O tai chi chuan é uma prática cultural que permite abordagens diversas na educação física escolar. “Ele tem relação com a filosofia taoísta, com a medicina tradicional chinesa e com os mitos e conhecimentos populares da China. Ao apresenta-lo, é possível ir além do aprendizado dos movimentos em si”, lembra o mestre em educação física Samuel Ribeiro dos Santos Neto.

Apesar de ter surgido como arte marcial, o tai chi chuan também é praticado como meditação. “Ele possui ligação com as técnicas de Qi Gong, prática que combina respiração e movimento para desenvolver o Qi, que é a energia vital na medicina tradicional chinesa”, pontua o professor.

“A qualidade dos gestos e a atenção às transformações internas durante a prática faz com que a chamemos de meditação em movimento”, explica a professora de Artes Marciais Analiz Pergolizzi.“É uma atividade em que o ritmo é guiado pela respiração. Desenvolvemos noção de espaço, aprendemos a nos equilibrar, a adquirir mais autoconfiança e diminuímos a ansiedade”, destaca.

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Em termos históricos, a prática foi criada no século XVII pelo general Chen Wangting. “Ex-funcionário público, ele havia estudado os clássicos da literatura chinesa. Por isso, envolve conceitos do pensamento e medicina chinesa”, conta Pergolizzi. “Para que a prática fosse mais acessível, foi desenvolvida de forma menos marcial e mais terapêutica, com gestos amplos e mais tranquilos, movimentos suaves e simples”, completa.

Ensinando crianças

Além da tematização de seus aspectos culturais e históricos, o tai chi chuan pode ser ensinado por meio de jogos e brincadeiras. Confira algumas abaixo listadas pelos professores!

Transporte de borboletas

Cada aluno coloca borboletas de papel em partes do corpo como cabeça, ombro e costas das mãos, sem segurá-las. O desafio é percorrer a quadra lentamente, sem que o deslocamento do corpo faça as borboletas voarem. “Isso trabalha a forma de se movimentar do tai chi chuan, que são passos lentos e suaves com transferência gradual de peso entre os pés, mantendo os joelhos flexionados”, diz Neto.

Estátua

“A ideia é estimular posturas tradicionais do tai chi que exigem equilíbrio, de forma que se fique apenas em um apoio de perna. Elas podem ser incorporadas em desafios dentro de jogos como estátua, vivo-morto, pega-pega gelo, etc.”, recomenda o professor.

Mimetização de animais

Esta brincadeira propõe imitar posições de animais. “As artes marciais chinesas se utilizam deste recurso com os estilos de animais, assim podemos trabalhar a garça, o galo, o cavalo, o tigre, o dragão etc.”, indica Pergolizzi.

Posturas de equilíbrio

O equilíbrio em um pé só, com um constante exercício de isometria, é muito presente nas práticas de tai chi. “Trabalhe posturas em que as crianças se desafiem com apoio unilateral, como avião ou postura do galo dourado e chutes do tai chi chuan”, ressalta Pergolizzi.

Espelho

A ideia é praticar na frente do espelho. Aos se olharem, as crianças espelham os movimentos ensinados. “Exercício para desenvolver o foco e concentração”, diz Pergolizzi.

Equilibrar bolas na cabeça ou em outras partes do corpo

Essa também é uma brincadeira que exercita a concentração. “Trabalha o alinhamento postural e o reconhecimento do seu próprio eixo”, justifica Pergolizzi.

Pintar com água

Analiz Pergolizzi conta que, nas praças chinesas, senhores escrevem a caligrafia chinesa — ideogramas — com um pincel longo no chão. “A água representa a transformação e há o desapego com as formas, também conceito fundamental dessa arte marcial”, destaca a professora. “Sugiro trabalhar círculos com a ponta dos dedos e pés, ou com algum pincel improvisado nos chãos ou paredes”.

Caminhar se equilibrando

Caminhar de frente, de costas, com os calcanhares no chão e dedos para o alto, entre outros. “Caminhamos o tempo todo durante a prática do tai chi chuan, assim, os pés e tornozelos precisam se mover com precisão”, explica Pergolizzi.

João-bobo

Em grupos de cinco alunos, uma criança fica no centro e estende o corpo, evitando “amolecer”, enquanto as outras crianças sustentam seu corpo cuidado. “Desenvolvemos além da ativação do core e desenvolvimento de força, a confiança entre os alunos”, diz a professora.

“É comum as pessoas confundirem relaxamento com moleza, ativação com dureza. Aqui para sustentar o próprio corpo e o corpo do colega precisamos encontrar este equilíbrio nas intenções. Além disso, mostramos as possibilidades de bases mais firmes e aos que são sustentados, há a possibilidade de perceber o controle da postura com o core ativado”.

Brincadeiras com balão

Os balões são leves e lentos. “É possível dançar ou lutar com eles, equilibrá-los, jogar para o alto, fazer desenhos no ar segurando-os, tentar atingir os balões com golpes controlados ou com saltos, entre outros”, diz Pergolizzi.

Movimentos

Neto recomenda ensinar aos alunos as posições ou bases tradicionais dos membros inferiores no tai chi, que são também as do kung fu: cavalo, arqueiro, gato, entre outras.

“Quanto aos movimentos, comece com o inicial: abertura suave das pernas na largura dos ombros, com os joelhos flexionados, e a realização de uma respiração profunda, que se dá junto a um movimento de subida e descida dos dois braços. Como se pintássemos uma parede com dois pincéis”, descreve o professor.

“Na subida, inspira-se, na descida, solta-se o ar. Podemos ensinar também o modo de se deslocar para frente do tai chi, alternando a passada na postura do arqueiro após uma oscilação suave do peso, ou mesmo outros movimentos mais complexos, como o ‘alisar a cauda do pássaro’, que combina os gestos de aparar, desviar, pressionar e empurrar”, diz.

“Se houver condições dentro do planejamento do professor, é possível juntar essas técnicas básicas em pequenas coreografias, de forma que os alunos vivenciem um pouco a sensação de fazer tai chi”, complementa.

Doutorando em ciências fisiológicas, Heleno Almeida Júnior recomenda apresentar o zhan zhuang (abraçar a árvore): “É uma meditação em pé que pode ser inserida dentro da sala de aula, em pequenos intervalos entre uma aula e outra”. Outra opção é o yun shou (mãos de nuvens). “Além de meditativo, exige maior coordenação entre membros inferiores e superiores”, analisa Pergolizzi.

Referências

Como material de base para o estudo e preparação do professor, Neto sugere o livro “Tai Chi Chuan – Saúde e Equilíbrio”, de Fernando de Lazzari. “Traz um resumo da história e técnicas básicas”, explica.

Pergolizzi recomenda o livro “Artes marciais, lutas e esportes de combates da perspectiva da educação física escolar: reflexões e possibilidades”, organizado por Antunes e Almeida. Para compreender elementos básicos práticos sobre base e postura, a professora sugere também os perfis de Instagram e Facebook @artetaiji. Por fim, há ainda uma aula básica em vídeo no canal do professor Heleno Almeida Jr.

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