O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) acaba de divulgar os números da segunda edição da pesquisa TIC Educação. O estudo mediu o uso das TIC (tecnologias de informação e comunicação) em 650 escolas, das quais 497 públicas e 153 particulares, de todo o Brasil.
Um dos dados mais importantes da pesquisa é que as atividades identificadas como mais frequentes nas salas de aulas são aquelas em que professores usam menos os recursos tecnológicos. “A gente percebe que quanto maior é a frequência da atividade, menor é a utilização do computador e internet. O que pode estar gerando isso? Quais as barreiras?”, questiona Juliano Cappi, coordenador de pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), a divisão de pesquisa do CGI.
A pesquisa mostra, por exemplo, que 55% dos docentes e 51% dos coordenadores pedagógicos das escolas públicas acreditam que o número de equipamentos por aluno limita o uso do computador e internet na escola. Outra barreira mencionada pelos docentes é a baixa velocidade na conexão: 52% deles declaram que este fator atrapalha muito o uso adequado das TIC no processo pedagógico.
Mesmo com dificuldades, o uso de internet pelos estudantes já é uma realidade: 82% fazem suas pesquisas para a escola por meio da rede.
“A escola tem um papel muito importante pra integrar as pessoas no uso da tecnologia. Uma vez que a internet já faz parte da vida social, é importante que a escola discuta a importância desse uso”, completa Cappi.
Metodologia e resultados
O Cetic-br utilizou uma metodologia que está sendo adotada em vários países, inclusive com um piloto sendo feito pela Unesco. Ela foi adaptada para a realidade brasileira. A seleção da amostragem foi feita com base em dados do INEP, Instituto que faz os levantamentos de dados oficiais da educação no Brasil. O Ministério da Educação apoiou o projeto, que teve também a participação de diversos especialistas, de áreas variadas, na sua formulação.
Sobre os resultados, o coordenador da pesquisa destaca que a expectativa é que esses dados sejam discutidos e colocados em pauta na discussão de políticas públicas, com a incorporação dessas ferramentas na educação. “Existe um desafio que é saber como usar a internet e como ela pode contribuir. Isso passa necessariamente pela educação”.
Conheça os principais pontos da pesquisa:
Escolas públicas
• Exercícios para prática do conteúdo exposto em sala de aula é a atividade promovida pelos professores com maior frequência: 77% a realizam todos os dias. Porém, é uma das situações em que eles menos utilizam as TIC: apenas 21%.
• 65% dos docentes usam novas tecnologias para ensinar os alunos a usar o computador e a internet, mas essa é a atividade menos frequente em sala de aula.
• Aulas expositivas e a interpretação de texto também têm baixos percentuais de uso das TIC: 24% e 16% respectivamente.
• 86% das escolas têm computadores somente nos laboratórios de informática e não nas salas de aula, o que pode limitar a integração das TIC no processo pedagógico.
• O laboratório de informática é o principal e mais frequente local de realização das atividades envolvendo o uso de computador e internet.
Escolas particulares
• De forma geral, avaliando as diversas variáveis da pesquisa, o uso de computador e internet é maior entre professores de escolas particulares.
• Nas aulas expositivas, 36% dos docentes utilizam as TIC. Em interpretação de texto, a diferença é de 10 pontos percentuais entre escolas privadas e públicas, com 26% e 16% respectivamente.
• Nas escolas particulares, o laboratório de informática também é o principal e mais frequente local de realização das atividades.• Aproximadamente metade dos professores – 48% – utilizam computador e Internet no laboratório de informática, sendo este o local mais frequente para realização das atividades com os alunos para 34% dos educadores.
• Os dados indicam ainda que 21% das escolas particulares possuem computadores instalados em sala de aula, proporção cinco vezes maior que os 4% das escolas públicas.
Veja a pequisa completa aqui.
O cenário na prática
Como a pesquisa busca retratar um cenário de maneira homogênea, não há como enxergar diferenças entre as regiões do país, por exemplo. “Imagina-se que as condições e o material que o professor tem para trabalhar são bem diversos em cada região, então o resultado acaba mascarando algumas situações, talvez porque a amostragem é pequena. Se pensarmos, por exemplo, que só no estado de São Paulo são cerca de 300 mil professores, é um universo muito variado”, avalia o professor universitário Robinson N. dos Santos, mestre em educação e jornalista especializado em TI.
“Uma comparação interessante é que o professor tem o hábito de utilizar internet em casa, mas não consegue utilizar esse recurso com a mesma intensidade para ensinar. É muito importante educar sobre como usar esse meio, é importante uma mediação, uma orientação para esse aluno que já usa a internet para fazer pesquisas. O estudo joga uma luz nessa constatação”, diz o professor.
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