Pessoas que se unem para desenvolver uma atividade econômica, social ou cultural, dividindo as responsabilidades e ganhos é uma das definições de cooperativa. Esse modelo segue princípios como adesão voluntária dos associados, gestão democrática, cooperação, autonomia e interesse pela comunidade. Pois a vivência do cooperativismo nos mesmos moldes também pode ocorrer no ambiente escolar.

“As cooperativas escolares são uma iniciativa de caráter educativo, constituída pela união voluntária de alunos do ensino fundamental e médio e com a mediação de um professor orientador”, resume o doutorando em educação William Pollnow.

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No Brasil, o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) tem um projeto de apoio à criação de cooperativas escolares em escolas públicas do Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Em atividade desde a década de 1990, a iniciativa é inspirada no pedagogo francês Célestin Freinet e em experiências na cidade argentina de Sunchales. No projeto, a escola conta com a ajuda da cooperativa do seu município. “Os encontros ou oficinas ocorrem no contraturno escolar, mas alinhados ao currículo e ao plano político pedagógico (PPP) da escola”, explica Pollnow.

Ao escolher uma atividade ou objeto de aprendizagem, os alunos podem comercializá-lo. Contudo, o lucro não é o objetivo principal, mas sim promover uma mudança social. “Criação de peça teatral, produção de sabão caseiro, plantio de horta e confecção de artesanato são exemplos”, assinala a pesquisadora e mestranda em educação pela Universidade de Santa Cruz do Sul Delci Cleonice Bender.

“Essa vivência propicia que alunos associados se expressarem livremente e debatam assuntos de sua realidade e interesse. Deixam de lado a competição, comum na sociedade, para trabalharem coletivamente”, complementa. “É possível ocupar os estudantes em diversas frentes, prezando pelo coletivo, envolvendo a comunidade e permitindo uma educação integral”, acrescenta a especialista em docência nos anos iniciais Fernanda Herbertz.

Passo a passo

O projeto de cooperativa escolares é organizado em quatro fases. “Primeiro, os alunos estudam sobre cooperação e cooperativismo, habilidades necessárias a cada cargo e organização da documentação. Finaliza com a realização da Assembleia Geral de Fundação”, explica Pollnow. Os estudantes que compõem a cooperativa escolar podem concorrer a um cargo de gestão no conselho de administração ou no conselho fiscal, cujas atribuições são definidas por estatuto.

Na fase dois, eles observam a comunidade e definem o objeto de aprendizado. “Os conselheiros eleitos organizam seu plano de gestão. A educação financeira é contemplada pelo registro das movimentações oriundas da possível comercialização desse objeto de aprendizagem”, acrescenta a educadora e especialista em matemática Elisete Regina Groff.

Na terceira etapa, os associados buscam parcerias na comunidade e divulgam o trabalho nas redes sociais. Também refletem sobre o Dia de Cooperar e sua relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). Por fim, a última fase visa pensar a sucessão do programa para estudantes nos anos seguintes.

Trabalho em equipe

“Toda cooperativa escolar nasce de uma necessidade. A nossa era engajar e unir os estudantes, desenvolvendo cooperação, autoestima e protagonismo”, lembra a professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Nero Pereira de Freitas, em Vale Verde (RS), Maria Cristina Kaufmann. Ela é orientadora da Cooperativa Escolar Verde Vale, projeto fomentado desde 2016 e que reúne alunos a partir de onze anos.

cooperativa escolar
Cooperativa Escolar Verde Vale (crédito: divulgação)

Para isso, a escola oferece turno integral e uma disciplina de estudos cooperativos na carga horária. “São trabalhados conceitos teóricos do cooperativismo em sala aula, os quais são postos em prática nas oficinas da cooperativa”, descreve. A aluna Marcela da Silva Jardim está no 9°ano do ensino fundamental e é a atual presidenta da cooperativa, da qual participa há quatro anos. “Aprendi a trabalhar em equipe, desenvolver a liderança e ter mais empatia”, opina.

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Já a EMEF Professor Teobaldo Closs, de Teutônia (RS), aderiu ao programa de Cooperativas Escolares em 2018 e criou a Cooperativa Escolar Teobaldo Closs (Coopertec). “O foco é promover a socialização e união dos alunos de onze a 15 anos, além de ações de sustentabilidade”, explica a professora-orientadora Raquel Soares. “Eles aprendem liderança e empreendedorismo não só na teoria, mas colocando em prática”, observa. Ela aponta também o potencial interdisciplinar do projeto.

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Cooperativa Escolar Teobaldo Closs (crédito divulgação)

Entre as atividades da Coopertec, há campanhas de arrecadação e distribuição de alimentos, agasalhos e um projeto de recreio dirigido. “São jogos de tabuleiro e brincadeiras confeccionados e dirigidos pela cooperativa. Eles tornaram o recreio da escola mais divertido”, opina o aluno do 9º ano Alex Diogo Cortina.

Durante a pandemia, tanto a Coopertec quanto a Verde Vale mantiveram atividades remotas, usando Facebook, Instagram e WhatsApp. “O Dia de Cooperar foi realizado virtualmente”, conta Kaufmann.

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