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Humorista e influencer digital, o professor Diogo Almeida está lançando o livro “Elvis – o som da inclusão” pela editora Vienense. A obra trata do aluno autista Elvis e a relação dele com uma de suas professoras, que se esforça para que ele seja incluído no ambiente escolar. O livro retrata alguns episódios e diálogos cômicos entre aluno e professora. “É uma história sobretudo engraçada. A pessoa com deficiência, como qualquer outra pessoa, está sujeita a ter momentos engraçados na sua vida. Não é rir da pessoa, não é rir da deficiência, mas rir com as situações que acontecem”, explica o escritor.

Filho de professora, Diogo também trabalhou como professor por sete anos e gostava de levar sempre o humor para a sala de aula. Neste período, começou a se apresentar também como humorista em clubes de “stand up comedy”. Por conta de sua vivência em escolas, passou a incluir nas apresentações histórias em torno da rotina e percalços da vida de profissionais da educação.

“Eu considero o humor como uma ferramenta de aprendizagem mesmo. Então todas as minhas aulas eram premiadas com humor. Eu gostava de contar histórias com uma narrativa engraçada. Eu vi que isso dava um resultado muito grande em sala de aula”, revela.

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Transcrição do Áudio

Música: “Family Montage”, de Biz Baz Studio, fica de fundo

Diogo Almeida:
É uma história sobretudo engraçada, a pessoa com deficiência, como qualquer outra pessoa, ela tá sujeita a ter momentos engraçados da sua vida, né? Não é rir da pessoa, não rir da deficiência, mas rir com as situações que acontecem. Por exemplo, as pessoas dentro do espectro autista, elas são muito literais, então tem trechos no livro que a professora tá numa situação com o Elvis, e aí o Elvis foge dela e ela fala pra mãe depois ‘nossa, o Elvis fugiu, ele quase me matou do coração’, aí o Elvis começa a gritar ‘eu não sou um assassino!’ é porque (risos) ele entendeu que ele era um assassino, ele não consegue entender essa questão da ironia, da figura de linguagem, então, esses momentos do livro, eu tento colocar muita graça nisso.
Meu nome é Diogo Almeida, sou professor e humorista há 12 anos e há cerca de 7 anos mais ou menos eu tenho levado o humor pro mundo pedagógico, pro mundo acadêmico, falando sobre a vida escolar, com esse show chamado “Vida de Professor” que tá no seu segundo volume, então esse é um pouquinho aí, da minha trajetória.

Vinheta: Livro Aberto – Obras e autores que fazem história

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Diogo Almeida ficou conhecido pelo show “Vida de Professor” e pelos conteúdos que produz para a internet envolvendo histórias pedagógicas. O fato de ser filho de uma professora e ter tido experiência em sala de aula durante sete anos o motivaram a escrever. Neste episódio, ele revela detalhes a respeito de seu segundo livro: “Elvis, o som da inclusão”. Antes, Diogo nos conta como humor e educação se encontraram na trajetória que tem seguido.

Diogo Almeida:
Eu acho que o humor, ele apareceu na minha vida desde a condição de aluno. Eu fazia brincadeira ali com os meus amigos. E aí, depois, eu tava numa época muito, precisando de dinheiro, pra pessoa recorrer (risos) à licenciatura porque tá precisando de dinheiro é porque tá precisando muito. Mas eu descobri que com uma formação superior, eu poderia dar aula ali nos cursos profissionalizantes. E aí, em sala de aula, já com o humor mais enraizado na minha vida, que eu já tinha começado ali a dar os primeiros passos no stand-up, eu comecei a utilizar essa técnica. Eu considero o humor como uma ferramenta de aprendizagem mesmo. Então todas as minhas aulas, elas eram permeadas com humor, eu gostava de contar histórias com uma narrativa engraçada, eu vi que isso dava um resultado muito grande em sala de aula. Os alunos até, às vezes, quando a aula era um pouco mais séria, eles reivindicavam ‘ah não, hoje não teve piada. Ah não, hoje a aula tá muito chata’ porque (risos) você acabava deixando eles mal-acostumados, sempre com uma piada, uma brincadeira, então eu, aí juntei as duas coisas. Quando eu estava em sala de aula, eu peguei tudo que eu gostava, que eu já trabalhava do humor e trouxe pra dentro da sala de aula.

Marcelo Abud:
A junção entre humor e educação resulta em livros sobre o ambiente escolar.

Diogo Almeida:
Então, o primeiro livro é “Um Anjo de mochila azul” que é a história de uma professora que conta seus problemas de vida, problema afetivo, problema financeiro, problema espiritual e ela encontra no espírito de um aluno, que surge na vida dela, uma luz pra ela tomar ali as rédeas da vida dela, e o segundo livro que é o “Elvis: O som da inclusão” é também a história de uma professora que ela tá ali à beira de se aposentar e ela encontra um desafio muito grande no seu último ano de sala de aula, que é um aluno, dentro do espectro autista, e ela percebe que durante essa trajetória em que ela decide fazer o processo de inclusão desse aluno, ela aceita esse desafio, ela percebe que ela aprende muito mais com ele do que (ele) com ela, quando ela se permite se entregar de verdade pra esse relacionamento.

Marcelo Abud:
O escritor revela o que o motiva a escrever sobre um protagonista autista e a tratar da vital importância da inclusão.

Diogo Almeida:
Na verdade, foram uma junção de fatores. Primeiro que eu percebo que o número de alunos dentro do espectro autista e dentro de outras síndromes e dentro da deficiência, eu não sei se tá aumentando mesmo o número de casos ou simplesmente o número de diagnóstico que hoje em dia eles são mais recorrentes e são mais precisos, não tem esse dado científico, mas um fato é que tá aumentando e eu percebo isso pela troca que eu tenho com os professores que essa realidade da inclusão ela está muito mais presente hoje dentro do mundo acadêmico, pedagógico, do que tava há alguns anos atrás. Um segundo fato, eu tenho um irmão com deficiência física, então eu acho que inconscientemente essa questão da inclusão e de ver as dores de uma família e de um familiar com os desafios e as dificuldades da inclusão, talvez, tivesse ali adormecido.

Música: “Epitáfio” (Sergio Affonso / Eric Silver), com Titãs
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração

Diogo Almeida:
E um terceiro ponto foi um caso. Eu lembro que eu fui me hospedar numa cidade muito simples que só tem um, dois hotéis. Café da manhã simples que nos deixa triste, que a gente quando gosta de ir em hotel, é que a gente gosta do café da manhã diferente do que a gente toma em casa, né? E aí esse hotel eu vi que ele tinha uma estrutura pra receber pessoas de fora do Brasil, todo seu linguajar adaptado, ‘Seja bem-vindo’ ‘Welcome’ pra todos os idiomas, mas ele não tinha acessibilidade nenhuma. E eu perguntei pra moça ‘vocês já receberam algum estrangeiro aqui?’ ela falou ‘não’ eu falei ‘mas é muito mais provável que você vá receber aqui uma pessoa com deficiência do que alguém de fora’, porque era uma cidade muito simples assim.
Isso me deu também um insight, uma epifania do tipo sempre quando vem alguém de fora, das Olimpíadas ou Copa do Mundo, a gente faz um cerimonial pra receber quem é de fora, a gente quer acolher da melhor forma possível e a inclusão da pessoa com deficiência, a gente trata como se fossem invisíveis, assim, sabe a gente, muito pelo contrário, é uma luta diária. Então eu acho que juntando esses 3 pontos aí da minha vida, e eu falei ‘não, eu quero escrever uma história que sobretudo é uma ficção, que sobretudo é divertida, que sobretudo é uma história alegre, mas que tenha como viés ali a inclusão que é, acho que é interessante falar sobre isso.’

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
Uma preocupação de Diogo é com a formação de professoras e professores para a inclusão.

Diogo Almeida:
Eu acho que a formação dos professores, infelizmente, ela é fragilizada, ela é superficial, ela é quase inexistente quando o quesito é inclusão, quando o quesito é lidar com o aluno com espectro autista. E o professor, como a maioria das coisas que acontecem na vida do professor, ele vai aprender fazendo. Se ele recebe um aluno com espectro autista, ele vai estudar, ele vai correr atrás, mas a preparação vem muito em relação à disposição individual daquele professor, não que o sistema primeiro ele te prepara para que você possa estar 100% preparado para receber essa condição. A própria condição faz com que você se prepare. Pensando nisso também, toda a receita do livro a gente vai doar em prol da formação dos professores. É uma maneira da gente devolver para a educação aí o que a educação sempre foi muito benéfica comigo.

Música: “Somos professores” (Paulo Sergio Oliveira de Carvalho)
Não temos tempo a perder
Nossa missão é nobre
Transformar pessoas
Através da educação

Som de página sendo virada

Marcelo Abud:
A ideia do escritor é utilizar o humor em algumas situações, mas também tratar do drama que envolve a relação entre a professora e o aluno com espectro autista. Diogo Almeida pretende surpreender o público.

Diogo Almeida:
E eu vou ler aqui um trecho aqui pra vocês que eu separei, porque a gente confunde muito inclusão com o simples fato de colocar a criança ou o aluno deficiente junto com os outros. Isso não é incluir, incluir é fazer com que ele tenha relações, com que ele tenha acesso ao conteúdo. Às vezes o aluno ele pode estar junto mas se ele não tiver incluído ele vai estar segregado. Ele vai estar lá simplesmente junto dos outros, mas fazendo uma outra atividade. Então é um momento que a dona Dulce, que a professora Dulce se sente, assim, uma tristeza profunda, onde ela vê que o menino Elvis, apesar de ele estar na escola, ele não tava sendo incluído. E é essa cena aqui…

Som de página de livro sendo virada

Diogo Almeida:
Chegando lá vi o Elvis sentado sozinho se balançando. A professora não estava e ele permanecia ali. Ele estava manuseando algumas tampinhas de garrafa Pet, e aparentemente estava contando e recontando. Ele colocava todas numa caixa e depois as tirava, depois as colocava novamente. No período em que dona Dulce permaneceu ali, ele fez isso umas três vezes. Era difícil identificar qualquer emoção, Elvis parecia em transe. Não dava pra saber se ele estava triste, feliz, se aquilo soava para ele como uma brincadeira ou como uma condenação. Mas, aos olhos de dona Dulce era uma atividade que mais parecia como uma pena que o pobre Elvis estava destinado a cumprir. Dona Dulce não falou nada, não chamou Elvis, ficou só observando. Observou tanto que até se perdeu no horário.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Diogo Almeida mescla humor e relatos que ouve no contato com o público para produzir conteúdos que visam gerar empatia e uma educação transformadora.
Marcelo Abud para o Livro Aberto, do Instituto Claro.

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