O K-pop é um gênero musical originário da Coreia do Sul que combina diferentes estilos sonoros, coreografias, moda e cultura pop. Consumido por estudantes dos ensinos fundamental e médio, ele pode ser trazido na educação física dentro do conteúdo de danças, ajudando a desenvolver expressão e criatividade e a discutir temas variados com os estudantes, entre eles a diversidade.

Segundo o educador físico e professor da licenciatura em dança da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) Giuliano Souza Andreoli, o K-pop ajuda a valorizar práticas corporais que já estão na comunidade escolar e a fazer frente a um modelo de educação física centrado em esportes.

“Nas aulas, os alunos não devem apenas dançar ou falar sobre seus artistas favoritos, mas recriar essas práticas e discutir questões sociais, políticas, econômicas e culturais relacionadas a elas”, enfatiza.

“Nesse sentido, o K-pop é um excelente tema para abordar a indústria cultural, hibridismo cultural, identidades juvenis, questões de diversidade de gênero, homofobia e xenofobia” lista o professor, que é autor de artigo sobre o tema.

Homofobia na escola

Professor da rede municipal de São Paulo (SP), doutorando em educação e membro do Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da Universidade de São Paulo (GPEF-USP), Marcos Ribeiro Neves viu no K-pop a oportunidade de trabalhar respeito à diversidade.

Ele, que desconhecia o gênero, percebeu, por meio de camisetas, cadernos e músicas que tocavam no intervalo, que estudantes da EMEF Anna Silveira Pedreira eram fãs de bandas como BTS e Black Pink. Ao abordar o tema com uma classe de 6º ano, porém, viu eclodir discursos homofóbicos entre os alunos.

“As armys (fãs na banda BTS) compartilharam saberes sobre a dança coreana, quando um garoto atirou ao chão a caneca estilizada de uma delas dizendo que aquilo era coisa de gay. Percebi que não poderia deixar essa situação passar e que o tema seria importante”, revela Neves.

“Em aulas de dança, questões de gênero já tendem a aparecer devido aos modelos de masculinidade hegemônicos que reforçam que meninos não dançam ou que, se o fazem, são menos homens”, afirma Andreoli.

“Porém, no caso do K-pop, isso é agravado pelo estilo gerar forte identificação entre jovens LGBTQIAPN+ no mundo”, complementa.

O gênero ainda pode ajudar a discutir xenofobia, como aponta Andreoli. “Por ser um produto transcultural, ele desafia a tendência de reduzir grupos sociais discriminados a estereótipos limitantes. Ao ver coreanos se destacando em performances, esses estereótipos são quebrados, assim como os padrões de beleza eurocêntricos”, completa.

Sequência didática

Segundo Andreoli, os professores de educação física podem iniciar mapeando os conhecimentos que os alunos possuem do tema, apresentando informações geográficas e culturais da Coreia e discutindo as influências que originaram esse estilo de dança e seus vídeos, como hip-hop e a indústria cultural estadunidense.

“Depois, pode-se desenvolver dinâmicas de criação de coreografias, dando protagonismo aos alunos”, aconselha.

Neves iniciou a sua sequência didática com o 6º ano analisando vídeos de K-pop com alunos.

“Ao questionar o que eles identificavam como gay na gestualidade, um aluno respondeu não ser a dança, mas as pessoas. Problematizei por que isso o incomodava e se havia apenas uma maneira de se viver”, compartilha.

Ao mapear a dança na comunidade escolar, Neves descobriu, ainda, que os alunos não podiam vivenciar o estilo na Fábrica de Cultura do bairro, por ser dominado por adeptos do hip-hop. Porém, descobriu uma adolescente moradora da região que possui uma banda de K-pop. Assim, propôs aulas de dança livres à turma e chamou a jovem para ensinar a coreografia, além de trazer um videogame com jogos de dança para a aula.

A experiência deu origem ao artigo “Diferentes significações sobreo K-pop” (2021).

Andreoli, por sua vez, lembra que o preconceito pode vir também de educadores.

“Muitos criticam o fato de jovens brasileiros gostarem de K-pop, percepção que ignora a natureza global da cultura contemporânea. Os estilos artísticos, mesmo quando originários de um país, possuem elementos transculturais”, explica.

“O K-pop, por exemplo, reflete mais o pop mundial do que características locais da Coreia. Além disso, outros estilos, como rock’n roll e hip-hop, também se globalizaram e passaram a ser consumidos no Brasil”, ensina.

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Crédito da imagem: eyesfoto – Getty Images

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