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Os últimos dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostrou que o Brasil se manteve nas últimas posições do ranking. Entre as 72 nações, o país ficou na 66ª colocação em matemática, 63ª posição em ciências e 59ª em leitura. Mas o que os educadores e gestores públicos podem fazer? Segundo o gerente de projetos do Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho, o Pisa deve ser utilizado para além do ranking e da analise superficial de qual país está melhor ou pior. “O mais importante é entender o que os países que vêm obtendo avanços estão fazendo em comum”, orienta.
Boas práticas
Em comum, os países com bons desempenhos valorizaram a profissão docente, com formação e plano de carreira, direcionaram recursos para crianças com nível socioeconômico baixo e inseririam os alunos em pré-escolas de alta qualidade. “Estamos aquém desses três itens. Ainda que haja avanços na universalização da pré-escola, de 66%, em 2001, para 89%, em 2014, a qualidade ainda não é uma realidade nacional”, pontua.
Tais países também ajudaram as escolas a estabelecer uma cultura de melhoria constante e adotaram expectativas de aprendizagem, o que corresponde ao currículo. “No primeiro caso, o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], contribui para dar foco à gestão da aprendizagem ao elencar metas de melhoria por escola. Mas se os dados das avaliações não resultarem em reflexão pedagógica e melhoraria nas práticas em sala de aula, seu alcance é limitado”, contrapõe Olavo. Já em relação ao currículo, o Brasil avança com a Base Nacional Comum Curricular. “Como alguns estados e municípios não têm currículo, a expectativa é que a BNCC contribua positivamente”, completa.
Pisa não é consenso
O ranking do Pisa, contudo, deve ser analisado com cautela. “Os países possuem realidades diferentes. Somos um país grande, federalista, com mais de cinco mil redes municipais. É um contexto diferente, por exemplo, de Singapura, que é pequeno”, assinala a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Itaú Social, Patrícia Mota Guedes.
A própria ideia de que o Pisa representa um padrão internacional de qualidade é questionada. “O exame abrange apenas três disciplinas e não discute o que considera uma boa educação. Apenas fala de aumento ou diminuição de médias. Isso é pouco para caracterizar ‘qualidade’”, reforça o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Carlos de Freitas.
“Além disso, o Pisa deixa de lado objetivos menos mensuráveis, como o desenvolvimento artístico e físico. Também, faz com que as escolas se preocupem somente com o que cai nos exames. Isso cria a ilusão de que médias mais altas em testes de poucas disciplinas são sinônimos de boa educação”, decreta.
Equidade social
Para Patrícia, o Pisa é positivo ao permitir um pais mensurar sua evolução em relação a si próprio. Nesse aspecto, o Brasil tem o que comemorar. “Elevemos em 15% o número de alunos inseridos na escola. Teoricamente, o impacto poderia ser negativo, mas nos mantivemos estagnados. Além disso, houve melhoras em relação às notas e o nível socioeconômico dos alunos”, destaca.
Os institutos federais também apresentaram desempenho similar ao da Coréia do Sul. “Mas essas escolas atendem uma minoria de alunos e os jovens são selecionados. Nosso desafio é melhorar a qualidade em larga escala”, pontua.
Por fim, mesmo tendo caído em matemática, o Brasil ainda acumula 20 pontos positivos com o crescimento dos anos anteriores. “Contrariamente, os Estados Unidos perderam 13 pontos e a Austrália 30 desde que o Pisa começou”, contrapõe Freitas. Para Filho, a boa notícia do Pisa 2015 são os bons resultados de países com PIB per capita próximos ao do Brasil (como Cazaquistão, Rússia, Argentina e Colômbia).
“O Vietnã, que tem um PIB per capita menor que o nosso, 100 milhões de habitantes e um histórico de pobreza, está entre os 20 melhores. Isso sinaliza que é possível fazermos melhor e reverter esse cenário em um curto prazo”, acredita.