Leonardo Valle
A empresa brasileira de saneamento básico BRK Ambiental lançou, em 4 de janeiro deste ano, a plataforma digital Mulheres e Saneamento, que reúne dados e análises obtidos em um estudo sobre o tema. A iniciativa contou com apoio da Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas e parceria do Instituto Trata Brasil.
A pesquisa investigou o acesso das mulheres brasileiras aos equipamentos de saneamento básico e identificou a existência de déficits. Cerca de 1,6 milhão de brasileiras ainda viviam em moradias sem banheiro de uso exclusivo em 2016. Outras 15 milhões ainda não recebiam água tratada em suas residências, e 12 milhões que tinham acesso à rede geral de distribuição afirmaram que a frequência de entrega era insatisfatória.
Cerca de 26,9 milhões residiam em moradias sem coleta de esgoto. Segundo a entidade, isso significa que uma em cada quatro brasileiras ainda vivia em situação precária do ponto de vista do acesso ao saneamento básico.
Os déficits mais elevados de acesso a esgoto estão entre as mulheres autodeclaradas pardas, indígenas e pretas. Nesses grupos, as taxas de incidência de escoamento sanitário inadequado foram de 24,3%, 33% e 40,9%, respectivamente. Também são as autodeclaradas negras (pardas e pretas) que têm mais dificuldade de acesso à água.
Vulnerabilidade à doenças
Devido ao papel desempenhado pela mulher nas atividades domésticas e nos cuidados com pessoas, a falta de água as afeta de maneira mais intensa. Um relatório das Nações Unidas de 2016 ressaltou o fato de que elas desempenham trabalhos não remunerados (doméstico e de cuidados) três vezes mais do que os homens. Assim, estão em maior contato físico com a água contaminada e com dejetos humanos quando a infraestrutura de saneamento é inadequada. Isso reduz a capacidade de produção delas no mercado de trabalho e as deixam mais vulneráveis a doenças infecciosas como cólera, hepatite e febre tifoide.
A publicação também apontou como a carência de saneamento básico compromete a saúde das brasileiras, aumentando a ocorrência de doenças gastrointestinais infecciosas que, a depender da gravidade, ocasionaram o afastamento das mulheres de suas atividades e até óbitos.
Por fim, o documento reforça que atingir a igualdade de gênero – ou o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 – está intrinsecamente ligado ao nível de universalização do saneamento básico. No Brasil, o cumprimento da meta tiraria 635 mil mulheres da linha da pobreza, a maioria negras.
Veja mais:
Meta de saneamento básico não será atingida até 2030 com tendências atuais, alerta relatório
Glossário explica termos sobre preservação da água e saneamento
Crédito da imagem: reprodução site Mulheres e Saneamento