O bullying homofóbico, manifestado em xingamento entre os alunos, era uma constante na Escola Estadual Professor Joaquim Luiz de Brito, na zona norte de São Paulo (SP), em 2013. Foi quando o docente de filosofia Fábio de Lima e outros educadores decidiram realizar um festival para tratar dessa e demais formas de discriminações. Partindo da premissa que o preconceito pode começar e terminar na escola, eles criaram o Brito Sem Homofobia, que em 2019 chega à sua sétima edição.
“O objetivo é discutir diversidade, gênero e orientação sexual visando expandir o senso crítico e o exercício da cidadania, assim como promover o diálogo e a alteridade. Ensinar que viver em sociedade necessita de respeito mútuo, independente de cor da pele, sexo, idade, condição econômica, religião ou orientação sexual”, justifica.
Durante aproximadamente quatro dias, em outubro, professores, estudantes e outros membros da comunidade escolar participam de oficinas sobre preconceito de gênero, racismo, psicologia, diversidade religiosa, sessão de cinema e meditação. Além disso, os alunos se mobilizam em apresentações artísticas de música, teatro e poesia. Os preparativos começam um mês antes, com eles sendo divididos em equipes.
Mudança de cultura
“Em 2013, o primeiro passo antes de começarmos as conversas foi apresentar o filme ‘Orações para Bobby’ (2009), sobre a trajetória de uma mãe religiosa para entender o filho que se suicida por não ter sua homossexualidade aceita pela família. Percebemos um efeito muito positivo entre os alunos, que se sensibilizaram”, explica o professor.
Os temas são discutidos em aulas e os grupos de estudantes ajudam na organização do evento, produzindo cartazes, crachás e contatando palestrantes. “No último ano, um jovem que toca instrumentos musicais e gosta de MPB ministrou uma palestra sobre preconceitos na ditadura. Outro, fã de RPG, realizou uma oficina”, conta Lima.
Outra atividade realizada pelas turmas e o professor de filosofia é a roleta das virtudes. “Ela apresenta qualidades como justiça, honestidade, coragem, ética aristotélica, entre outras. O aluno recebe um cartão com informações sobre a que ele tirou e uma fita com sua cor, para não esquecer de exercê-la no dia a dia”, ensina.
As mudanças são sentidas ao longo dos anos. “Passamos a perceber que os próprios estudantes chamam a atenção do outro quando há falta de respeito ou uma piada”, conta o ex-aluno do ensino médio da instituição e participante do projeto nas edições de 2016 e 2018, Thiago Bassani. “Como chegam pessoas novas todos os anos, os antigos vão repassando as informações”, acrescenta.
Abertura para o diálogo
Segundo Lima, um grande desafio é mobilizar todos os professores. “Muitos não participam. Não porque são contra o tema, mas porque falta uma cultura de aprendizagem por projetos. Por falta de recursos e tempo, muitos docentes não apoiam propostas que não sejam a aula tradicional”, analisa.
Em 2018, o contexto de polarização política também foi desafiador. “Os ânimos estavam acirrados. Felizmente, a grande maioria dos alunos estava aberta ao diálogo”, garante.
Para professores que desejam realizar atividades parecidas, Lima diz que um estímulo é lembrar que todo preconceito pode ser descondicionado. “Muitos estudantes não se dão conta de que estão sendo preconceituosos. Apenas reproduzem aquilo que aprenderam”, explica. “Não há fundamento racional para esse sentimento hostil, que passa pela emoção. Por isso, a importância de atividades que restabeleçam os afetos, novos valores – e até a meditação – para uma cultura de paz”, enfatiza.
Em 2019, a escola também prepara um ato para o dia Internacional Contra a Homofobia, em 17 de maio. “Na primeira aula, haverá uma fala sobre preconceito e os alunos apresentarão poesias e outras manifestações artísticas”, revela o professor.
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Crédito das imagens: arquivo pessoal