula óssea, córnea, ossos, pele e valva cardíaca.

Quais órgãos podem ser doados em vida?

Rim, parte do fígado e parte do pulmão.

Quais doenças podem prejudicar a doação?

Infecções que atingem a corrente sanguínea e podem comprometer todos os órgãos. “Há infecções localizadas que podem comprometer um órgão específico, não outros. Por exemplo, uma pneumonia que inviabiliza a doação de pulmão, mas não, a do fígado”, explica Junior. 

 Infecções virais agudas e crônicas podem prejudicar a doação a depender dos critérios locais, de quem irá receber o órgão e do tipo de vírus.  

“Doenças crônicas como diabetes e hipertensão, por exemplo, podem prejudicar o rim e o coração dos doadores. Mas a avaliação da qualidade desses órgãos permite à equipe decidir se vai ou não usar os órgãos”, lembra Junior.

“Se o paciente tem enfisema pulmonar ele pode ter a doação dos pulmões vetada, mas não do fígado”, acrescenta Junior. 

Em quais situações a doação é vetada?

Em alguns tipos de infecções virais crônicas, como hepatite C, e quando há diagnóstico de câncer no doador — exceto alguns tipos de tumor localizados.

“Hoje em dia há poucas as situações de morte encefálica sem doador. Um paciente com HIV em tratamento pode doar a outra pessoa HIV+, por exemplo. Idosos podem ser doadores de órgãos para outros da mesma faixa etária”, conta Garcia. 

Quem não pode ser doador de órgãos?

A lista inclui portadores de insuficiência orgânica que comprometa o funcionamento dos órgãos e tecidos doados, como insuficiência renal, hepática, cardíaca, pulmonar, pancreática e medular.

“Portadores de doenças contagiosas transmissíveis por transplante, como doença de Chagas, hepatite B e C; pacientes com infecção generalizada ou insuficiência de múltiplos órgãos e com doenças degenerativas crônicas. O mesmo para pessoas com tumores malignos — com exceção daqueles restritos ao sistema nervoso central, carcinoma basocelular e câncer de útero”, lista Junior. 

Há religiões que não permitem doar órgãos no Brasil?

A maioria das religiões no Brasil — incluindo as de matriz africana, o cristianismo, o espiritismo, a judaísmo e o islamismo — apoiam a doação de órgãos como um ato de solidariedade. “Desconheço religiões que se opõem. Mesmo os Testemunhas de Jeová, que proíbem transfusão de sangue, permitem transplantes”, compartilha Junior.

O que é avaliado na hora de direcionar o órgão a um possível receptor?

Garcia explica que, no caso do fígado, o paciente mais grave é favorecido. “No coração, busca-se um receptor com tamanho do órgão e peso semelhantes. Em ambos os órgãos, o tempo entre retirada e transplante não pode ultrapassar seis horas”, completa. 

No caso do pulmão, é avaliado o diâmetro do órgão. “O rim pode ser doado para qualquer lugar do Brasil em até 24 horas. Já o pâncreas tem prazo de 12 horas”, acrescenta Garcia. 

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