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A ideia de pedagogia de projetos surgiu há quase um século com base no pensamento do educador e filósofo estadunidense John Dewey e a partir da concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura”. Assim, essa forma de aprendizagem busca uma dinâmica centrada na criatividade e na atividade do estudante.

“Daqui a 15 anos, o computador que o aluno usa hoje não servirá para nada. A tecnologia de hoje não servirá para mais nada. Então, é importante preparar o aluno para as necessidades dele de hoje. Ele precisa aprender a lidar com perguntas do tipo ‘o que eu faço se eu tiver um problema?’, ‘como eu me viro?’”, afirma o doutor em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor, Nilbo Ribeiro Nogueira.

O professor Nilbo em curso sobre pedagogia de projetos para docentes (crédito: acervo pessoal)

 

Autor de livros sobre o tema e entrevistado neste podcast, o especialista reforça a importância de se trabalhar com problemas trazidos pelos estudantes. Com isso, é possível colocar em prática um conceito de educação que representa o ‘agora’, a vida prática dos alunos e a sociedade da qual eles fazem parte.

“Todo projeto político pedagógico das escolas começa com o chavão ‘nossa missão é formar um cidadão integral, crítico e reflexivo’. E a pedagogia dos projetos pode ser uma das ferramentas para desenvolver este cidadão integral, com várias habilidades e competências”, conceitua.

No áudio, Nogueira explica, ainda, que o professor assume um importante papel de orientador para estimular os estudantes a mostrarem e desenvolverem suas competências diante de desafios propostos.

“Na pedagogia de projetos, o professor planeja o operacional, mas não as partes práticas, porque, se ele planeja isso, o aluno não desenvolve as habilidades e competências”.

Em síntese, a construção do conhecimento acontece a partir em função da busca de respostas pelos alunos para situações que lhes despertam curiosidade.

Veja mais:

Pensadores na Educação: John Dewey e a educaçãoeducação para a democracia

Crédito da imagem: iStock

 

Transcrição do áudio:

Música instrumental de Reynaldo Bessa ao fundo

Nilbo:
Deixe seu aluno sonhar. Quando ele sonha com aquilo, ele vai projetar. E aí ele está fazendo o projeto de interesse dele, que é o de aprendizagem. Porque daí o sonho não é da coordenadora, da diretora, da professora… É sonho do aluno. Então estimule seu aluno a sonhar.

Nilbo:
Meu nome é Nilbo Ribeiro Nogueira, trabalho com capacitação de professores hoje.

Vinheta Instituto Claro – Educação

Marca sonora

Música de Reynaldo Bessa ao fundo

Marcelo Abud:
Uma pedagogia dinâmica, que valoriza a curiosidade, a criatividade e coloca o estudante no centro da ação. É assim que o doutor em educação pela PUC São Paulo, professor Nilbo Ribeiro Nogueira, entende a pedagogia de projetos. Ele explica que o ponto de partida é um problema vivenciado pelos alunos.

Nilbo Ribeiro:
Precisa haver um problema. Se não houver um problema, não existe o trabalho por projeto. A projeção que você faz é a resolução de problemas. Então, você é desafiado a resolver problemas. Na educação infantil, ‘por que a borboleta voa?’. Na medicina, ‘por que essa hemoglobina deu um índice tão baixo?’. Nos dois casos, você tem que resolver problemas. O que vai mudar é a forma de você, é claro, encarar isso, expectativa do que vai ser feito nas duas situações.

Titãs – A Melhor forma (Branco Mello / Paulo Miklos / Sérgio Britto) – Titãs

A melhor forma de enxergar no escuro
É com as mãos
As ideias estão no chão
Você tropeça e acha a solução

Nilbo Ribeiro:
Eu estou falando de metodologia. Existe um problema, existe a resolução de um problema… para isso você planeja, para isso você investiga, para isso você chega a uma solução.

Marcelo Abud:
Nilbo diferencia duas maneiras de se trabalhar com projetos na escola.

Nilbo Ribeiro:
Um é chamado projeto de aprendizagem e o outro é projeto de ensino. Então, vamos lá: para o aprendizagem baseada em projetos, que é o princípio da pedagogia dos projetos, ela nasce de uma necessidade, de um desejo, de uma vontade do aluno: ‘por que o Tiranossauro Rex, se cair no chão, não levanta mais?’; ‘por que agora, com 12 anos de idade, eu sinto umas coisas diferentes no meu corpo?’. São necessidades minhas que vão surgindo e eu decido – normalmente em grupo – que eu quero descobrir mais sobre isso. Eu tenho problemas que eu quero descobrir, porque eu tenho esse desejo. Como que eu vou descobrir isso? Eu vou procurar na internet, eu vou procurar em livros, eu vou fazer entrevistas, mas eu estou tomando essa definição, eu estou planejando. Até mesmo, uma criança de 4 anos de idade que não sabe planejar, você pergunta ‘nós vamos falar sobre o quê?’; ‘bichinhos’. ‘Mas o que você vai fazer com bichinho?’, ‘bichinho de massinha’. Ele está planejando!

Marcelo Abud:
O professor esclarece que, quando se fala em projeto de ensino, o aluno não tem a autonomia que caracteriza a aprendizagem de projetos.

Nilbo Ribeiro:
Projeto de ensino: eu, professor, ensino por meio de projeto. Quem planejou o projeto? Fui eu. Quem definiu as coisas que serão feitas? Eu, professor. Quem vai executar isso? Os alunos executam as atividades que eu planejei. Então, eu estou ensinando por meio de projeto. Quem é o protagonista disso? O professor. Ele que planejou, os alunos são apenas mero executores.

Música: “De quem é o Poder” (George Israel / Nilo Romero / Cazuza) – Kid Abelha

Quem manda na minha vida?
De quem é…
De quem é o poder?
É do ativo ou do passivo?
De quem é…

Nilbo Ribeiro:
No projeto de aprendizagem, o aluno aprende por meio de projeto. No outro, o professor ensina por meio de projeto. Em um o professor é o protagonista. No outro, é o aluno que é protagonista. Se você me perguntar: ‘Nilbo, você é contra, então, o projeto de ensino?’, ‘Não sou não”. Entre você dar um projeto de ensino e dar uma aula conceitual, faça o projeto de ensino. É menos pior do que a sua aula com alunos passivos. Pelo menos os alunos vão fazer alguma coisa e você está se treinando para chegar à conclusão ‘pô, peralá, eu tenho que deixar na mão dos meus alunos’.

Marcelo Abud:
A origem do que hoje é chamada de Pedagogia de Projetos é do educador e filósofo estadunidense John Dewey. Há mais de cem anos, ele já defendia que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura”.

Nilbo Ribeiro:
Que nem hoje: vamos preparar o aluno para daqui – ele está com 8 anos de idade – para daqui 15 anos, quando ele sair da faculdade. Daqui 15 anos, o computador que ele usa hoje não serve para nada, a tecnologia de hoje não serve para mais nada… está muito longe. Então, prepara o aluno para as necessidades dele de hoje. Ele precisa aprender ‘o que eu faço se eu tiver um problema?’, ‘como eu me viro?’. ´

Música: “Olha a pipa” (Jorge Ben Jor)

Eu vou soltar a minha pipa, eu vou
Eu vou soltar a minha pipa, eu vou
Olha a pipa, voando no céu
Olha a pipa, voando no céu

Nilbo Ribeiro:
Quando você for fazer pipa, você tem que fazer o ângulo aqui das varetas ficarem iguais. Tem que ser um ângulo reto aqui porque se ficar diferente, a pipa vai começar a ficar mais de um lado. Se você perguntar pra ele ‘por que que a pipa capenga para um lado se ele sabe consertar?’, ele sabe. Ele tem um conhecimento prático, mas ele não tem o conhecimento científico daquilo. Ele não sabe que é por causa do tamanho da vareta, que está mal posicionada, do ângulo etc e tal. Então, a gente tem que falar com essa coisa do dia a dia, por isso que se fala muito hoje em aprendizagem contextualizada.

Marcelo Abud:
O professor ressalta os ganhos que percebe em uma educação baseada na pedagogia de projetos.

Nilbo Ribeiro:
Por meio da pedagogia dos projetos, você consegue fazer seus alunos desenvolverem habilidades e competências. Por quê? Porque você está desafiando. Ele vai ter que se virar. Você vai melhorar as relações interpessoais, porque isso é feito em equipe. E assim: ‘eu sei ir lá na frente e falar, eu não tenho vergonha. Agora, eu não sei escrever.’. ‘Você sabe escrever? Me ensina.’. E as relações interpessoais ali vão ser estabelecidas, porque no ‘senta aí, fica quieto, presta atenção que eu vou dar aula’, não existem relações interpessoais. É você com você mesmo. Então, a pedagogia dos projetos ela faz isso tudo acontecer.

Marcelo Abud:
Se o aluno é o protagonista, qual, então, o papel do professor na pedagogia de projetos?

Nilbo Ribeiro:
O professor, é claro, tem que pensar no projeto. Ele planeja também, mas ele planeja o operacional, sabe? Quando que vai acontecer, que época do ano, professores envolvidos? Vai ser interdisciplinar? Não vai ser interdisciplinar? Mas ele não fica planejando partes práticas, porque se ele planeja isso o aluno não vai desenvolver as tais das habilidades e competências. Já falaram para ele que cor que tem que ser.

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
Um dos precursores de publicações sobre o tema no Brasil, o professor Nilbo Nogueira afirma que a pedagogia de projetos abre possibilidades para que o aluno tenha um desenvolvimento integral. Ao participarem de atividades mais próximas do cotidiano que estão vivendo, os estudantes podem trabalhar aspectos cognitivos, filosóficos, físicos e emocionais.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

Atualizada em: 16/3/2020 às 20h05

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