Atividades lúdicas e dinâmicas são atrativas e podem ajudar a prender a atenção dos alunos com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), explica a mestra profissional em educação matemática e professora da rede municipal de Belo Horizonte e Santa Luzia (MG) Rosana Santana Martins.
O doutor em educação Sidney Lopes Sanchez Junior também aponta benefícios das dinâmicas nas aulas de matemática para TDAH. “Contribuem para a redução de ansiedade, estresse e para melhorar habilidades de comunicação, de interação social e cooperação”, elenca. “Porém, deve ser uma aula intencional, objetiva, reflexiva e que se relacione com o conteúdo estudado, mas sem tantas informações que podem deixar o aluno perdido e desmotivado”, alerta Martins.
Problemas com cálculos
O TDAH é um transtorno neurobiológico caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade que aparece independentemente de problemas emocionais e sociais da criança. “O estudante com TDAH pode apresentar dificuldades de seguir instruções e controlar impulsos. Como a atenção é uma função cognitiva necessária para aprendizagem escolar, esta última acaba prejudicada”, resume Junior.
Em relação à aprendizagem específica da matemática, Martins destaca que as dificuldades dos alunos com TDAH se referem a cálculos, desenvolvimento de algoritmos e estratégias aritméticas para resolução das operações. “Há desafios em adquirir e manter os dados matemáticos básicos para que sejam utilizados na resolução de outros cálculos, além de desafios na interpretação de informações e na representação espacial”, relata a professora, que é autora da dissertação “Ensinando matemática para alunos diagnosticados como portadores de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): uma proposta baseada no desenvolvimento da autorregulação” (2011).
“Para completar, o TDAH pode representar um rebaixamento na memória de trabalho, que é o desafio de manter e manipular as informações temporariamente. Isso é essencial para resolver problemas da vida cotidiana e, sobretudo, os matemáticos”, ressalta Junior.
Contra esse quadro, o professor recomenda fornecer instruções claras e concisas durante atividades e repeti-las sempre que necessário. “Criar rotinas organizadas e oferecer um feedback positivo ajudam a combater a ansiedade, enquanto incorporar recursos visuais e auditivos auxilia na retenção das informações”, acrescenta Júnior. “Vale ainda dividir as tarefas em pequenas etapas. Estímulos desnecessários devem ser eliminados para não atrapalhar na concentração das crianças”, descreve o docente.
Dinâmicas diversificadas
Conheça abaixo 9 dinâmicas que podem ser utilizadas em aulas de matemática com alunos com TDAH no ensino fundamental.
1) Circuito de desafios
Martins indica organizar o espaço com “pontos de tarefas” que deverão conter desafios matemáticos ou partes de atividades a serem resolvidas pelos alunos em grupos ou individualmente. “Elas podem ser resolvidas em cada etapa ou ao passar por todos os pontos”, recomenda.
Finalizado o circuito, a turma se reúne, e cada um apresenta as atividades realizadas. “Essa dinâmica pode ser desenvolvida em parceria com a disciplina de educação física. Em cada ponto poderá haver um desafio de flexibilidade, agilidade, equilíbrio, força etc.”, aponta.
“Os participantes podem ser classificados por tempo, por acertos ou simplesmente não ser realizada como uma competição”, acrescenta Martins. Segundo a docente, a atividade pode ser adaptada para qualquer etapa de ensino.
2) Guia espacial
O objetivo é trabalhar a dificuldade em seguir orientações. Em duplas, um aluno vendado segue orientações de outro colega vidente. Ele deve ser guiado exclusivamente por palavras, até um objeto ou local determinado pelo professor. Por meio dela, podem ser trabalhados ângulos. “As orientações dadas pelos estudantes devem se restringir a quantidade de passos, direção para a qual o colega irá se virar ou seguir e o ângulo que deverá se movimentar”, diz Martins.
“Essa dinâmica poderá ser desenvolvida juntamente com as disciplinas de geografia e educação física, mas também com língua portuguesa, na qual os alunos poderão escrever o percurso previsto e o colega apenas executar”, complementa a professora. Essa atividade também pode ser adaptada para qualquer etapa de ensino.
3) Caça ao tesouro matemático
Nesta atividade, o professor esconde questões referentes ao conteúdo estudado com pistas a serem encontradas pelos participantes que os direcionarão a um tesouro. A primeira dica deverá ser entregue no início da dinâmica. “As pistas podem ser charadas referentes aos espaços físicos da escola, funcionários da instituição ou até mesmo coordenadas geográficas permitindo interdisciplinaridade. Os alunos podem usar bússolas nos celulares”, sugere Martins.
“Cada pista vai levando o estudante a outra, com problemas matemáticos que vão ser resolvidos em cada etapa, principalmente aqueles que envolvem raciocínio lógico, operações básicas, conteúdos de frações”, afirma Junior. Essa atividade pode ser adaptada para qualquer etapa de ensino.
4) A caminho da solução
Sugerida por Martins para alunos do 5º ano do ensino fundamental em sua dissertação, cada aluno recebe uma tira de papel com uma expressão que deveria ser resolvida mentalmente, enquanto percorre um caminho pré-determinado, passando por obstáculos e apresentando o resultado ao final do percurso.
5) Palmas múltiplas
Dinâmica recomendada por Martins para o 5º ano do ensino fundamental em sua dissertação, consiste em organizar a classe em um círculo. Um número é escolhido, e os alunos devem dizer, em voz alta, a sequência dos números naturais, substituindo os múltiplos do número escolhido por uma palma. “Quando alguém bate a palma no número errado, ou fala algum múltiplo em vez de bater a palma, saí da disputa”, revela.
6) Calculando
Recomendada por Martins para o 5º ano do ensino fundamental, a brincadeira consiste em um percurso pré-determinado com quatro pontos de parada, sendo que em cada parada há um comando (operação) diferente. “Cada aluno recebe um número, no início do caminho, e deve realizar o comando seguinte, a partir do resultado da etapa anterior”, afirma. Os comandos usados foram: 1º) Adicione 3 unidades; 2º) Subtraia 5 unidades; 3º) Multiplique por 4; e 4º) Divida por 2.
7) Dominó humano
Nesta brincadeira, cada aluno recebe uma tira de papel com duas frases: uma delas indicando uma operação matemática e outra com a resposta de uma operação. “Cada aluno deve procurar aquele que tem a resposta para sua pergunta e ficar atento à pergunta do colega para verificar se estava com a resposta do outro”, detalha Martins. Indicada para o 5º ano do ensino fundamental.
8) Bingo matemático
Sugerida por Júnior para alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, com possibilidade de adaptação para outras séries, consiste no professor criar cartões e cartelas de bingo com respostas numéricas ou com problemas matemáticos. Distribua os cartões para as crianças e sorteie números ou situações problemas. “Ele pode aleatoriamente escolher situações que envolvam o raciocínio matemático e trabalhar operações matemáticas básicas”, revela o professor.
9) Loja de matemática
Júnior indica trabalhar com uma simulação de loja ou mercadinho junto aos alunos do 4º ao 7º ano do ensino fundamental. “Coloque itens à venda e distribua aos alunos dinheiro fictício. Os estudantes se organizarão para fazer compras, calculando o total para dar troco e desconto”, diz Junior.
Segundo o docente, o professor pode adaptar a atividade para ensinar operações básicas e juros de forma contextualizada. “Isso torna o conhecimento curricular funcional e a criança aprende a lidar com ele em situações reais da vida cotidiana”, completa.
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Crédito da imagem: FG Trade – Getty Images
Atualizado em 15/07/2024, às 10h01.
Que interessante ver como atividades lúdicas podem ser tão benéficas para alunos com TDAH! Essas dinâmicas não só ajudam a reduzir ansiedade e estresse, mas também melhoram habilidades essenciais como comunicação e cooperação. Integrar matemática de forma interativa e contextualizada realmente pode fazer uma grande diferença no aprendizado desses estudantes.
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