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A PodPesquisa Produtor 2020/2021, divulgada recentemente pela Associação Brasileira de Podcasters (ABPOD) revela que apenas 23,3% dos podcasts são produzidos por mulheres. Para colaborar com a mudança deste quadro, a pesquisadora e podcaster Aline Hack organizou o livro “Feminismos e Podcasts”.

“As mulheres tendem a procurar produções de mulheres – ou com mulheres no microfone ou com convidadas mulheres dentro dos programas. Então, quanto mais mulheres produzindo, mais mulheres escutando nós teremos. É uma relação proporcional”, avalia Hack, que é mestre em direitos humanos com pesquisa na área de feminismo, práticas digitais voltadas aos direitos humanos, comunidades digitais e podcast.

Para refletir sobre esse cenário e aumentar a representatividade da mulher na mídia, Hack reuniu pesquisadoras da área e organizou o livro. Para ela, ter um propósito faz a diferença.
“Eu gosto de dizer que os conteúdos não vão só para a mesa do bar, eles vão para a mesa do jantar, eles vão para a sala de aula, eles vão para os ensinamentos aos filhos, para todos os lugares. Eles vão para o ambiente de trabalho. Então quando a gente ouve uma coisa que incomoda, que traz uma mudança, a gente carrega e aquilo ali faz sentido na nossa vida”, reflete.

Aline Hack
Aline Hack em gravação de podcast (crédito: divulgação)

Causas da subrepresentação

Entre as causas para a baixa participação de mulheres na produção dos podcasts, Hack lista a síndrome da impostora, que impede muitas mulheres de sequer começarem. De acordo com o Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, essa síndrome afeta principalmente mulheres, e é caracterizada por pensamentos que reforçam a perda de confiança em si e a sensação de que o sucesso atingido não foi merecido.

A pesquisadora também cita o acúmulo de tarefas domésticas e familiares, que acaba impedindo muitas mulheres de se dedicarem a esses projetos e mesmo um silenciamento histórico das vozes femininas. “Nós temos aí uma questão de silenciamento histórico de mulheres e de grupos socialmente vulneráveis. Então, esses grupos são sub-representados dentro das mídias e na mídia podcast não seria diferente”, aponta.

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Transcrição do Áudio

Aline Hack:
Eu sou uma grande entusiasta da ‘#mulherespodcasters’, inclusive foi um dos pontos da minha pesquisa. Acredito muito no poder das vozes das mulheres dentro do podcast e, também, acredito muito na pesquisa em podcast, que está em franco crescimento aqui no Brasil, seguindo tendências internacionais e que é um campo muito fértil pra gente conversar hoje.
Eu sou Aline Hack, feminista, eu milito dentro da área de amplificação de vozes e uso político de podcast; pesquisadora na área de direitos humanos, com intersecção na área de mídias, de podcast, de ativismo digital….

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Walkíria Brit:
A PodPesquisa Produtor, divulgada pela ABPOD – Associação Brasileira de Podcasters – em 2022 -, mostra que apenas cerca de 23% dos conteúdos produzidos em podcast são feitos por mulheres. Com base nessa realidade, Aline Hack organizou o livro “Feminismos e Podcasts”. Aqui, ela explica a importância de cada vez mais mulheres terem voz essa mídia.

Aline Hack:
As mulheres elas tendem a procurar produções de mulheres: ou com mulheres no microfone ou com convidadas mulheres dentro dos programas. Então, quanto mais mulheres produzindo, mais mulheres escutando nós teremos. É uma relação proporcional, assim.
Sempre que alguém conversa comigo e fala ‘empatia é se colocar no lugar do outro’, mas nem sempre isso é possível, né? E eu acho que o podcast ele tem o seu potencial, ele tem a sua valorização nesse sentido. Alteridade não é apenas se colocar no lugar do outro, mas compreender a realidade social desse outro que nós estamos conversando, que nós estamos ouvindo.
Música: “Fala” (João Ricardo e Luhli), com Luhli
Eu só vou falar na hora de falar
Então eu escuto
La la la la la la la la la
Fala
Walkíria Brit:
Há 6 anos, no Dia Internacional da Mulher, Hack criou o Olhares Podcast. Em tudo o que faz, ela incentiva a representatividade na mídia. Uma das metas que tem é a de ajudar outras mulheres a vencer a síndrome da impostora. De acordo com o Instituto de Psicologia da USP, essa síndrome afeta principalmente mulheres, e é caracterizada por pensamentos que reforçam a perda de confiança em si e a sensação de que o sucesso atingido não foi merecido.
Aline Hack:
Como nós vivemos em uma sociedade machista, as mulheres costumam lidar muito com a síndrome da impostora, elas não acreditam que são capazes de levar suas ideias adiante. Então, neste sentido, é muito importante acreditar em si, porque, se você quer fazer um podcast, você tem necessidade de falar sobre algo. Então, acredite na sua fala, acredite que a sua história é capaz de mudar a história de outras pessoas.
Música: “Respeita” (Ana Cañas)
Por todas nós
Por essa voz
Que só quer paz
Por todo luto, nunca é demais

Aline Hack:
‘Antes feito do que perfeito’. Tem uma questão aqui que é o fato da mulher conciliar o tempo para produzir podcast com várias atividades não remuneradas, né? Ainda hoje, é a mulher que é colocada socialmente para cuidar de criança, cuidar de casa, de pessoas idosas, de família… Então, se for buscar uma perfeição, talvez não consiga colocar essa ideia em prática.
Agora se essa mulher faz, ela começa o podcast, a tendência é só crescer, obviamente. E eu digo isso por experiência própria, as pessoas que eu acompanho, as minhas alunas, todo mundo, sempre é assim. Todo mundo começa com dez ouvintes, vai pra trinta, vai pra cinquenta, quando vê já está com duzentos ouvintes.
E não fique se atendo a podcasts ‘grandões’. Reconheça sua voz, reconheça sua narrativa, seu protagonismo e reconheça que se você estiver fazendo mudança na vida de vinte pessoas, você está fazendo mudança na vida de vinte pessoas. E é muita coisa!

Walkíria Brit:
A podcaster acredita que é preciso que a mulher tenha consciência do poder que tem de sensibilizar outras mulheres.

Aline Hack:
A partir do momento que essas pessoas entendem esse lugar, que é uma construção social, a gente traz muito mais profundidade para uma entrevista, muito mais direcionamento político e propósito, que eu acho que é o mais importante. E eu espero que mais mulheres se agarrem nessas dicas e que a gente consiga ampliar aí o corpo de produtoras para fazer mudança na podosfera.
A gente está aqui só dando exemplos para que você possa construir a sua própria voz, a sua própria história. A fagulha da revolução assim, né?

Música: “Respeita” (Ana Cañas)
Mas a luz não se apaga
Digo que sinto
Ninguém me cala

Aline Hack:
Hoje em dia, a gente tem uma política do não-posicionamento, da isenção, e isso é muito nocivo para pessoas que se baseiam na gente, que se baseiam no nosso conteúdo, né? Porque a gente faz mudança é de um em um mesmo.
Eu gosto de dizer que os conteúdos eles não vão só para a mesa do bar, eles vão para a mesa do jantar, eles vão para a sala de aula, eles vão para os ensinamentos aos filhos, eles vão para todos os lugares, né, eles vão para o ambiente de trabalho. Então quando a gente ouve uma coisa que incomoda a gente, que traz uma mudança, né, que a gente carrega e aquilo ali faz sentido na nossa vida, a gente vai levar esse conteúdo.
É possível você mudar realidades ao seu redor a partir da produção de conteúdo de podcast. Basta você querer.

Walkíria Brit:
Hack acredita que o podcast permite que se compreenda a realidade social da pessoa com a qual estamos conversando.

Aline Hack:
Nós temos aí uma questão de silenciamento histórico de mulheres e de grupos socialmente vulneráveis. Então, esses grupos são sub-representados dentro das mídias e na mídia podcast não seria diferente.
Dentro da mídia podcast ela tem um fator de vocalização que é importante, né, que ela tem a preservação da narrativa. E isso é muito importante para esses grupos.
E a gente está falando aí não só no quesito de comunicação, mas no quesito de história, no quesito de produção de conhecimento, do que é divulgado, a construção das identidades dessas pessoas. Então, o podcast ele se torna uma mídia muito fértil e um ambiente propício para que essas pessoas possam contar as suas próprias histórias a partir das suas próprias narrativas.

Walkíria Brit:
A pesquisadora destaca que o livro organizado por ela foi lançado pela Blimunda, que se diferencia por ser uma editora feminista.

Aline Hack:
Quando a editora passou um prazo para a gente, ela pensou em todas estas situações: trabalho em dupla jornada, mães de necessidades específicas… e isso fez toda a diferença no trabalho final. Algo que também foi muito importante é que a editora fez questão que todos os artigos fossem escritos em primeira pessoa, para dizer ‘olha, sou eu que estou dizendo isto’. E isso é uma perspectiva feminista de escrita. Então, fez toda a diferença no trabalho final.

Walkíria Brit:
Ao organizar o livro ‘Feminismos e Podcasts’, Aline Hack tem o propósito de oferecer estratégias para que mais mulheres tirem seus podcasts da gaveta.
Com produção e roteiro de Marcelo Abud, Walkíria Brit para o podcast de Cidadania do Instituto Claro.

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