Um alto número de violações contra jornalistas e comunicadores ocorrido no primeiro semestre de 2020 foi motivado pela publicação de conteúdos da pandemia do novo coronavírus (covid-19). O tema foi responsável por 12,5% dos 160 registros contra liberdade de expressão monitorados pela organização entre 2019 e 2020, no Brasil. Os dados são do relatório “Violações à liberdade de expressão”, da ONG internacional Artigo 19, que compila e analisa ataques a esses profissionais.
Aproximadamente 10% dos casos ocorreram durante coberturas em hospitais e comércios que permaneceram abertos, contrariando decretos municipais e estaduais, assim como as políticas de prevenção contra o vírus. Os dados ainda apontam que 72% dos ataques registrados foram realizados diretamente por membros do Governo Federal, pelo Presidente da República e agentes políticos associados.
Mudança de perfil
O documento é publicado anualmente e também contabiliza casos de homicídios, tentativas de assassinato e ameaças de morte a comunicadores. Nessas categorias, foram registrados 38 casos de graves violações, sendo 27 em 2019 e 11 em 2020. Desse total, são 32 ameaças de morte, quatro tentativas de assassinato e dois homicídios.
Segundo a instituição, os dados são similares à média histórica de 30 casos por ano, indicando que a prevenção desses crimes não avançou no país. As regiões Sudeste e Nordeste reúnem, juntas, a maioria das violações no período analisado.
Houve, ainda, uma mudança de perfil entre os autores dos ataques. Enquanto nos últimos anos, os responsáveis eram majoritariamente políticos eleitos e de âmbito local, em 2019, as violações migraram para o campo da violência digital. Geralmente, realizadas de forma anônima ou por cidadãos comuns.
O relatório está disponível online e tem contribuição da jornalista da Maré (RJ) Gizele Martins, sobre o papel da comunicação comunitária e popular no combate à desinformação.
Com Artigo 19
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