O etarismo é a discriminação ou preconceito baseado na idade. Ele atinge majoritariamente pessoas mais velhas, que são vistas como menos capazes ou valiosas para a sociedade.

A escola pode ajudar a trabalhar criticamente a percepção dos jovens sobre os idosos – uma oportunidade vista pela mestra em educação física e docente do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) Valentina Piragibe.  Ela criou uma sequência de atividades para estimular os alunos do ensino médio a pensarem sobre o tema.

“A motivação aconteceu a partir da identificação de situações como a desvalorização da pessoa que se aposenta, embora muitas famílias sobrevivam graças ao dinheiro que ela recebe. A negligência inicial da covid-19 como um problema de saúde pública por supostamente atingir apenas ‘os velhos’. E o envelhecimento da população brasileira, que evidenciou novas questões”, justifica a professora.

Para trabalhar o tema com os alunos, a primeira etapa foi a criação do blog “Idosos e idosas convidam à reflexão”, na qual os estudantes foram convidados a refletirem sobre práticas corporais e velhice.

“Realizamos atividades para familiarizá-los com essa mídia e as questões relacionadas a ela, como direitos autorais de imagens. Depois, dividimos as tarefas de atualização do blog entre os alunos”, conta Piragibe.

Encontro de gerações

 Uma segunda atividade foi apresentar o clipe da música “Paratodos”, de Chico Buarque, e o poema “Retrato”, de Cecília Meireles. Enquanto o vídeo aborda as gerações da família do compositor, o poema trata das mudanças ocorridas na personagem durante o seu envelhecimento.

Ao final, os estudantes realizaram a primeira postagem no blog: enviaram fotos dos pais ou avós quando jovens e um texto se comparando a eles. Foram analisadas mudanças nas vestimentas, na forma de usar o cabelo, nos semblantes e nos cenários.

“Um estudante identificou influências materiais de gerações passadas na atual, pelo estilo vintage das roupas, referências de músicas e filmes. Na avaliação do projeto, eles foram além do que esperávamos. Viram que épocas passadas têm seu espaço no tempo presente, pois são valorizadas e fazem parte do modo de vida de uma parcela da juventude de hoje”, destaca a professora.

Na sequência, foi proposta uma atividade de história oral, na qual os estudantes entrevistaram uma pessoa idosa. Foram trabalhadas questões como: diferenças entre ser idoso no passado e hoje; o que é beleza, saúde e envelhecer bem; se praticava exercícios e como se sentiu na pandemia.

Para finalizar, foi solicitado que o aluno realizasse uma prática corporal com a pessoa mais velha que entrevistou, registrando-a em fotos.

“Alguns residiam junto com os avós, outros realizaram atividade com os pais e até com os irmãos mais velhos. Houve relatos de alongamentos e yoga, outros repartiram as atividades domésticas e lavaram louça juntos”, exemplifica Piragibe.

Segundo a docente, o retorno dos alunos sobre o projeto foi positivo. “Relataram que começaram a conversar mais com parentes idosos e escutar suas experiências”, compartilha.

Importância da escuta

Por trabalhar redação de texto do blog e relatos históricos, o projeto de etarismo na educação física tem potencial interdisciplinar. Piragibe e seus colegas o ampliaram para um projeto maior chamado “O tempo do homem e da natureza”, que incluiu as disciplinas de língua portuguesa, geografia, história, filosofia, artes e sociologia.

Segundo a professora, o projeto não contou com uma sequência didática fechada. “Fomos construindo o caminho a partir do que íamos observando das respostas dos estudantes e de nossas leituras e conversas sobre o tema”, relata.

Segundo ela, a escuta dos alunos foi importante para o processo. “O retorno que os estudantes nos davam a cada tarefa nos guiava para as próximas atividades, problematizando a velhice vista pelo olhar da juventude e também construindo uma percepção humana sobre os idosos”, conclui.

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