A indiazinha Tainá volta às telas do cinema trazendo de forma lúdica o universo indígena e a exuberância da fauna e flora da Amazônia. Terceira edição da série, “Tainá, a Origem” tem estreia prevista para 8 de fevereiro em todo o Brasil. No último ano, o longa ganhou o prêmio de melhor filme infantil estrangeiro pelo voto popular no Festival de Mill Valley, na Califórnia (EUA).

De acordo com a consultora pedagógica do filme e pesquisadora do Núcleo de Educação e Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), Cláudia Mogadouro, o filme traz questões pedagógicas que podem ser desdobradas dentro de espaços educativos, inclusive salas de aula. “Torna-se fundamental que educadores discutam o conceito de alteridade: o olhar para o outro, o respeito ao outro”, afirma.

“Apresentamos esse choque com o encontro da cultura indígena com a do homem branco, quando aparece Laurinha”, conta o produtor e criador da personagem Tainá, Pedro Rovai. Para ele, a escolha por contar a origem da personagem principal foi natural, após duas edições que abordavam mais episódios cotidianos da vida da indiazinha. Acompanhe abaixo a entrevista que o NET Educação fez sobre o filme.

NET Educação – O que há de diferente neste novo Tainá em relação às duas outras edições?

Pedro Rovai – Trouxemos a resposta à dúvida de onde surgiu a Tainá. Ela não é fruto nem da TV, nem da história em quadrinhos ou de um desenho. Para nós, foi quase como lógico falarmos de sua origem. Os outros dois são episódios da vida dela. Havia uma ideia de fazermos Tainá na cidade, mas achamos que seria espécie de cópia de outros filmes.


Apesar de culturas diversas, Tainá e Laura se unem e se tornam amigas

NET Educação – O que destacariam sobre as principais questões que o filme joga luz?

Cláudia Mogadouro – O filme é muito feliz em abordar de forma lúdica o universo indígena e a exuberância da fauna e flora da Amazônia. Há muitas diferenças entre as personagens infantis Tainá e Laura, mas elas se unem na espontaneidade da infância e se tornam amigas. O reconhecimento e o respeito pelo outro são transmitidos de uma forma natural e divertida. Algo que me chama muito a atenção é como a infância é respeitada. O filme fala sobre o que é ser criança, independente do meio em que ela está.

NET Educação – Como vocês pensaram a abordagem sobre o encontro de culturas diferentes junto às crianças?

Rovai – Quando se faz filme de criança tem que partir de dois caminhos: fazer um filme de criança para adultos ou de criança para criança. Este último é mais difícil, porque a criança exige conflitos. Uma criança de quatro anos já sabe quem é do bem e do mal. Apresentamos esse choque com o encontro da cultura indígena com a do homem branco, quando aparece a personagem Laurinha, que carrega vários preconceitos, mas que depois vira uma indiazinha também. A dramaturgia no sentido dos contrastes é muito boa. Gera aventura e solidariedade, e situações engraçadas.

Cláudia – Apesar da história ser singela e dirigida para o público infantil, a cultura indígena é mostrada com complexidade. Tainá, por exemplo, enfrenta preconceitos da própria tribo ao lutar para ser uma guerreira. Pode-se notar vaidade e machismo no cacique da tribo, no entanto, as crianças indígenas contribuem para as transformações, problematizando algumas tradições. Outra questão é que as novas tecnologias estão presentes na cultura indígena de forma positiva, ao contrário do imaginário que temos. Temos uma visão um pouco “purista”, como se um índio usar um laptop fosse algo negativo, artificial. No entanto, aceitamos que ele se vista e tome refrigerante.

NET Educação – Então, há um sentido pedagógico no filme?

Cláudia – Todo filme tem um sentido educativo e pedagógico (para o bem ou para o mal). Mas alguns filmes dialogam fortemente com as reflexões mais urgentes que a escola deve promover. Hoje, vemos muita intolerância e violência. Sabemos que a escola não está isenta desses problemas. Torna-se fundamental que educadores, pais e professores discutam o conceito de alteridade: o olhar para o outro, o respeito ao outro, o respeito às diferenças, às outras culturas. O filme é precioso nesse sentido.

NET Educação – O filme pode ser usado por educadores em sala de aula ou espaços de formação?

Cláudia – Sem dúvida! O primeiro passo é assistir ao filme, deixar-se envolver para, depois, pensar nos seus alunos. Se o educador gostar do filme e se sentir motivado, naturalmente vai motivar os alunos. Antes de se pensar o filme relacionado às disciplinas, é importante que se pense o filme como um todo, como uma obra de arte.

NET Educação – É destinado para uma faixa etária específica?

Cláudia – O filme cativa adultos e crianças. Acredito que mesmo crianças bem pequenas, de quatro anos, podem se encantar com esse filme. Acredito que o público que mais vai gostar é entre cinco e 11 anos.


A indiazinha enfrenta a tribo para se tornar uma guerreia

NET Educação – Haverá workshop para professores sobre o filme?

Claudia – Sim, estão previstos workshops para professores de forma a potencializar ao máximo o uso do filme como parte do currículo. Ainda não estão certas as datas e horários, mas isso será divulgado. Haverá também disponibilização de material digital e impresso.

NET Educação – O cinema tem uma força especial para tratar temas que emocionam. Como usar os recursos audiovisuais e a produção para que eles toquem as crianças?

Rovai – Acho que um elemento fortíssimo é a memoria. Mostra o avô que encontra a Tainá e dá esse nome a ela, que significa estrela da manhã. Depois, ela já está com cinco anos e quer ser guerreira, mas é menina e não poderia em razão disso. E durante toda a peregrinação da Laurinha, colocamos um índio que tem um computador. Sai do estereótipo e consulta o laptop o tempo todo. Mais para o fim, a flecha que Tainá solta em direção ao vilão vira uma cobra, vira um elemento natural. São componentes intrigantes.

NET Educação – Seria importante filmes brasileiros que pensem mais no púbilco infantil?

Cláudia – São raríssimos os bons filmes brasileiros destinados especialmente para crianças pequenas. É fundamental que elas conheçam produções do país, pois estão acostumadas apenas a animações estrangeiras e a uma estética única. No entanto, quando têm oportunidade de ver um filme bem feito, que fale do seu país, elas gostam muito, como foram os casos de Tainá 1 e 2.

Lembro de quando eu era pequena, havia a febre dos gibis e líamos os da Disney. Eu adorava o Pato Donald, o Peninha e o Pateta. Quando o Maurício de Souza lançou as primeiras edições da turma da Mônica, fiquei maluca. Nunca podia imaginar que poderíamos ter gibis com personagens brasileiros, a identificação foi imediata.

https://youtu.be/6ltNZKdcVHM

Trailer do filme que tem lançamento previsto para o próximo mês

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