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O estudo da biologia normalmente é apresentado de forma fragmentada. Dividido em áreas como botânica, zoologia, citologia e genética. Assim, a visão evolutiva costuma aparecer apenas no último ano do ensino médio. “Quando a gente começa a observar nossa resposta imunológica, nosso sistema nervoso, fica muito mais interessante do que simplesmente descrever partes do sistema nervoso, as células do sistema imunológico. Então, a nossa obra tem como objetivo levar mais um instrumento de como abordar a biologia de maneira contextualizada dentro da ótica evolutiva”, afirma um dos organizadores do livro “Ensino de Biologia: Uma perspectiva evolutiva”. De acordo com o doutor em genética e biologia molecular pelo Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Gilberto Cavalheiro Vieira, ouvido pelo Instituto Claro neste podcast, a biologia evolutiva permite combater informações falsas de correntes negacionistas e pseudocientíficas que se multiplicam nas mídias sociais.

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“A área da biologia evolutiva já trava há mais de uma centena de anos uma discussão forte com o negacionismo, criacionismo, neocriacionismo; linhas ideológicas pseudocientíficas que negam até os processos evolutivos em casos mais extremos. O estudo da biologia evolutiva traz todo o contexto histórico, nos ensina a pensar de maneira metodológica, (…) nos traz essa capacidade de ver o mundo de uma maneira crítica-científica”.

capa dos livros Ensino de Biologoa - Uma perspectiva evolutiva
Capas dos livros Ensino de Biologia – Uma perspectiva evolutiva (crédito: reprodução)

O material fornece subsídios para que se entenda porque vacinas funcionam, porque o aquecimento global pode ser irreversível para a vida na Terra e de que forma a degradação do meio ambiente pode estar associada ao surgimento de uma pandemia. A obra coletiva, divida em dois volumes, envolve cerca de 20 pesquisadores das mais diversas áreas das ciências biológicas e é fruto de estudos de pós-graduação no projeto “Curso de Biologia Evolutiva na UFRGS”, voltado desde a sua concepção à formação continuada de professores de educação básica e biólogos.

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“Dentro do contexto da pandemia existem capítulos que falam sobre a evolução dos vírus, por exemplo, e, inevitavelmente, o cenário atual acabou influenciando a explicação de como essas novas variantes surgem; como um novo vírus surge; como uma pandemia pode vir a surgir a partir da questão de biodiversidade, na destruição de matas, florestas, desequilíbrios ecológicos”, resume Gilberto Cavalheiro Vieira. No áudio, além da entrevista com o biólogo, você acompanha trechos da obra na voz da locutora Walkíria Brit.

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Transcrição do Áudio

Música: “The Bucket List, de Quincas Moreira, de fundo

Gilberto Vieira:
Desde 2003 já havia artigos científicos alertando para uma futura pandemia se as coisas continuassem da forma como estavam, com devastação de florestas, destruição de ambientes, de habitats, de exploração de animais selvagens… A gente estaria em contato cada vez mais íntimo com microrganismos. Isso eleva enormemente as chances de uma nova doença aparecer.
Olá, eu sou Gilberto Cavalheiro Vieira, biólogo, professor, mestre e doutor em genética e biologia molecular pelo Departamento de Genética da UFRGS.

Vinheta: “Livro Aberto – Obras e autores que fazem história”

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud
Como funciona um vírus? Qual a relação entre a degradação ambiental e o surgimento de novas doenças? Uma visão integrada da Biologia permite que se entendam temas com os quais estamos convivendo no nosso dia a dia.
Para auxiliar professores e professoras a trabalhar a disciplina pelo viés da evolução está disponível, para ser baixado gratuitamente, o livro “Ensino de Biologia: Uma perspectiva evolutiva”.
A obra tem como organizadores Leonardo Augusto Luvison Araújo e Gilberto Cavalheiro Vieira.

Gilberto Cavalheiro Vieira:
A área da biologia evolutiva, ela já trava há mais de uma centena de anos uma discussão forte com o negacionismo, criacionismo, neocriacionismo; linhas ideológicas, pseudocientíficas, que negam até os processos evolutivos em casos mais extremos. O estudo da biologia evolutiva traz todo o contexto histórico, nos ensina a pensar de maneira metodológica, a analisar os fatos de maneira científica, e trazer, então, questionamentos que não apelem a argumentos falaciosos na busca, por exemplo, de um remédio mágico que traga a cura imediata. Então a biologia evolutiva, pela forma como ela é estruturada, nos traz essa capacidade de ver o mundo de uma maneira crítica-científica.

Marcelo Abud:
O livro tem como objetivo oferecer a professores motivação para tratar a Biologia por esse olhar evolutivo.

Gilberto Cavalheiro Vieira:
Quando a gente estuda na escola, a gente acaba observando ela como se fosse fragmentada: temos uma área que é a botânica; outra área que é a zoologia; outra é a citologia; a genética; e um conteúdo lá que aparece no final do último ano de formação, que é a evolução. Justamente a evolução ela traz essa capacidade de unificação. Quando a gente começa a observar nossa resposta imunológica, nosso sistema nervoso, e a gente começa a observar como se deu a evolução desses processos, fica muito mais atrativo, fica muito mais interessante do que simplesmente ficar descrevendo partes do sistema nervoso, as células do sistema imunológico. Então a nossa obra tem como objetivo levar mais um instrumento de como abordar a biologia de maneira contextualizada dentro da ótica evolutiva.

Música: “Imunizado” (Luca Frazão), com “Os Amanticidas”
Ah, a esperança tá na ponta dessa agulha
Já quero escutar o anúncio da nossa folia

Gilberto Cavalheiro Vieira:
São mais de vinte autores que compõem essa obra. Dentro do contexto da pandemia existe, sim, capítulos que falam sobre a evolução dos vírus, por exemplo, e, inevitavelmente, o cenário atual acabou influenciando a explicação de como essas novas variantes surgem; como um novo vírus surge; como uma pandemia pode vir a surgir a partir da questão de biodiversidade, na destruição de matas, florestas, desequilíbrios ecológicos. Tudo isso é abordado nesses capítulos, dentro, também, de uma ótica evolutiva. Porque no momento em que a gente observa um vírus passando de um organismo pra outro, a gente está observando, ao vivo e a cores, um evento evolutivo.

Som de página de livro sendo virada

Walkíria Brit:
É fácil imaginar um leitor deste livro se perguntando: o que a evolução tem a ver com o coronavírus? A resposta é: quase tudo. Quando uma variante viral se torna capaz de infectar uma nova espécie, estabelecendo infecções efetivas e se disseminando entre indivíduos desta nova espécie, chamamos o processo de salto entre espécies.

Som de página de livro sendo virada

Gilberto Cavalheiro Vieira:
O livro, na verdade, é divido em dois volumes: o primeiro volume, ele fala da interdisciplinaridade, da evolução e – nesse primeiro volume – eu destacaria que alguns assuntos interessantes, como a evolução humana; é uma reflexão sobre a gente ter que evitar o antropocentrismo, algo que é muito comum ser visto em sala de aula, a nossa espécie como o ápice evolutivo; questões interdisciplinares envolvendo o ensino da área da saúde, nesse contexto também; além de algo que é muito novo, muito recente na área da biologia, que é justamente uma visão diferenciada dos sistemas de hereditariedade e de herança – DNA é uma dessas heranças que existem na biologia -, e a gente tem ainda as heranças epigenéticas, nós temos heranças culturais, de comportamento. Tudo isso a gente acaba abordando nos capítulos desse primeiro volume.
No segundo volume a gente vai abordar já uma relação de biodiversidade, de observar as diferentes formas de vida e eu destacaria aqui o capítulo que especialmente fala do desconhecido reino dos fungos. É um capítulo muito lindo, que vem abordar as importâncias ecológicas de biodiversidade e dentro de um contexto evolutivo desse grupo que é tão pouco estudado, tão pouco trabalhado em sala de aula.

Música: “O Rio” (Marisa Monte, Seu Jorge, Arnaldo Antunes & Carlinhos Brown), com Marisa Monte
Lembra, meu filho, passou, passará
Essa certeza, a ciência nos dá
Que vai chover quando o sol se cansar
Para que flores não faltem

Gilberto Cavalheiro Vieira:
Não poderia deixar de destacar, também, nesse segundo volume que fala de biodiversidade, o capítulo com título de vírus; os autores desse capítulo buscaram discutir aspectos evolutivos ecológicos dos vírus relacionados à saúde humana, doenças virais, mas também trazendo a ótica de que os vírus estão aí e muitos desses vírus eles são motores evolutivos. Eles são extremamente importantes pra o resultado de surgimento de novas espécies, de capacidades adaptativas. Então eles também são personagens que acabam fazendo parte da história da vida no nosso planeta.

Som de página de livro sendo virada
Walkíria Brit:
Você já imaginou viver em um planeta dominado por vírus? Certamente o ano de 2020 transformou a maneira como você responderia a esta questão. Contudo, não estamos nos referindo a esse momento marcante da história, no qual o mundo inteiro parou em função de uma pandemia causada por um tipo específico de vírus. Estamos falando de milhares de espécies distintas de vírus que, aparentemente, habitam e dominam o planeta há bilhões de anos. Devido a sua abundância e ampla distribuição, as partículas virais presentes na Terra não nos permitem outra interpretação da realidade a não ser a de que vivemos em um Mundo dos Vírus. Não é preciso entrar em pânico. Grande parte desses vírus sequer entra em contato com seres humanos e, ainda que o faça, não reconhece nossa espécie como hospedeira.

Som de página de livro sendo virada
Marcelo Abud:
Gilberto Carvalho Vieira dá um exemplo de como a biologia evolutiva pode desconstruir a ideia de teorias conspiratórias.

Gilberto Cavalheiro Vieira:
O assunto que o Sarscov-2 (coronavírus) foi fabricado em laboratório, quando a gente analisa com calma as informações, as pesquisas, vê que ocorreu um processo natural, que é o vírus pular de uma espécie pra outra; quando a gente analisa a origem de um vírus, a gente está usando o pensamento evolutivo, pra reconstruir o contexto histórico de onde ele vem, mutações acumuladas, de que maneira ocorreram; e parte daí como a biologia evolutiva ela é importante pra gente entender esses fenômenos que a gente está vivenciando atualmente.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
O link para acessar os dois volumes do livro “Ensino de Biologia: Uma perspectiva evolutiva” está no texto que acompanha este áudio.
Com apoio de produção de Daniel Grecco e locução de Walkíria Brit, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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