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O desenho animado Cyberchase foi criado nos Estados Unidos com finalidade educativa. Desde os primeiros episódios, lançados em 2002, o seriado inspira crianças a entenderem conceitos matemáticos. No Brasil, ele é exibido pela TV Cultura e no canal infantil do mesmo grupo, Rá-Tim-Bum.

Por meio do departamento de matemática da Universidade Estadual Paulista, no Campus São José do Rio Preto, a professora Amanda Ruvina Procópio trabalhou o desenho com alunos do 6º ano de uma escola pública da região. As práticas educativas abordaram os conceitos trazidos no episódio “Pelos poderes de Zeus” e se basearam nos desafios propostos pela animação.

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Zeus e as frações

No episódio, Zeus dá um enigma às crianças. A primeira missão é dividir uma coroa de louros para as três bruxas da mitologia. E eles têm que dividir em partes iguais. “A coroa de louros é um arco e cortar coisas redondas não é muito fácil. Então, qual a estratégia que as crianças usam? Elas pegam uma linha, colocam em cima da coroa e tem o formato da coroa. Aí eles esticam a linha. É muito mais fácil cortar uma reta em partes iguais do que uma curva”, exemplifica a professora. No mesmo episódio, há uma missão em que as crianças tem que dividir barras de ouro, atividade que ajuda a entender melhor as frações.

“E depois de fração vem os números decimais. Se os alunos entendem muito bem fração, eles conseguem entender melhor os decimais”, observa a professora. Este é um dos resultados citados por ela a partir das gincanas realizadas a partir do episódio. No áudio, ela cita outros episódios do desenho que podem ser usados para inspirar atividades lúdicas de matemática

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Transcrição do Áudio

Música: Twelve Speed (Slynk)

Amanda Ruvina:
Eu sempre gostei de matemática, tanto é que eu me tornei uma professora de matemática (risos). E o desenho, fui despertando ali, talvez, já o meu interesse. Conforme eu fui ficando mais velha, eu fui começando a associar o desenho à matemática. Tem um episódio inteiro que trabalha com equação de primeiro grau. Quando eu vi, eu não estava nem perto de aprender equação de primeiro grau na escola. E aí quando eu aprendi e revi o desenho, eu falei ‘gente, que incrível!’ (risos) não é?. Tipo, eu tinha tudo aquilo ali, ‘tava’ todo o conteúdo matemático ali, e eu não percebi na época. Mas quando eu percebi foi, tipo, diferente pra mim.
Meu nome é Amanda, sou professora de matemática, pedagoga também.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música “The Jam” (Slynk & Mr Stabalina) fica de fundo

Marcelo Abud:
O desenho animado Cyberchase, exibido no Brasil pela TV Cultura, inspirou crianças e adolescentes a se interessarem pela matemática. É o caso de Amanda Ruvina Procópio, que hoje é professora e utiliza episódios da animação para aproximar suas turmas do aprendizado da matemática, de forma lúdica.

Amanda Ruvino:
Eu sempre vi os desenhos da TV Cultura e quando via Cyberchase eu já ‘tava’ ali já no 6º ano, já era um pouquinho mais velha, e o desenho em si já me chamava atenção. Porque eu gostava dessa parte de viagem do espaço, que eles viajavam, né, no ciberespaço; da parte histórica, que quase todos os episódios têm algum fato histórico…

Música de abertura de Cyberchase:
Outros mundos, muito sites vamos ver
Nós somos fortes!
Um, dois, três, quatro!
Vem pro Cyberchase!
Somar para vencer

Amanda Ruvino:
Na faculdade, o trabalho que eu apresentei, fiz junto com uma amiga minha, a Maryeli – e a gente fazia associação (inclusive, na faculdade) com o desenho. Tem um episódio que trabalhou possibilidades de fazer combinações: eu tenho três cores e três roupas. Quais as combinações possíveis? A gente estava nessa aula de grafos e o professor falou de árvores, que são grandes grafos, que quando tem muitas árvores de grafos é uma floresta.
Na hora que o professor falou isso, a gente associou um episódio que eles literalmente montam uma árvore. E essa árvore forma as possibilidades que eles têm de alavancas e botões que eles têm que apertar. A partir do momento em que eu tive o embasamento teórico, o desenho ficou muito mais rico. Ele já era rico pra mim, ele ficou ainda mais.

Marcelo Abud:
No Departamento de Matemática da Universidade Estadual Paulista – Unesp – Campus São José do Rio Preto, Amanda trabalhou com alunos do 6º ano de uma escola pública da região os conceitos que estão no episódio “Pelos poderes de Zeus”.

Amanda Ruvina:
Existe o Hacker, que ele quer destruir a placa-mãe. É igual o episódio do Scooby-Doo: sempre tem um vilão que as crianças impedem (né, são três crianças) e o Dígito, que é o passarinho lá, que é amiguinho deles, seria a mascote deles – seria o Scooby-Doo…

Música de abertura de Cyberchase:
Cyberchase!
Unidos, o Hacker vamos derrotar
Ele vai tentar de tudo, mas a Placa Mãe irá nos ajudar
A nossa aventura vai começar

Amanda Ruvina:
Eles estão no site da Grécia; começa já o episódio eles fugindo do Hacker, que eles estão com a Caixa de Pandora, que ‘tá’ todo o caos do mundo, segundo a mitologia. Na hora que o Hacker tira a caixa deles, o Zeus fica bravo e dá um enigma pra eles: questão de partes iguais; divisão; e fala assim que só vai ‘perdoar eles’, só vai tirar eles lá (porque eles estão presos no site) se eles cumprirem essa missão.
E a primeira missão é dividir uma coroa de louro para as três bruxas da mitologia, que uma faz a linha da vida, uma tece a vida e a outra corta a linha da vida. E eles têm que dividir essa coroa de louro em partes iguais pra que elas falem o caminho que eles têm que seguir.

Marcelo Abud:
As práticas educativas desenvolvidas por Amanda e Maryele reproduziram os desafios trazidos no episódio.

Amanda Ruvina:
A coroa de louro ela é um arco, e cortar coisas redondas não é muito fácil. Então qual a estratégia que as crianças usam? Elas pegam uma linha, colocam em cima da coroa, e aí tem o formato da coroa. Aí eles esticam a linha. É muito mais fácil você cortar uma reta em partes iguais do que uma curva. Isso já entra na matéria de 9º ano, de 1º ano de ensino médio, da parte de geometria, já é uma matéria muito avançada. Só que pra resolver o problema naquele momento você nem precisa se aprofundar naquilo, que é uma estratégia. Porque aí a hora que entra assim, tipo, ‘ah, como que a gente pode dividir?’ Vamos pegar uma linha, é mais fácil cortar a linha reta!

Marcelo Abud:
Outra missão do episódio “Pelos poderes de Zeus”, envolve a divisão de barras de ouro. Com isso, fica mais fácil para estudantes entenderem o estudo de frações.

Amanda Ruvina:
A gente (risos) ficou montando umas barrinhas de ouro… eles têm que dividir as barras de ouro em partes iguais pra dois (eu não sei como é o nome da criatura, é metade humano, metade cabrito) – e eles estão lá brigando, que eles não conseguem dividir, porque eles têm quinze partes de ouro e não dá pra dividir por dois. Aí as crianças chegam e falam assim ‘oh, se vocês repararem, uma barra inteira vale duas dessas’ (aí vai mostrando já frações equivalentes).
Então: uma barra inteira; meia barra; meia barra / meia barra, dá uma; quatro pedaços, que é 1/4 de cada barra, que dá uma; e depois oito pedacinhos, que formam uma barra. Aí eles falam assim ‘tá, e agora como que a gente vai dividir igualmente?’. Eles falam assim ‘oh, você fica com a barra inteira’. ‘Ah, e eu? (já até fica nervosinho). Assim ‘oh, você fica com as duas metades, que valem a uma’. Aí um outro: ah, você fica com quatro pedaços, que já valem a uma. ‘E você fica com oito, que já valem a uma’.
Então já trabalhou frações equivalentes e divisão de fração.

Marcelo Abud:
A professora apresenta os resultados obtidos com o uso do desenho Cyberchase no ensino fundamental.

Amanda Ruvina:
Do estudo de frações, melhorou muito. Eles começaram a associar melhor porque, depois de fração, vem o quê? Números decimais. Se eles entendem muito bem fração, eles conseguem entender melhor decimais. Uma dificuldade que eu vejo, como professora, é na hora que você troca a fração por decimal, parece que “dá a tela azul”, assim, na carinha deles, assim, eles ficam todos assim (risos).
Então, esses alunos que a gente trabalhou as frações com Cyberchase, com a gincana, com tudo, na hora que passou para os números decimais, já não teve tanta confusão, porque eles já estavam entendendo o que era uma parte inteira, o que era uma parte. Porque o mais difícil de fração é eles entenderem que fração é a representação de um inteiro e de uma parte. Então o resultado foi bem positivo, eles se divertiram, eles gostaram.
Quando eu trouxe isso e apresentei na faculdade, muitos vieram empolgados querendo saber ‘como que você usou?’. Porque, quanto um trabalho infantil – entre muitas aspas – ele é rico, pra ensino em si (e ele é justamente voltado pra esse ensino, né?).

Música de abertura de Cyberchase:
Vem com o Cyberchase
É legal, você vai ver!
Esse é o Cyberchase!

Amanda Ruvina:
Tem um outro episódio “Eliete Jeitosa e o Verde Maligno”. Ele também trabalha frações. Só que aqui já é mais umas frações mais elaboradas, mais para o 7º ano. Tem operações de frações que eles têm que saber duplicar, né, multiplicar por dois aquela fração; introdução ao algoritmo, ali, porque eles têm que seguir uma receita.
Então eles têm que conseguir os ingredientes que estão em frações; que aí tem uma coisa que em quase todos os episódios fazem, que é a interdisciplinaridade: tanto a matemática é trabalhada, quanto história (que eu falei dos poderes de Zeus, que é mitologia); tem esse de seguir uma receita; português, que é a parte de interpretação…
Também é bem legal porque a visão que a galera tem da matemática está numa caixinha: matemática é número e quando não é número tem que achar o x. E é muito complicado tirar essa ideia das crianças, mas eu sempre tento tirar eles dessa caixinha, falando: gente, oh, matemática não é só isso!

Música “The Jam” (Slynk & Mr Stabalina) fica de fundo

Marcelo Abud:
Amanda foi influenciada pela maneira lúdica como a matemática aparece em Cyberchase. Assim como ela, as novas gerações podem ser motivadas a entender e se envolver mais e melhor com a disciplina, a partir do uso pedagógico do desenho.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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