A evasão escolar era um fator preocupante nas escolas públicas de Contagem (MG), principalmente nos 7º, 8º e 9º anos. Contra o problema, a prefeitura desenvolveu o projeto Articulação Comunitária, no qual os professores – chamados agora de “articuladores” – passaram a visitar a casa dos alunos faltantes.
Além disso, a escola aliou forças com outras duas redes: a primeira formada pelo conselho tutelar e lideranças de bairro e a segunda pelas secretarias municipais de Educação, Defesa Social, Direitos Humanos, Saúde e Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Betim).  O resultado é que o rendimento dos alunos melhorou sensivelmente desde o início do programa, em agosto de 2015. “A evasão escolar reduziu 92% e a indisciplina 86%. Além disso, as notas aumentaram 64%”, comemora a coordenadora do programa, Márcia Ramalho.

Realidade desconhecida

Durante as visitas, os articuladores encontraram situações que a escola desconhecia, como pobreza extrema, famílias envolvidas com o tráfico de drogas, trabalho infantil, crianças em situação de abandono e abuso sexual. Circunstâncias, claro, que influenciavam na evasão escolar. “Os casos chegam através do conselho de professores, por meio da observação de estudantes que ficam muito tempo fora da sala ou que adoecem com frequência”, relata a professora Ângela Maria Campos, articuladora da Escola Municipal Dona Cordelina Silveira Mattos.
Articulador visita a dona de casa Kênia e seu filho Atanael (Crédito Jhonatan Otero/Seduc)
O primeiro contato com a família, contudo, exige sensibilidade e cuidado por parte de cada articulador. “É necessário um olhar humano para extrair a necessidade real, pois às vezes as pessoas estão pedindo socorro. A parte da escuta é importante para que possamos elaborar estratégias e dar o devido encaminhamento ao problema apresentado pelas famílias. Com isso, elas conseguem ter esperança”, pontua.

Divisão de responsabilidades

De acordo com o problema apresentado pela família visitada, outros setores da rede de apoio são acionados para dar suporte. Foi o que aconteceu com a Cláudia Darc da Silva, mãe da aluna Leandra, de 11 anos. A morte de seu marido e a mudança para outra casa influenciaram na frequência escolar da menina. “Eu estava desanimada e minha filha já estava dependente desta minha condição. Ficávamos deitadas o dia inteiro. A articuladora me encaminhou para tratamento no Centro de Atenção Psicossocial. Hoje estou melhor”, relata Cláudia.
O contato mais próximo entre família e professor também ajuda na identificação de problemas que poderiam passar despercebidos. “Às vezes, falar de determinadas coisas na secretaria da escola me deixava constrangida, porque sempre tinha outras pessoas por perto. As visitas são boas por isso”, salienta a dona de casa Kênia Sheila Cardoso Macedo, 33, mãe de Atanael (12) e Geovanna (7).
A professora Ângela com a mãe Cláudia Darc da Silva (Crédito Elias Ramos/PMC)
Atualmente, o projeto engloba 64 escolas de Contagem. Para a professora Ângela, o projeto ajuda solucionar problemas que a escola pública não teria condições de resolver sozinha. “Por isso, é importante essa articulação em rede, organizando o fluxo de atendimento e responsabilidades”, defende.

Segundo ainda Ângela, a aproximação entre família e professores também refletiu positivamente nas demais atividades escolares. “Quase ninguém da comunidade participou da festa junina de 2015. Em 2016, a escola ficou lotada. Acredito que a comunidade está olhando a escola com outros olhos”, opina.

Veja mais:
Gestão democrática é saída para evasão escolar na EJA
Como envolver os pais na escola?
Como transformar o PPP em um ambiente vivo? 

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