Leonardo Valle
Adriana Carolina Hurtado é uma jovem venezuelana de 16 anos que chegou ao Brasil há dois. Para isso, percorreu 1,5 mil quilômetros, da cidade de Maracay até aqui. Ao seu lado na viagem, estava seu irmão mais velho, Camilo, que adoeceu ainda na Venezuela. A garota, na verdade, não existe na vida real, ela é um chatbot – um programa de computador que utiliza inteligência artificial para imitar conversas com usuários. Seu objetivo é sensibilizar adolescentes e adultos sobre a crise migratória e evitar a xenofobia contra venezuelanos no país.
A ação faz parte do Projeto Fronteiras. Por meio do Messenger do Facebook, os usuários podem conversar por pelo menos duas horas com ela, que conta sua biografia por meio de mensagens de texto, áudio, fotos e vídeos. Além disso, ela também tem um perfil no Instagram para mostrar tudo o que registrou no caminho até o Brasil e os desafios que vem enfrentando por aqui.
A iniciativa foi desenvolvida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com a empresa de tecnologia e engajamento digital Talk2U. A história de Adriana, contudo, não é inteiramente ficção, sendo inspirada em entrevistas com migrantes venezuelanos nas cidades de Pacaraima (na fronteira com a Venezuela), Boa Vista e São Paulo.
Também foram realizadas entrevistas com brasileiros nas ruas das três cidades para entender a percepção sobre a chegada dos migrantes, assim como especialistas em estudos sobre fluxos migratórios, xenofobia e discriminação.
A crise migratória que atinge a Venezuela resultou em 4,7 milhões de venezuelanos que deixaram o seu país. No Brasil, já são mais de 220 mil solicitações de refúgio e residência, com estimativa de que 30% delas sejam de crianças e adolescentes.
Além das crianças que chegam com seus pais e familiares, a cada mês, mais de 400 meninos e meninas entram no país desacompanhados. As organizações envolvidas com o tema estimam que o número de venezuelanos no Brasil, até o final de 2020, vai chegar a 344 mil, dos quais 100 mil serão crianças e adolescentes.
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Crédito da imagem: Unicef Brasil