A indústria farmacêutica produz testosteronas artificiais que estimulam o crescimento do tecido muscular. São os chamados Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA), cuja finalidade original é o tratamento de doenças que provocam atrofia muscular. “Porém, quando usadas para ‘ganho muscular’ essas doses são maiores que as recomendadas e aumentam os riscos de câncer no fígado, doenças cardíacas, agressividade, esterilidade e testículos atrofiados”, lista a professora Carla Brigo, que leciona ciências no ensino fundamental do município de Chiapetta (RS) e química na rede estadual. Ela aponta que o assunto pode ser tratado no âmbito das disciplinas.

Professora de química no estado do Paraná, Leandra Bevilaqua Trevisan notou uma mudança corporal repentina em um aluno do 3º ano do ensino médio, que ficou musculoso em um curto espaço de tempo. “O jovem ficou com um aspecto ‘bombado’. Isso me fez pesquisar sobre os perigos dos anabolizantes e alertar os estudantes sobre o tema”, relata. Para isso, ela associou o assunto ao conteúdo de química orgânica, construindo uma sequência didática de cinco etapas.

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“Primeiro, procurei despertar curiosidade sobre os anabolizantes a partir de imagens e vídeos, discutindo também efeitos colaterais”, conta. Em um segundo momento, foi priorizada a relação entre a química orgânica a as fórmulas estruturais dessas substâncias. “Identificávamos as funções orgânicas presentes nelas e elaboramos jogos didáticos sobre o tema”, explica a professora.

A terceira e a quarta etapas envolveram palestras com enfermeira e farmacêutica sobre esteroides, assim como a elaboração de cartazes informativos. “Finalizamos com uma campanha de conscientização na escola, organizada pelos alunos”, lembra Trevisan. Para ela, o projeto aproximou a escola dos jovens, além de conscientizá-los. “Um desafio foi fazê-los confiarem em mim para relatar suas experiências com o uso dessas substâncias”, compartilha ela, que transformou a experiência em artigo.

Hormônios sexuais

Brigo também escolheu reservar suas aulas sobre química orgânica para discutir o uso incorreto dos esteroides. “A importância é a prevenção de futuros problemas físicos e psicológicos quando essas substâncias são utilizadas sem prescrição médica”, alerta. Em sua dissertação “Hormônios Sexuais e Química: uma proposta para o ensino de química orgânica”, ela trabalhou com alunos do ensino médico um olhar para a química presente nessas moléculas. Em virtude da pandemia, a sequência didática foi realizada por ensino remoto.

“Apresentei os grupos funcionais, estrutura, fórmulas e um pouco do histórico dessas substâncias, enfatizando sua finalidade original”, afirma. Na avaliação, a docente utilizou a metodologia de pré e pós-teste. Primeiro, checou os conhecimentos prévios dos alunos sobre os hormônios sexuais com um pré-teste online. “O conhecimento prévio é a variável que mais influencia a aprendizagem significativa”, opina.

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O tema aparece no ensino fundamental, em ciências, quando se aborda o sistema endócrino. “Além disso, já fez parte da vida de cada um, pensando nas transformações físicas no corpo presentes na adolescência”, descreve. Depois, discutiu com os alunos a letra da música “Não vou me adaptar”, interpretada pelo cantor Nando Reis e trouxe uma aula expositiva sobre conceitos de bioquímica e lipídios, enfatizando colesterol e hormônios sexuais. “Também trabalhei o artigo intitulado A Química do Amor, do autor Paulo Ribeiro Claro”, conta a professora. Ao final, a aplicação de pós-teste verificou quais conceitos necessitavam de maiores explicações.

Metodologias ativas

Para discutir anabolizantes e química orgânica, Brigo apostou em duas metodologias ativas: sala de aula invertida e aprendizagem entre pares. “Os estudantes relataram gostar de receber antecipadamente o material da aula para ler e anotar suas dúvidas”.

Após todos responderem o teste, eles debateram suas respostas. “Quando as argumentações terminavam, eu explicava a resposta correta”, diz. A sequencia didática foi finalizada com um vídeo do médico Drauzio Varella e reportagens jornalísticas sobre o tema. “Os estudantes perceberam que, na química, alguns átomos acrescidos ou retirados modificam substâncias. E que não existe uma fórmula secreta para um corpo ideal”, pondera.

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