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Neurodiversidade é o conceito que define os diferentes padrões mentais. Dentro dessa concepção estão os indivíduos neurotípicos – que apresentam desenvolvimento considerado “típico” ou previsto – e os neurodivergentes, pessoas que manifestam um funcionamento neurocognitivo fora da média esperada.

A psicopedagoga Jéssica Chaves explica que a neurodiversidade contempla especificamente a comunicação e o aspecto social, a relação entre pares. “A dislexia, o TDAH – déficit de atenção e hiperatividade –, tem também o autismo, que está dentro de um espectro, além de outras. A deficiência intelectual também abrange as pessoas neurodivergentes”, enumera.

Para a especialista, professoras e professores têm de receber formação constante para saber como incluí-los. No entanto, essa capacitação acaba sendo realizada nas especializações.

“Junto com uma formação continuada, o que funciona muito é você ter parceria com a família e com uma equipe terapêutica caso essa criança já esteja no processo. Caso não, você [pode] contar com a família, partilhar as observações ali dentro da sala de aula, colocar em debate e, juntos, chegar ao consenso, buscar um diagnóstico, um tratamento adequado e, principalmente, respeitar a individualidade, a necessidade de cada um deles”, sinaliza Chaves.

Neste podcast, você também acompanha um exemplo vivido pela psicopedagoga em sala de aula. A professora explica como conseguiu acolher e reintegrar uma criança que reagiu agressivamente com a turma com a qual estudava.

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Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Jéssica Chaves:

É gostoso quando você começa um trabalho um pouco que desconhecido, e o desconhecido traz insegurança, ele traz medo, vários tipos de sentimentos negativos que são superados aí com conhecimento, com o estudo.

O conhecimento é sempre um caminho muito abrangente e vale a pena a gente contemplar todos os nossos alunos.

Olá, o meu nome é Jéssica Chaves. Eu sou psicopedagoga e consultora educacional da Mais Pedagógica, empresa voltada à educação e cursos de formação de professores.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

Neurodiversidade é um termo que define os diferentes padrões mentais. Essas especificidades devem ser compreendidas para que possam ser respeitadas e aceitas.

Jéssica Chaves:

A neurodiversidade contempla tanto pessoas neurotípicas, que, de certa forma o cérebro, né, de acordo com os estudos na neurociência, contemplam as respostas esperadas; quanto pessoas atípicas, que são aquelas pessoas que não correspondem aos padrões mentais esperados normalmente.

Marcelo Abud:

O funcionamento neurocognitivo atípico ou fora da média esperada é chamado de neurodivergente.

Jéssica Chaves:

Essas pessoas neurodivergentes normalmente elas têm as suas áreas mais prejudicadas: cognitiva, onde afeta ali o seu processo de desenvolvimento, né, de ensino-aprendizagem, especificamente, de formas diferentes também. Elas contemplam especificamente a comunicação e muito o aspecto social, a relação entre pares: dislexia, o TDAH – o déficit de atenção e hiperatividade –, tem também só o déficit de atenção e o autismo, que está dentro de um espectro. Então ele tem muitas variações. E todas essas observações, além de outras também, né, deficiência intelectual, também contemplam as pessoas neurodivergentes.

Marcelo Abud:

Sobre a formação docente para incluir estudantes neurodivergentes, Chaves diz que isso deveria ser mais trabalhado ainda na graduação. O mais comum, no entanto, é o assunto ser tratado em especializações.

Jéssica Chaves:

O professor, como muitas outras profissões, não deve nunca deixar de estudar, porque nós estamos em constante movimento. Então, com todas essas leis, tecnologias, novos tratamentos, descobertas, né, há muitos estudos, pesquisas acontecendo. Nós precisamos, sim, estar a par de todas essas informações novas mesmo pra gente poder colocar em prática e oferecer ensino de qualidade para todos os alunos.

Marcelo Abud:

A especialista aponta o papel da escola em buscar pessoas que possam tratar do tema com professoras e professores. Foi o que ela vivenciou no período em que esteve em sala de aula.

Jéssica Chaves:

Dentro da escola, existiam grupos de discussões, reuniões pedagógicas, sempre com um convidado para trabalhar com a gente, porque a demanda realmente estava aumentando com frequência, né? A cada ano nós estávamos com muita procura, então a escola percebeu também a necessidade de se atentar aos professores quanto a essas necessidades específicas dos alunos que estavam ali chegando até nós.

Marcelo Abud:

Para promover a inclusão de todas as crianças e adolescentes na sala de aula, Jéssica Chaves vê a busca de conhecimento constante por parte de professoras e professores e a participação da família como pontos essenciais.

Jéssica Chaves:

Junto com uma formação continuada, o que funciona muito é você ter parceria junto com a família e junto com uma equipe terapêutica, caso essa criança já esteja aí no processo. Caso não, você contar com a família, partilhar as observações ali dentro da sala de aula, colocar mesmo pra debate e, juntos, chegar ali no consenso, buscar um diagnóstico, buscar um tratamento adequado e, principalmente, respeitar a individualidade, a necessidade de cada um deles.

Marcelo Abud:

A especialista entende a dificuldade vivida por uma professora ou professor para lidar com estudantes neurodivergentes. No entanto, ela reforça que, com formação e apoio, isso é superado e gera grande satisfação em quem educa.

Jéssica Chaves:

Muitos professores, eu, que sou da classe, a gente sabe da realidade das nossas salas de aula, né, que já é uma sala muito diversa. A demanda do professor é muito grande, a parte burocrática, de planejamento, acompanhamento dos alunos, relatórios, enfim.

E aí você lidar com essas especificidades gera realmente insegurança, gera realmente muita dúvida, e, às vezes, né, dependendo – já tem casos sim –, uma certa resistência por parte do professor, mas é nítido que essa resistência é pela falta de informação, porque realmente o professor, ele não é terapeuta, por isso que tem que trabalhar aí essas três junções, família, escola e a equipe multidisciplinar que atende essa criança.

Marcelo Abud:

Chaves passou mais de 15 anos atuando em sala de aula até se tornar psicopedagoga e atuar na formação de docentes. Ela divide o que aprendeu sobre estudantes neurodivergentes ainda durante essa vivência como professora.

Jéssica Chaves:

O que acontece também é que, durante essas crises, muitas pessoas veem como falta de limite, falta de educação. Por exemplo, tem dois tipos de modulações, né, o hiper e o hipo. O hiper é quando a criança é muito sensível a algum tipo de estímulo voltado aí aos nossos sentidos, né, digamos assim. Então, essa criança, ela é muito sensível no aspeto auditivo, então um barulhinho que está lá longe, que nós nem percebemos, né, uma pessoa neurotípica, ela está percebendo aquilo há um tempão e aquele estímulo tem, de certa forma, irritado, aumentado, criando um certo padrão na cabeça dela.

Marcelo Abud:

A professora traz um exemplo real de como lidou com uma criança hipersensível, em que o sistema nervoso responde a estímulos sensoriais mínimos.

Jéssica Chaves:

E a reação dessa criança, que não é nenhum comportamento, é uma reação mesmo, né, de instinto, é gritar muito. Então, aconteceu dessa criança pegar alguns coleguinhas, como se fosse uma reação mesmo. E os gritos também chamam muita atenção, porque grita, chega lá na outra sala, chega na sala da coordenação, sai todo mundo correndo. E aí, quanto mais pessoas próximo dela tentando acalmar, pior é, porque nós estamos aumentando aquele estímulo por conta dessa modulação que já é muito sensível… E isso eu fui aprendendo com o tempo, a mãe partilhou comigo, ela já fazia as terapias, e na hora pedi para que todo mundo saísse, deixei ela gritar, porque era uma maneira dela também se regular e fiquei atenta para perceber qual era o barulho que estava ali incomodando, e era uma musiquinha que estava na sala, uma sala um pouco até distante da gente, mas que ela estava ali percebendo.

Quando a gente desligou, o estímulo foi cortado e ela foi se regulando a um tempo. É preciso você acalmar, acolher, respeitar muito aquele momento.

Marcelo Abud:

Depois de entender o que estava acontecendo e de intervir para tranquilizar a aluna, Jéssica Chaves deu atenção também às outras crianças da turma.

Jéssica Chaves:

Então aproveitei para trabalhar com o grupo e com os familiares, também, de que ela não bateu para agredir, ela não bateu, não era nada pessoal. Foi uma reação que ela teve que, embora não seja adequada, mas ela está aprendendo, e eu contava com a compreensão de todos, porque eu também não queria deixar a mensagem de que ‘é normal apanhar na escola’, que não é.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

Neurodivergentes devem ter suas especificidades respeitadas, para que haja adaptação ao grupo. Jéssica Chaves estimula professoras e professores a se instruírem no sentido de saberem como lidar com essas pessoas que, em algumas situações, vão ter padrões mentais diferentes do esperado.

Marcelo Abud para o podcast de educação do Instituto Claro.

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