Depois de um ano atípico com a pandemia de covid-19, milhões de jovens estão na reta final de preparação para os exames de entrada na universidade. Tanto o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quanto as provas da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) — instituição responsável pela elaboração do vestibular da Universidade de São Paulo (USP) — acontecem em janeiro de 2021. Para falar das melhores táticas para pontuar bem nos testes, o Instituto Claro convidou o professor Daniel Perry, diretor do Anglo Vestibulares.
“A melhor estratégia de prova é aquela que leva o candidato a acertar mais questões. Então, definir a ordem das matérias é essencial. Também é importante, primeiro, resolver as questões fáceis, de resolução imediata”, resume.
No áudio, Perry explica o que costuma ser levado em conta na elaboração das provas do Enem e da Fuvest. O entrevistado cita a estratégia conhecida como “pega-varetas” como uma das mais importantes. Trata-se de um paralelo com o tradicional jogo em que varetas de diferentes cores são espalhadas e os jogadores precisam tirá-las do monte sem esbarrar nas outras, optando, portando, pelas mais fáceis, as que estão soltas.
“O candidato ao final da prova, quando for conferir o gabarito, tem que perceber que ele acertou tudo o que sabia. E se acertar tudo o que sabe, ele já caminha a passos largos para a aprovação”, resume. Ainda no podcast, Perry responde se há matérias que contam mais do que outras e se tem ou não “pegadinhas” nas questões desses exames. Para quem quiser reforçar os estudos na véspera da prova, ele traz outra dica: escutar podcasts com os livros exigidos pela Fuvest. Aqui, no portal do Instituto Claro, eles estão reunidos na série Livro Aberto.
Veja também:
9 podcasts que analisam os livros da Fuvest 2021
Estudo em casa: 6 dicas de preparação para vestibular e Enem
Pesquisa indica estudantes propensos à evasão escolar e abandono do Enem pós-quarentena
Música: “Double You”, de The Mini Vandals, de fundo
Daniel Perry:
A melhor estratégia de prova é aquela que leva o candidato a acertar mais questões. Então, definir a ordem das matérias é essencial e, também, é importante, primeiro, resolver as questões fáceis, de resolução imediata.
Eu sou o Daniel Perry, professor de história, autor de materiais didáticos e diretor do Anglo Vestibulares.
Vinheta: “Instituto Claro – Educação”
Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo
Marcelo Abud:
O ano de 2021 vai começar com 130 mil inscritos buscando uma vaga para a USP e quase 6 milhões prestando o Enem. Quais as estratégias para jovens alcançarem êxito nessas provas? Nesta edição, conversamos sobre o assunto com o professor Daniel Perry, que começa destacando o que caracteriza a prova da Fuvest…
Daniel Perry:
… é o alto nível de exigência em todas as matérias. Uma prova muito bem feita que busca selecionar os candidatos mais preparados; é uma prova muito rica na sua abordagem. Há questões tradicionais, mais conteudistas, com enunciado curto. Mas há questões que envolvem leitura de texto, análise de fontes visuais, como obras de arte; gráficos, tabelas. Há questões contextualizadas e interdisciplinares. É, portanto, um dos vestibulares mais difíceis do país e, também, mais inteligentes.
Marcelo Abud:
Apesar de haver semelhanças entre as duas provas, há aspectos que são marcantes ao Exame Nacional do Ensino Médio.
Daniel Perry:
O Enem tem como característica não cobrar assuntos muito específicos, notas de rodapé; ele não possui questões conteudistas. Todas as questões do Enem são contextualizadas e a leitura do enunciado é muito importante para a resolução do teste. A prova do Enem é uma prova que dialoga muito com a contemporaneidade, de uma forma ainda mais marcante do que um vestibular mais tradicional como a Fuvest.
Música: “Índios” (Renato Russo), com Pitty e Orquestra Sinfônica Brasileira
Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente
Marcelo Abud:
A forma como as provas são corrigidas também pode ser um fator a ser levado em conta.
Daniel Perry:
Uma outra diferença importante é que a Fuvest é corrigida pela teoria clássica. A quantidade de acertos e questões determinam a pontuação. Já o Enem é corrigido pelo TRI, teoria de resposta ao item, que valoriza a coerência pedagógica. Então duas pessoas que acertaram o mesmo número de questões podem ter notas diferentes. A nota maior vai ser da pessoa que apresentar maior coerência. No vestibular como Fuvest, duas pessoas que acertam o mesmo número de questões vão ter a mesma nota. Sempre.
Marcelo Abud:
Para o professor, uma maneira de decidir quais perguntas responder primeiro é utilizar a estratégia “pega-varetas”.
Daniel Perry:
Ela é baseada naquele jogo de varetas coloridas, um jogo bem antigo, em que os jogadores tiram de um tubo, espalham pela mesa varetas finas de várias cores. Cada cor tem uma pontuação, então, por exemplo, amarelo é 1, vermelho é 2, verde é 3, azul é 4, preto é 5 e assim por diante. Ganha quem acumular mais pontos. Só que os jogadores têm que tirar as varetas do monte, sem esbarrar uma na outra. Então por quais varetas eles começam? Pelas que estão soltas, às margens ali do monte. Ou seja, começa pelas mais fáceis e vai acumulando pontos.
Música: “Fácil” (Marcos Tulio De Oliveira Lara / Rogerio Oliveira De Oliveira / Paulo Roberto Diniz Junior / Marcio Tulio Marques Buzelin / Paulo Alexandre Amado Fonseca / Wilson Da Silveira Oliveira Filho), com Jota Quest
Fácil, extremamente fácil
Pra você, e eu e todo mundo cantar junto
Daniel Perry:
Quando a gente transpõe isso para o vestibular a gente usa a mesma lógica ao defender que o candidato resolva as questões mais fáceis – pra ele – primeiro, pulando as mais difíceis. Passa para o gabarito, respira e na sequência ele vai lutar com as questões mais complexas, já tendo garantido uma parcela da pontuação necessária. Porque o candidato ao final da prova, quando for conferir o gabarito, tem que perceber que ele acertou tudo o que ele sabia. E se ele acertar tudo o que ele sabe, ele já caminha a passos largos para a aprovação.
Marcelo Abud:
Daniel Perry esclarece se há alguma matéria que tem mais peso nesses exames.
Daniel Perry:
No caso da Fuvest, português tem mais peso porque tem mais questões na primeira fase do que as demais matérias e, na segunda fase, tem um dia que é só português e redação. Então o peso da área de português e redação na nota final supera os 40%. No caso do Enem, a gente soma as questões da área de linguagens com redação, também tem mais peso, portanto. Só que no caso do Enem depende da faculdade. Então, numa mesma universidade, cursos diferentes podem dar pesos diferentes às notas na área do conhecimento. As faculdades de engenharia dão mais peso pra matemática e ciências da natureza; as faculdades de direito dão mais peso para linguagens e ciências humanas. Então varia de universidade pra universidade, de carreira pra carreira. Agora, no geral, português sempre vai ter mais importância.
Música: “Assaltaram a gramática” (Lulu Santos , Wally Salomão), com Lulu Santos
Assaltaram a gramática
Assassinaram a lógica
Botaram poesia
Na bagunça do dia a dia
Marcelo Abud:
O professor afirma que uma boa prova não traz as temidas pegadinhas, mas exige atenção redobrada na hora da escolha da alternativa correta.
Daniel Perry:
Pegadinha é coisa de vestibular antigo, cujo nível não é tão elevado. A dificuldade das questões no Enem e na Fuvest vai estar no enunciado, que muitas vezes é um enunciado sofisticado; e nos distratores de cada alternativa. O que é um distrator? É um elemento, na alternativa, que induz o candidato ao erro. Então o distrator complexo pode ser aquele que leva o candidato a acreditar que a alternativa é a correta, que condiz com o que está sendo pedido, mas não é. Quanto mais sofisticado é o distrator, mais dificuldade o candidato vai ter de descartar aquela alternativa. Sabe aquela alternativa que parece que é verdadeira? É porque ela tem um distrator mais sofisticado que induz o candidato ao erro, seja porque ela está em contradição com o que se pede, seja porque o que está na alternativa é correto, mas não correto em relação ao que se pede. Isso é muito comum. A alternativa isoladamente está certa, mas ela não está relacionada com o que se pede. Então daí a necessidade da leitura muito atenta.
Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo
Marcelo Abud:
Uma outra dica do diretor do Anglo Vestibulares é ouvir podcasts sobre os livros exigidos no vestibular, para relembrar ou mesmo entrar em contato com as obras. No texto que acompanha esse podcast, você encontra um link com a série Livro Aberto, que traz todas as obras solicitadas para o vestibular da Fuvest, em janeiro.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.