Publicado em
24 de novembro de 2016
O estudo “Tecnologia e as transformações da educação”, encabeçado pelo diretor da área de políticas setoriais da Unesco, Francesc Pedró, analisou as diferentes formas como a tecnologia está contribuindo para a transformação da educação na América Latina.
Para o educador e diretor da Fundação Santillana no Brasil, André Lázaro, o estudo de Pedró é relevante ao afirmar o papel estratégico do projeto pedagógico da escola para que a tecnologia contribua de forma efetiva para a aprendizagem.
“A tecnologia é maravilhosa quando conseguimos ir além, na aprendizagem, do que iríamos se ela não estivesse presente. Ou seja, enfatiza a responsabilidade do projeto pedagógico e do professor”, destaca. Confira abaixo a entrevista com a análise sobre o estudo:
NET Educação – Qual é a principal conclusão do estudo de Francesc Pedró?
André Lázaro – O estudo reconhece o papel estratégico do projeto pedagógico para que a tecnologia contribua com o aprendizado. Vemos muitas notícias de escolas implantando um tablet por aluno, por exemplo. Contudo, o estudo nos mostra que a tecnologia é maravilhosa quando conseguimos ir além, na aprendizagem, do que iríamos se ela não estivesse presente. Ou seja, enfatiza a responsabilidade do projeto pedagógico e do professor.
NET Educação – De que forma a tecnologia pode ajudar na aprendizagem?
Lázaro – Há dois níveis de aprendizagem. No primeiro nível, mudamos apenas o processo. É quando o professor deixa de dar uma aula expositiva na lousa pra usar o Power Point, por exemplo. Na prática, o processo de transferência de informação não mudou. No segundo nível, usamos a tecnologia para uma aprendizagem dinâmica, participativa e colaborativa. Os alunos são convidados a pesquisar sobre um tema na internet, criar seu Power Point, levar o DVD para casa com as informações, colher a opinião dos pais, etc. O processo mudou.
NET Educação – O que o projeto pedagógico precisa abarcar para a tecnologia ajudar na aprendizagem?
Lázaro – A incorporação da tecnologia é tarefa de toda a instituição escolar. Apontaria cinco tópicos: levar em consideração o protagonismo do aluno na aprendizagem; as dimensões coletivas e cooperativas; que o ensino esteja conectado à realidade do aluno; que haja feedback constantes durante o processo e, por fim, que o professor, o diretor e coordenador pedagógico atuem coordenando recursos e conhecimentos.
NET Educação – O atual currículo é um entrave para que a tecnologia sirva à aprendizagem?
Lázaro – Bem, o atual currículo é um entrave até para a aprendizagem “tradicional”. Ele é detalhista, fragmentado e incompleto, impossibilitando abordagens transdisciplinares. Isso, claro, não justifica a imposição de mudanças no ensino médio via Medida Provisória e sem debate. Isso é completamente equivocado.
NET Educação – Como a tecnologia pode contribuir em relação à avaliação?
Lázaro –É preciso deixar a avaliação punitiva por uma avaliação onde professor e aluno construam seu processo. Isso antecede a tecnologia, mas ela pode ajudar. Pedró atenta que é necessário planejar com clareza os critérios e parâmetros da avaliação para escaloná-la com o próprio aluno. Em qual nível o aluno está e onde gostaríamos que ele chegasse? Isso supera a ideia da avaliação excludente para uma avaliação que visa o aprimoramento.
NET Educação – O que os educadores devem questionar ao aplicar a tecnologia em sala de aula?
Lázaro – É fato que os jovens sabem usar a tecnologia como nenhum outro grupo em termos sociais. Mas é preciso se perguntar: o domínio que eles têm atualmente é satisfatório? O domínio é apenas operacional? Onde podemos avançar? Quais outras habilidades são relevantes na contemporaneidade que perpassa a tecnologia? São perguntas que os educadores devem fazer.
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