A perspectiva da retomada das aulas após a pandemia de covid-19 pode ser uma oportunidade de repensar mudanças na educação pública para uma aprendizagem de qualidade e inclusiva. É a partir desse pensamento que o Centro de Referências em Educação Integral fez o lançamento online, na última sexta-feira (27/11), da Campanha #Reviravolta da Escola.

O evento digital contou com a mesa redonda “Qual o papel da escola neste contexto?”. “O objetivo é ir além de uma reflexão catastrófica ou radical da retomada das aulas, mas pensar propostas. O nome ‘reviravolta’ é porque não basta voltar, mas revisar a escola”, justifica a diretora da Fundação SM e mediadora do encontro, Pilar Lacerda.

Lançamento online da campanha (crédito: reprodução)

“A pandemia mostrou como a sociedade brasileira é injusta e afeta os mais pobres, impactando na sua educação. Não podemos voltar para um mesmo contexto”, ressalta. O primeiro ponto defendido pelo movimento é a necessidade da reabertura das escolas ainda na pandemia, como aponta a diretora-presidente da Comunidade Educativa Cedac, Tereza Perez.

Retomada e proteção

“A escola tem um papel central na proteção social do aluno. Sabemos de violência doméstica, da falta de alimentos e de abuso de diferentes ordens sofridos pelos alunos. Nesse sentido, a escola é um serviço essencial, agregadora e território de afeto”, acrescenta Perez.

“Muitos pais voltaram a trabalhar e onde estão essas crianças? Em algumas situações, a retomada das aulas pode ser mais segura do ponto vista de garantia à vida”, opina a vice-presidente da Ashoka para América Latina, Helena Singer. Para o movimento, a retomada necessitaria da criação de uma rede de apoio envolvendo comunidade escolar, profissionais da saúde e da assistência social.

“É preciso reconhecer desigualdade não só entre regiões do país, estados, municípios ou bairros, mas dentro da mesma escola. Assim, a retomada deve ser pensada por cada escola com suas comunidades. Reconhecer quem pode voltar, quando e como”, recomenda Perez.

Quebrando muros

O retorno, porém, deve ser pensado além dos protocolos sanitários e com foco em novas possibilidades pedagógicas. Como o uso de espaços alternativos de aprendizagem. “É perigoso pensar em uma retomada com 40 crianças em uma sala pequena? Claro! Mas é possível explorar o entorno ou repensar espaços internos, derrubando paredes, por exemplo. Algo que pode ser positivo do ponto de vista pedagógico e também do protocolo sanitário”, exemplifica a Secretária de Educação da Estância Turística de Tremembé (SP), Cristiana Berthoud.

“Uma escola com alunos distanciados entre si e dos professores pode fazer sentido de um ponto de vista burocrático, mas não pedagógico”, lembra Perez. Para isso, o movimento incentiva uma abertura do diálogo com a família e com a comunidade escolar. “A educação que queremos é integral, logo, a escola não pode estar sozinha nessa jornada. Deve ser uma escola sem muros”, afirma Berthoud.

Aprendizados da pandemia

Teria sido 2020 um ano perdido? A campanha acredita que não e defende que é possível levar para a reabertura os diferentes aprendizados da pandemia. “Vimos a flexibilidade do professor em aprender novas tecnologias e recursos. Com apoio, ele consegue trabalhar. Na nossa rede, reuniões online do corpo docente conseguiram reunir mais gente que as presenciais, com educadores mais velhos compartilhando suas experiências e os novatos trazendo frescor”, ressalta Berthoud.

“Aquelas com vínculos com suas comunidades tiveram mais condições de enfrentar a pandemia, porque já reconheciam as desigualdades nos seus públicos e não lidavam com a perspectiva de uma aprendizagem padronizada”, lembra. “São instituições com princípios democráticos, inclusivos, de educação integral e que acreditavam na capacidade dos estudantes em transformar seus entornos. Que fortaleceram empatia e sensibilidade”, acrescenta Singer.

Veja mais:

Guia reúne experiências internacionais e recomendações para volta às aulas pós-pandemia

Educação na pandemia: qual o melhor momento para a volta às aulas?

Educadores e pesquisadores compartilham visão da crise do ensino na pandemia

Trabalho docente no isolamento: professores compartilham experiências

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Talvez Você Também Goste

Emenda do Fundeb ameaça reajuste salarial dos professores

Segundo especialista, mudança no texto pode afetar recursos para pagamento de pessoal na educação

Obra de Tomie Ohtake ajuda a trabalhar arte abstrata na educação básica

A partir do acervo e da trajetória da artista é possível explorar o processo criativo, o papel social da mulher e a imigração

Como adaptar jogos eletrônicos para a educação física?

Labirinto com cones simulando Pac-Man é uma das opções para escolas com poucos recursos

Receba NossasNovidades

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.