O escape room, também conhecido como sala de fuga, é uma atividade imersiva em que um grupo precisa resolver enigmas e desafios dentro de um tempo limitado para alcançar um objetivo, como escapar de um espaço fechado. Na educação, ele pode ser utilizado como ferramenta de aprendizagem ativa em todas as disciplinas e níveis de ensino.
Segundo a doutora em química Renata Paschoalino de Souza, a atividade estimula trabalho em equipe, comunicação, pensamento crítico e lógico.
“Um escape room educativo só tem êxito quando os estudantes trabalham em grupo, interação que impacta a dinâmica da sala de aula no desenvolvimento socioemocional, aprendendo a ouvir, respeitar e ter empatia pelos colegas”, aponta.
A aprendizagem colaborativa ainda reduz comportamentos competitivos negativos e pode aumentar a autoconfiança de alunos mais tímidos, explica a doutoranda em ciências Ariane Carolina da Rocha.
“Para isso, o professor deve frisar a importância do trabalho em equipe ao iniciar a atividade, uma vez que os desafios não são interdependentes: para encontrar as pistas, interpretar os dados e conectar as informações, é necessário que os alunos se comuniquem, dividam as tarefas e se escutem”, completa a professora, que é autora do artigo “Debates sobre o uso de um escape room de divulgação científica no ensino de química”.
Elaborando um escape room
Os enigmas do escape room podem ser alinhados a conteúdos curriculares, visando ensinar ou revisar os ensinamentos. Além disso, há a necessidade de criar uma narrativa ligada a esses temas, desenvolvendo os desafios em torno dessa história. “A narrativa é o elemento mais importante para que a experiência se torne significativa para os estudantes. Apenas abrir caixas com cadeados pode ser insignificante”, enfatiza Rocha.
“Porém, a história por trás da atividade deve ser plausível, conectada aos desafios propostos, para que assim o participante se sinta motivado a alcançar o objetivo final”, adiciona Souza.
Além disso, os desafios e enigmas devem possuir uma sequência lógica que leve os estudantes à resolução final, como explica a coordenadora da licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA-Belém) Ana Paula de Andrade Sardinha.
Em termos de tempo, é recomendada uma atividade que leve entre 15 e 50 minutos. “A duração deve permitir aos alunos tempo para se envolver com os desafios, resolver os enigmas com calma e, ao final, ter espaço para uma breve discussão e reflexão sobre o conteúdo abordado”, lista Souza.
Os resultados podem ser significativos, como compartilha Sardinha, que orientou o trabalho “O uso do escape room como recurso de ensino e aprendizagem de língua portuguesa no ensino médio”, de Karoline Cardoso e Thatiany da Silva.
“Em nossa pesquisa, alunos que não se identificavam com a língua portuguesa demonstraram maior interesse e desempenho após a atividade. Uma questão que teve 23% de acertos em metodologia tradicional saltou para 100% com o escape room”, comemora.
Erros e acertos
Para Sardinha, os erros mais comuns ao elaborar um escape room na escola são: tempo mal calculado, ausência de testes prévios e desconsiderar o nível de conhecimento da turma. “Realizamos um piloto antes da aplicação para ajustar o tempo de cada etapa”, conta.
Rocha, por sua vez, alerta para evitar desafios excessivamente difíceis (que podem frustrar os alunos) ou fáceis (que podem não gerar engajamento).
“Instruções pouco claras deixam estudantes perdidos com o que precisam realizar. E é preciso tomar cuidado para o foco não ficar muito na diversão e pouco na aprendizagem: elementos lúdicos e objetivos pedagógicos devem ser equilibrados”, complementa.
Para elaborar o primeiro escape room pedagógico, Sardinha sugere iniciar com simplicidade. “Escolha um conteúdo que você domina e crie de três a cinco desafios com narrativa leve e materiais acessíveis. Teste-o com um pequeno grupo antes de aplicar com a turma”.
Para completar, a atividade pode ser realizada online, de forma remota. “A plataforma Genially permite criar salas virtuais com enigmas, pistas escondidas, senhas e efeitos sonoros”, afirma Souza.
Outra possibilidade é utilizar o Google Forms com perguntas encadeadas e validação de respostas. “O princípio é o mesmo: narrativa, desafio, resolução”, resume Sardinha.
Experiências em química e língua portuguesa
Souza desenvolveu em seu doutorado o escape room “O mistério da talidomida” para abordar conceitos da química geral.
A atividade iniciou com um vídeo sobre o medicamento talidomida, cujo uso para tratar o enjoo em mulheres grávidas afetou a formação dos fetos. A partir disso, foram elaborados quatro enigmas divididos em caixas coloridas, cada uma delas com um cadeado numérico de três números.
“Quando os jogadores solucionam algum dos problemas e abrem uma caixa, encontram dentro desta um dos números correspondentes à senha final e uma pista sobre a história da talidomida”, explica Souza.
“Por exemplo, a caixa laranja explorou em desafio a propriedade das antocianinas, que mudam de cor dependendo do pH do meio em que estão. Assim, o repolho roxo foi utilizado como indicador ácido-base, acompanhado de uma tabela que relacionava as cores obtidas com os respectivos valores de pH das soluções”.
“Três tubos de ensaio com substâncias coloridas (azul-escuro, rosa e roxo) complementaram a dinâmica da caixa. Ao relacionar as cores indicadas nos tubos com os valores de pH correspondentes, o desafio da caixa era resolvido”, conclui Souza.
Já o trabalho orientado por Sardinha com alunos do ensino médio foi um circuito de desafios ligados a temas da língua portuguesa, como figuras de linguagem e interpretação textual.
“Usamos caça-palavras, charadas gramaticais, interpretação de charges, reorganização de sílabas, classificação de palavras e até enigmas escondidos em objetos. Por exemplo, uma questão de linguagem coloquial estava escondida dentro de um balão, que precisava ser estourado”.
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Crédito da imagem: JDawnInk – Getty Images