A educação financeira foi incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como um tema transversal que deve se fazer presente nos currículos de escolas de todo o país. Pois na escola municipal União da Betânia, em Juiz de Fora (MG), o assunto já é abordado em sala de aula graças a uma parceria entre a instituição com a faculdade de economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Trata-se do projeto “Economia nas Escolas”, que acontece desde 2014 e é coordenado pela professora universitária Fernanda Perobelli.
“O projeto visa levar noções de economia, finanças e cidadania, via escolhas conscientes, aos alunos dos ensinos fundamental e médio.O objetivo é ajudar pessoas a decidir melhor o destino de seus recursos”, explica a docente.
As atividades são desenvolvidas em uma aula semanal, que acontece no horário regular. O formato é discutido com o professor da escola, que será responsável pela turma. Na escola municipal União da Betânia, o docente de matemática Altamir da Silva é quem coloca o aprendizado na prática.
“As aulas são planejadas pelos alunos da faculdade de economia da UFJF e repassadas para mim. Eu faço a adaptação do projeto de acordo com a sala de aula, levando em consideração a idade dos alunos e o conteúdo que estamos estudando, de modo que a proposta e o planejamento escolar caminhem juntos, buscando uma maior interação entre o projeto e a turma”, descreve.
Movimentações bancárias, compras, gastos, economias, inflação, deflação, porcentagem, juros e acumulação são alguns dos conteúdos trabalhados com os estudantes. Contudo, os temas não se restringem à disciplina de matemática. “Há conteúdos de geografia (globalização), história (origem e evolução do dinheiro e do sistema financeiro) e ciências (consumo consciente e meio ambiente)”, desmistifica Perobelli.
Família é incluída
De acordo com Silva, as aulas se iniciam sempre com a história dos bancos e do dinheiro, as moedas de outros países, cartão de crédito e débito, salário e finanças domésticas. “Com o apoio dos alunos, buscamos a integração com a família com a conscientização dos responsáveis”, complementa o professor.
Segundo os relatos dos alunos participantes, a iniciativa é bem-sucedida. “Eu conversei com meu pai e descobri que ele guardava o dinheiro numa conta que não rendia juros, e eu falai para ele mudar de conta para ganhar mais”, conta o aluno do 6º ano Gabriel Silva, de 11 anos. “Aprendi a diferença entre conta corrente e poupança, e a não gastar dinheiro com coisas que não precisa. E isso é bom”, avalia.
Para Wesley Mota, de 12 anos, o principal ganho do projeto também foi aprender a economizar dinheiro. “E também saber em qual conta do banco devo guardar meu dinheiro para render juros e a fazer operações para saber quanto tenho e o que posso comprar”, acrescenta.
Para o professor, o ensino de educação financeira não deve visar um retorno imediato. “Por isso, deve ser desenvolvido durante o ano todo, em uma aula semanal. Assim, a curto e médio prazo, podemos obter um retorno dos alunos, principalmente no que diz respeito ao consumo consciente, como economia de água e luz, e ao consumo de guloseimas”, opina.
Tema abrangente
Para os demais docentes que desejam trabalhar a educação em sala de aula, Silva deixa algumas orientações. “Não há idade mínima para se trabalhar a parte das finanças, mas devemos lembrar que educação financeira não é só trabalhar juros e porcentagens. Envolve conhecer a história dos bancos e do dinheiro, o que você pode e deve comprar, economizar para comprar à vista ou financiar, aprender a fazer pesquisa de preços, comparar, avaliar e comprar o que realmente precisa e sempre tomar o cuidado para não gastar além do necessário”, assinala. “Indico adaptar o conteúdo a ser trabalhado nas aulas levando o aluno a pensar e a se tornar parte do processo. Assim teremos um indivíduo economicamente feliz”, garante.
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Excelente iniciativa! Parabéns! Educação financeira deveria ser matéria desde o Ensino Fundamental, visto que o Brasil é, de modo geral, “ignorante” nesse tema. Apenas um percentual muito pequeno tem conhecimento e se interessa na administração e planejamento para uma boa saúde financeira por toda a vida, inclusive na aposentadoria, sem depender da aposentadoria do governo (fadada a “quebrar” nas próximas décadas).