Jogo e desenho que é febre entre crianças e adolescentes desde os anos 1990 e vem sendo reeditado, Pokémon se refere a “pocket monsters” (do inglês, “monstros de bolso”). Os famosos personagens são baseados em seres mitológicos, objetos e também em espécies de animais e plantas – motivo pelo qual os monstrinhos podem ajudar a ilustrar conteúdos de biologia e ciências na escola.

“Os Pokémon são ovíparos, isto é, possuem desenvolvimento dentro de um ovo em ambiente externo sem ligação com o corpo da mãe. No mundo natural, este é o método de reprodução da maioria dos peixes, anfíbios, répteis, insetos e todas as aves”, explica o professor do Laboratório de Genética Marinha e Evolução da Universidade Federal Fluminense (UFF) Edson Pereira da Silva.“A maioria dos Pokémon possui capacidade de evoluir, característica inspirada na metamorfose dos insetos e no evolucionismo de Charles Darwin (1809-1882)”, acrescenta.

Leia também: Níquel Náusea: tirinha brasileira pode ser usada no ensino de biologia

Identificando peixes

Os peixes constituem o maior grupo de vertebrados atualmente, com mais de 32 mil espécies descritas entre peixes e dulçaquícolas — que vivem em água doce. “Os criadores dos jogos não se voltaram apenas à morfologia para criar seus monstros, mas também à ecologia e à etologia [estudo do comportamento animal]”, analisa Silva. Em seus trabalhos foram identificados uma diversidade de ‘peixes’ do universo Pokémon de 32 espécies, agrupadas em duas superclasses, três classes, 17 ordens, 20 famílias e 20 gêneros.

“Assim, pode ser uma ferramenta didática lúdica e motivacional para o ensino de conteúdos e temas em ecologia, meio ambiente, biodiversidade, conservação, evolução, entre outros”, lista o professor. Ele e o doutorando em Biologia Animal da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Augusto Barros Mendes são autores do artigo “Diversidade ictiológica em Pokémon: a mídia como uma possível ferramenta educacional”.No trabalho, é possível encontrar uma tabela com os nomes, imagens e classificação taxonômica dos “Pokémon peixes” que pode ser aplicada em sala de aula.

Silva e Mendes elaboraram uma atividade utilizando cartas de Pokémon com alunos do ensino fundamental de uma escola pública do Rio de Janeiro. Os alunos foram divididos em grupos e desafiados a encontrar traços das criaturas fictícias que pudessem caracterizá-los como Elasmobranchii — grupo taxonômico dos tubarões e raias. “Os resultados mostraram que a atividade foi bem sucedida e que os estudantes conseguiram identificar tais características nos personagens”, conclui Silva.

Diferenças na evolução

Nas franquias Pokémon, os monstrinhos evoluem em uma referência ao mundo natural. Entretanto, tal evolução reflete pouco do fenômeno biológico. “Em Pokémon, a evolução ocorre, na maioria das vezes, quando o monstro atinge um determinado nível. A evolução, nesse caso, é de caráter individual e significa tornar-se melhor”, explica Silva.

“A teoria evolutiva darwinista, ao contrário, descreve a evolução como um fenômeno populacional, no qual a variação entre indivíduos de uma mesma população pode tornar-se variação entre diferentes populações e espécies ao longo do tempo e do espaço”, diferencia.

“Contudo, caracterizar o processo de evolução em Pokémon serve para fornecer bases comparativas com a evolução que se dá na natureza, servindo para discussão do fenômeno evolutivo e popularização da teoria evolutiva em diferentes fóruns, principalmente aqueles relacionados a crianças e jovens”, defende. Para usar os personagens em aula, Silva, recomenda uma comparação crítica. “Marque aquilo que é semelhante e, mais importante, o que é diferente entre teoria e ficção”, completa.

Veja mais:

Plano de aula – Origem das espécies: Reflexões sobre as diferentes teorias relacionadas com a evolução das espécies.

Plano de aula – A Evolução das Espécies

Biologia evolutiva é abordada em livro online e gratuito

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