Muitos são os benefícios de utilizar o Role-Playing Game (RPG) no ensino de biologia e ciências.
“Por meio do RPG, é possível relacionar conceitos científicos ao cotidiano dos estudantes. Além disso, conteúdos mais abstratos de ciência e biologia, como células, moléculas, reações químicas e dinâmicas ecológicas, podem ser trabalhados de maneira prática, abordando suas respectivas formas e funções”, explica o licenciado em ciências biológicas e doutorando em nutrição Luan Kelwyny Thaywã.
“O RPG proporciona uma experiência de aprendizagem ativa e imersiva em que os alunos vivenciam, mesmo que imaginariamente, situações reais”, acrescenta.
A seguir, conheça cinco jogos de RPG que podem ser trabalhados com alunos dos ensinos fundamental e médio.
O jogo da mestranda profissional em biologia Amanda Gonçalves Edmundo Trevizani é indicado para ensinar biologia molecular na primeira série do ensino médio.
Os personagens apresentados nessa proposta são:
- Aposentado (a) – com gasto energético de 2 mil kcal/dia;
- Agricultor (a) – com gasto energético 4 mil kcal/dia;
- Auxiliar administrativo – com gasto energético 2,4 mil kcal/dia;
- Comissário (a) de bordo – com gasto energético 2,8 mil kcal/dia.
Nesse enredo, os personagens vivenciam dois dias diferentes, sendo um domingo e uma segunda-feira. Os estudantes deverão anotar quantas calorias o seu personagem está recebendo ou perdendo, a partir das escolhas de refeições a cada situação apresentada.
Ao término do jogo, o estudante deverá contabilizar as calorias, para verificar se o personagem consumiu mais ou menos calorias em relação ao seu gasto calórico.
Além disso, a segunda problematização criada no jogo é a visita dos personagens ao médico, para mostrar o resultado dos exames periódicos que apresentaram alguns valores alterados.
“O jogo do gasto calórico trata de simular situações do cotidiano que envolvem escolhas alimentares e atividades diárias, como refeições, compromissos profissionais, interações sociais e cuidados com a saúde. Os estudantes assumem o papel de personagens e tomam decisões baseadas em seu estilo de vida e nos conhecimentos adquiridos nas aulas, como equilíbrio energético, nutrição e metabolismo”, aponta Trevizani.
Em sua dissertação de mestrado em docência e educação, Ingrid Miranda de Abreu Coelho desenvolveu um livro-jogo para ser utilizado com alunos do sexto ano do ensino fundamental. O professor pode baixar e imprimir as fichas e tabuleiros.
“É uma aventura focada no ensino dos biomas brasileiros, especificamente a caatinga, o cerrado e a mata atlântica. O jogo começa com um grupo de alunos que, ao encontrarem um jogo misterioso, são transportados para um mundo mágico, onde devem aprender sobre esses biomas para restaurar um selo mágico e proteger a torre dos biomas contra criaturas ameaçadoras. Durante a aventura, os jogadores enfrentam desafios, respondem a perguntas e adquirem conhecimento sobre as principais características de cada bioma, como a fauna, a flora e os problemas ambientais que afetam esses ecossistemas”, resume a autora.
Botânica, espécies exóticas e invasoras
Criado por Luan Kelwyny Thaywã, o jogo aborda a temática de espécies exóticas e invasoras, discutindo desde sua introdução e expansão até os impactos ambientais, econômicos e na saúde pública. A aventura se passa em uma ilha. Em cada parte dela, há espécies raras, que precisam de proteção, e espécies invasoras. Os participantes vão caminhando por cada região da ilha e interagindo com essas plantas e árvores.
“A narrativa é ambientada de forma a engajar os participantes no entendimento de conceitos como biodiversidade, manejo ambiental e controle de espécies invasoras”, explica o autor, que indica a sua aplicação no ensino fundamental II e no médio.
“Nessas etapas, os alunos já possuem habilidades cognitivas para compreender conceitos como relações ecológicas, impacto ambiental e sustentabilidade”, aponta.
O jogo desenvolvido pelo professor Antônio Alves de Oliveira Neto ajuda a ensinar sobre o sistema digestivo, conteúdo previsto para o quinto ano do ensino fundamental.
Na história, o sistema solar foi destruído, e a humanidade colonizou outro planeta. Lá, o Dr. Zoddi inventou o reducionismo de partículas, mas sua equipe foi acidentalmente engolida por ele e deve agora sair do corpo do cientista, enfrentando desafios sobre o sistema digestório humano.
Algumas perguntas podem ser realizadas com os alunos ao longo do jogo, como “qual é a função da mastigação e da epiglote?”. Caso os jogadores errem, o Dr. Zoddi engasga e todos morrem. Caso acertem, eles continuam a trajetória.
Desenvolvido pelos professores Janisia Viana, Vanessa Yngrid e Luiz Santos, o jogo apresenta o sistema respiratório de forma lúdica, ajudando no ensino do conteúdo durante a quinta série do ensino fundamental. A narrativa se passa nas cidades de Timo e Pulmaria, onde jogadores de uma ordem militar protegem o reino de Corpóreas. Eles precisam salvar o reino viajando até Pulmaria. No caminho, passam por vilas com vegetação azulada devido ao mineral carbox. Chegam à vila Tecidos, onde artesãos são atacados por bactérias e vírus. Em Pulmaria, os jogadores encontram a cidade infestada de insetos que consomem as estruturas de cartilagem e devem decidir como salvar a cidade.
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