A história da participação das mulheres na Inconfidência Mineira é relativamente recente. Na escola, ela pode ser apresentada a partir da atuação de Hipólita Jacinta Teixeira de Mello (1748-1828), rica proprietária rural que se destacou por seu envolvimento com os inconfidentes, em 1789.
Em 2024, o nome de Hipólita foi incluído no Panteão dos Inconfidentes, recebendo uma lápide no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG). Ela ainda teve o seu nome registrado no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Historiador e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Assis), André Figueiredo Rodrigues explica que Hipólita Jacinta se destaca como a única mulher que teve um papel ativo na Inconfidência Mineira.
“A participação dela foi significativa, atuando na comunicação entre os inconfidentes e contribuindo financeiramente para ações que buscavam dar início ao movimento, especialmente após a prisão de Tiradentes no Rio de Janeiro, em março de 1789”, revela ele, que pesquisa a participação de Hipólita e outras mulheres na Inconfidência Mineira.
“A casa dela, localizada na fazenda da Ponta do Morro, que hoje faz parte do município de Prados (MG), tornou-se ponto de encontro para reuniões secretas. Ela falava sobre a revolta e incentivava as pessoas a lutarem pela liberdade”, compartilha.
O historiador também cita ações corajosas de Hipólita. “Quando a repressão aos inconfidentes começou, ela escreveu uma carta para o marido, que estava preso, incentivando-o a se manter firme. Ela lembrou que ele, assim como os outros participantes, uniu-se ao movimento com o objetivo de buscar um futuro melhor: o fim do domínio português em Minas Gerais”, revela.

Rompendo a esfera doméstica
Rodrigues recomenda citar aos alunos que não era comum, no período, mulheres ultrapassarem a esfera doméstica para terem destaque nas articulações políticas.
“No caso da Hipólita Jacinta, ela rompeu a esfera doméstica, local que geralmente era reservado às mulheres, e se destacou na história por sua voz e suas atitudes políticas. Em um contexto majoritariamente masculino, sua voz se fez ouvir publicamente”, destaca.
“Quando se analisa o caso de Hipólita Jacinta, se rompe com a ideia de subserviência e de silenciamento do papel feminino na história do Brasil”, enfatiza.
Mas, além de Hipólita, houve outras mulheres envolvidas na Inconfidência Mineira? Rodrigues lembra que muitas estavam cientes do clima revolucionário da época. “Embora não tenham atuado tão diretamente quanto Hipólita, muitas influenciavam seus maridos com conselhos sobre como agir em determinadas situações. Porém, não há registros oficiais que comprovem a participação direta delas em reuniões ou na emissão de ordens. Assim, elas ficam em segundo plano na história da Inconfidência”, lamenta.
Paralelo com os dias atuais
Rodrigues diz ser possível traçar com a turma um paralelo sobre as dificuldades vividas por mulheres do período colonial com os desafios da participação social e política feminina nos dias de hoje.
“Embora Hipólita Jacinta tenha vivido na época colonial, suas lutas refletem as dificuldades que muitas mulheres ainda enfrentam hoje em dia. Se já é desafiador para muitas romper com o ambiente doméstico atualmente, imagine como isso era há mais de 200 anos”, compara.
“Falar sobre democracia nos leva a refletir sobre liberdade, igualdade e poder de decisão. Essa é uma experiência política vivida tanto por homens quanto por mulheres. Portanto, é essencial superar o machismo ao contar a história do Brasil”, afirma.
“No caso da Inconfidência, reconhecer Hipólita como uma heroína desse movimento nos ajuda a entender melhor a importância da participação das mulheres em movimentos de contestação”, finaliza.
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