No ano de 2000, a UNESCO encomendou ao pensador francês Edgar Morin um texto sobre os saberes necessários à educação do futuro, dando origem a um livro de mesmo nome. O sociólogo, nascido em 1921, é conhecido por sua ousadia ao levantar questões incômodas. Nos anos 1960, por exemplo, discutiu a importância da comunicação de massa e do cinema na formação das pessoas. Na época, a articulação comunicação de massa e educação era impensável. Desenvolveu posteriormente a teoria do pensamento complexo e foi pioneiro em defender a inter e a trans-disciplinaridade no ensino. Entre ,suas recomendações para educação do futuro alerta para a necessidade de reformar o pensamento e ensinar a consciência planetária e ética. Segundo ele, isso não se faz por meio de lições de moral, mas a partir da formação da consciência sobre a condição humana:

Deve formar-se nas mentes com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. Carregamos em nós esta tripla realidade. Desse modo, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. (Morin, 2000:16)

O meio ambiente, ganha foco especial nos currículos escolares a partir da publicação da Lei nº 9.795 (1999). Considerado um dos temas urgentes a ser abordado pela escola, ele é um dos cinco temas transversais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Não podemos, no entanto, considerar que o meio ambiente só entra na escola a partir daí. Tanto a área de Ciências como a de Geografia já tratavam o tema.  Mas hoje está claro que se trata de um tema urgente e muito abrangente. Esta condição demanda que seja abordada por todas as disciplinas em todos os ciclos da escolaridade. Passa-se a tratar a temática sob a denominação de Educação Ambiental. Ela envolve desde questões econômicas, a necessidade de compreensão do desenvolvimento sustentável, o ambiente como fruto da ação humana e a construção de processos que envolvam a preservação e a biodiversidade. Deve ser, portanto, abordada por várias disciplinas.

Ulrich Beck tem sido um dos pensadores contemporâneos que mais ancoram hoje os estudos de Educação Ambiental. Ao colocar que vivemos uma sociedade em risco, defende em sua obra que se deve Pensar Globalmente e Agir Localmente. Segundo o autor, a prática cotidiana e local é que vai naturalizar o pensamento ambiental e diminuir os riscos que o planeta hoje deve enfrentar. Além disso, ações no âmbito das políticas públicas devem garantir a sustentabilidade do planeta em todos os níveis.

Traduzindo essa visão para o cotidiano escolar, aos poucos os educadores vão descobrindo como conciliar pequenas ações com a consciência cidadã de que a Terra é nossa casa, portanto, todos temos que cuidar dela. A ação individual não deve ser ingênua, ela só tem sentido se compreendida e articulada com um conhecimento global.

Cinema e Educação ambiental são naturalmente interdisciplinares e sua articulação é extremamente fértil para a formação de crianças e jovens. Sabemos hoje que as crianças e jovens recebem um excesso de informações que nem sempre se transforma em conhecimento. Informação não é necessariamente formação. Justamente por isso, as obras de ficção, especialmente as audiovisuais, exercem muita força, pois permitem que o aluno (em qualquer idade) usufrua de uma experiência cultural envolvente, muito diferente dos textos didáticos. O cinema permite que o espectador “vista a pele do outro”, sentindo medo ou coragem, amor ou raiva, como se fosse a personagem. Bons filmes favorecem a experiência da alteridade, da consciência planetária e da ética.

As crianças, desde a educação infantil, podem ter o ambiente como tema de trabalho conhecendo e agindo sobre seu entorno. As questões vão se tornando mais complexas, ao longo da escolaridade. O (a) professor (a) pode levantar situações-problema que afetam o cotidiano dos alunos, como, por exemplo:

  • poluição do ar, dos rios, das praias;
  • preservação e/ou recuperação das áreas verdes da região;
  • doenças surgidas pela degradação do meio ambiente;
  • consumo consciente e sem desperdício;
  • coleta seletiva de lixo produzido na escola ou nos lares das crianças;
  • cuidados com os animais e plantas, em defesa da diversidade e da vida;
  • Biodiversidade, biopirataria;
  • Animais ameaçados de extinção, tráficos de animais.

O Cinema entra na educação ambiental como componente articulador e interdisciplinar. Um filme que aborde temáticas ambientais não deve apenas ficar no campo do entretenimento ou nas lições de moral que podem se esvaziar, ser esquecidas facilmente. Para que o filme seja uma experiência educativa, ele precisa ser qualificado pela escola, isto é, utilizado com intencionalidade e integrado às disciplinas. Um mesmo filme pode desencadear atividades em todas as disciplinas, da Educação Física a Matemática.

Para o Ensino Médio ou Educação de Jovens e Adultos e últimos anos do Ensino Fundamental II:
Há alguns filmes, em geral documentários que, dependendo da recepção, podem transmitir uma visão um tanto apocalíptica sobre o futuro da Terra. Trata-se de uma vertente do movimento ambientalista que entende que é preciso impactar para alertar as pessoas sobre a urgência de se salvar o planeta. É preciso certo cuidado ao abordá-los visto que propõe um futuro tenebroso e não um futuro, o que pode contribuir para que alunos mais sensíveis se deprimam. Nesse caso, é interessante compor a exibição dos documentários com propostas de ações locais, para fugir do catastrofismo. Três bons documentários se encaixam nessa proposta:

Home, nosso planeta, nossa casa (2009, Yann Arthus-Bertrand, França)
Uma verdade inconveniente (2006, direção Davis Guggenheim, com Al Gore, EUA)
O Planeta Branco (2006, Jean Lemire/Thierry Piantanida/Thierry Ragobert, Canadá e França)

Dois filmes de ficção que abordam a temática ambiental podem ser exibidos, mas convém uma mediação antes da atividade, por se tratar de filmes da década de 1970, o que pode causar estranhamento em alunos muito acostumados com filmes menos reflexivos e com muita ação.

Síndrome da China – drama que denuncia um acidente nuclear (1979, James Bridges, EUA)
Dersu Uzala – trata da amizade entre um caçador mongol e um explorador do exército russo. A linda relação de Dersu com a natureza tornou esse filme um clássico para cinéfilos e ecologistas; (1975, Akira Kurosawa, Japão e URSS)

Noutra chave, a da comédia, há filmes brasileiros muito bons que, mesmo divertindo, trazem questões sobre a importância da mobilização popular e exercício da cidadania para que se façam ações locais. É o caso de dois filmes nacionais, disponíveis em DVD:

Saneamento Básico – o Filme (2007, Jorge Furtado, Brasil)
Narradores de Javé (2003, de Eliane Caffé, Brasil)

Para crianças: Educação Infantil e Ensino Fundamental I

Wall-E (2008, Andrew Stanton, EUA) ficção de animação
Rio (2011, Carlos Saldanha, EUA)

Série brasileira de Tainá que além de trazer histórias encantadoras da indiazinha, mostra com exuberância da fauna e flora da Floresta Amazônica:

Tainá – Uma Aventura na Amazônia (2000, Tânia Lamarca e Sérgio Bloch, Brasil)
Tainá 2 – A Aventura Continua (2004, Mauro Lima, Brasil)
Tainá 3 – a Origem (2013, Rosane Svartman, estreará nos cinemas de São Paulo, no dia 8 de fevereiro de 2013

Referências Bibliográficas:
MORIN, Edgar Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, São Paulo: Editora Cortez, 2000.

Para saber mais:
BECK, Ulrick – Sociedade de Risco, Rumo a uma outra Modernidade, São Paulo: Editora 34, 2010.
JACOBI, Pedro – Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade.

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Cláudia Mogadouro

Cláudia é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Graduada em História, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP.

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