Concursos públicos da área de educação e a Prova Nacional Docente (PND) costumam incluir em seus conteúdos programáticos as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Essas orientações estão estabelecidas pelo Parecer CNE/CP nº 3/2004 e pela Resolução CNE/CP nº 1/2004.

“Elas promovem a valorização da diversidade e o combate ao racismo. É um conteúdo importante por ser obrigatório em sala de aula, já que a lei e as diretrizes o exigem. Na prática, fundamenta a atuação do professor em prol da inclusão, do respeito e da equidade em todas as áreas do conhecimento”, resume a mestre em Educação e professora de legislação pedagógica Maéle Cardoso Avila.

“Assim, o tema não é apenas legal, mas também ético e pedagógico”, avalia.

“As diretrizes ajudam o professor a ter mais embasamento para lidar com situações de racismo estrutural, que podem ocorrer mesmo que de forma involuntária”, destaca o professor de legislação pedagógica Douglas Rodrigues.

Principais legislações

Avila explica que alguns documentos podem ser relacionados, nas provas, às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Constituição Federal  (CF) de 1988

“Geralmente são destacados os princípios da igualdade, pluralismo cultural e direito à educação”, aponta a professora. Os principais artigos da CF que dialogam com as diretrizes são:

Art. 3º, IV – objetivo da República: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor ou idade.

Art. 5º – igualdade de todos perante a lei.

Art. 206, II e III – princípios da educação: igualdade de condições e pluralismo.

Arts. 215 e 216 – proteção à diversidade cultural brasileira.

Lei nº 10.639/2003

Inclui a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira.

Lei nº 11.645/2008

“Amplia a legislação anterior para incluir também a história e cultura indígena”, explica Avila.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, nº 9.394/1996)

Podem ser relacionados artigos da LDB alterados pelas leis de inclusão nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008:

Art. 26-A: ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena obrigatório na educação básica.

Art. 79-B: inclusão em conteúdos curriculares, especialmente nas áreas de artes, literatura, história e geografia.

Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

“A valorização da cultura afro-brasileira e africana está presente nas habilidades e competências, em que os professores devem elaborar planejamentos com descritores sobre o tema”, aponta Rodrigues. Exemplos:

EF09HI03: identificar e avaliar os mecanismos de inserção da população negra na sociedade brasileira após a abolição, reconhecendo a cultura afro-brasileira como elemento de resistência.

EF35EF09: experimentar, recriar e fruir danças populares de matriz africana, valorizando seus significados.

EF09HI04: analisar a participação negra na formação do Brasil.

EF08HI27: avaliar os impactos de discursos civilizatórios sobre populações negras.

“O tema também pode ser relacionado à BNCC por meio das competências gerais ligadas a empatia, respeito e valorização cultural”, complementa Avila.

Documentos da Ministério da Educação e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (MEC/Secadi)

“Alguns editais de concursos também cobram documentos do MEC/Secadi com orientações práticas para aplicação das leis”, afirma a docente.

Temas relacionados ao cotidiano

Segundo a docente, as provas de concursos geralmente focam na legislação, na interpretação das diretrizes e em casos práticos.

“Questões objetivas costumam cobrar a interpretação literal das diretrizes, como artigos, datas e alterações na LDB, enquanto as discursivas podem tratar de estudos de caso, mostrando como o professor deve aplicar na prática as diretrizes étnico-raciais. Há também provas didáticas, que cobram metodologias, inclusão da diversidade no currículo e estratégias de combate ao preconceito”, acrescenta Avila.

Segundo a docente, para estudos de caso, redações e provas didáticas, é importante apresentar como o tema pode integrar o cotidiano escolar, por exemplo: na escolha de literaturas com personagens e personalidades negras, na oferta de brinquedos, no estudo da cultura, esportes, etc. “Outro ponto é que é um conteúdo interdisciplinar e deve estar presente nas diversas áreas do conhecimento e componentes curriculares”, reforça Avila.

Em questões de múltipla escolha, Rodrigues explica que o tema geralmente aparece em um contexto, como situações de racismo ou de inclusão de negros.

“Cada vez mais aparecem situações-problema para verificar se o professor saberia lidar com racismo em sala de aula, assim como projetos que valorizem a diversidade e estratégias de ensino que incluam o protagonismo de alunos negros e indígenas”, adiciona Avila.

Pegadinhas recorrentes:

Entre as principais pegadinhas sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Avila aponta:

  • Confundir as leis: 10.639/2003 (afro-brasileira) e 11.645/2008 (afro-brasileira e indígena).
  • Achar que o ensino é apenas em história. “Na verdade, é transversal”, enfatiza a docente.
  • Esquecer a aplicação na educação infantil e nos anos iniciais.  “Vale para toda a educação básica”, destaca a professora.
  • Trocar a Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial) pela Lei nº 12.990/2014 (cotas).

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