Para promover práticas escolares voltadas à personalização da aprendizagem, o Projeto Âncora optou não por melhorar suas aulas, mas acabar com elas. A instituição opera nos moldes da Escola da Ponte, de Portugal, e é voltada para crianças em vulnerabilidade social de uma área periférica em Cotia (SP).

“Preparar uma aula pressupõe uma solidão do professor, que irá pensar em uma única atividade para todos os alunos, que será aplicada da mesma forma e oferecerá uma mesma avaliação para todos”, justifica a coordenadora pedagógica, Edilene Cristina Morikawa.

Sem turmas divididas por séries ou grades curriculares, a escola adotou, então, um modelo de personalização da aprendizagem por projetos. Os temas são escolhidos pelos próprios alunos de acordo com os seus interesses e o processo de aprendizagem é acompanhado diariamente pelos professores.

“Cada aluno possui um relatório e tutor individual. Relatório que, inclusive, fica em parte com ele. E por que essa dedicação personalizada é possível? Porque os professores não precisam perder tempo preparando aula ou levando provas para corrigir”, explicou Morikawa durante palestra na Bett Brasil Educar, em 8 de maio de 2018.

Grupos de responsabilidade

No dia a dia, todas as questões da escola são discutidas coletivamente por meio de assembleias, onde alunos, professores, funcionários e comunidade participam com o mesmo peso. A partir dos problemas que aparecem, os estudantes podem escolher se envolver em grupos de responsabilidade de diferentes áreas da escola, como biblioteca, informática, bullying ou limpeza. “Isso não significa que ele fará a limpeza, mas ajudará a pensar seu processo. Para completar, os alunos podem migrar entre os grupos ao longo do percurso”, completa.

A participação dos estudantes nas questões estruturais da escola também são entendidas como momentos preciosos de aprendizagem. “Por exemplo, o processo de alfabetização também ocorre quando a criança ajuda a cozinheira a escrever o cardápio do dia – funcionária que também é entendida como educadora”, acrescenta a coordenadora pedagógica.

A coordenadora pedagógica do Projeto Âncora, Edilene Cristina Morikawa, durante a Bett Brasil Educar, em 8 de maio de 2018 (crédito: divulgação)

 

Segundo ainda a docente, os alunos não são o foco da escola, mas as relações. “A gente não professa, mas vive a experiência com o estudante. Não se ensina em uma aula, por exemplo, autonomia, protagonismo e cidadania. Isso tem que ser praticado nas relações”, afirma.

Trabalho em conjunto

Morikawa aponta, contudo, que a mudança na forma como a escola decidiu operar ainda é desafiadora. “Os professores precisam estar dispostos a aprenderem diariamente, porque não há uma aula preparada previamente”, compara. “Além disso, é necessário que a gente avalie a nossa própria trajetória como estudante e como professor. Lembrar o que aprendemos de realmente significativo e como aprendemos quando estudávamos”, analisa.

Para as escolas que desejam se inspirar nos modelos da Escola da Ponte e da Escola Âncora de personalização da aprendizagem, a docente sugere se apoiar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), dialogar com a comunidade e com os pares.

“A LDB é clara e garante a autonomia de toda escola em adotar práticas e um modelo de ensino mais convenientes com sua proposta pedagógica”, diz. “Na nossa história, durante o processo de passar de projeto social para escola, foram muitas reuniões discutindo que escola era essa que queríamos. Isso só é possível com colegas que têm os mesmos objetivos”.

Veja mais:

Pedagogia de projetos coloca aluno no centro da resolução de problemas

Que pergunta você faria ao professor José Pacheco?

Atualizado em 25/02/2021, às 17h01

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