A implantação de uma coleta seletiva de porta em porta no município de Crateús (CE) só foi possível graças a um projeto de educação ambiental nas escolas que foi multiplicado pelos próprios alunos em suas respectivas famílias. Trata-se do projeto Leve (Local de Entrega Voluntária Escolar) desenvolvido pelo Instituto Brasil Solidário.

O idealizador da iniciativa é o fotógrafo e advogado Luís Eduardo Cardoso de Almeida Salvatore, que recebeu o Prêmio Empreendedor Social 2015 – categoria Escolha do Leitor.  “A escola se tornou ponto de coleta específica e os estudantes foram ensinados a higienizar e separar o material. A associação de catadores devolve ainda 20% do valor que recebe com a comercialização dos materiais à escola”, conta. Confira uma entrevista exclusiva com Salvatore para o NET Educação.

NET Educação – Como é a atuação do Instituto Brasil Solidário?

Luís Eduardo Cardoso de Almeida Salvatore – Somos uma oscip [organização da sociedade civil de interesse público] de tecnologia educacional e desenvolvimento territorial. Por meio da escola, trabalhamos a formação em seis áreas transversais: incentivo à leitura, bom uso da tecnologia, educação ambiental, prevenção por meio da saúde, empreendedorismo e valorização da cultura local, regional e municipal. Trabalhamos também políticas públicas, para que o poder público possa multiplicar as iniciativas, e acesso material, que seria deixar algum bem ou legado para a escola. Trabalhamos não só, mas prioritariamente em municípios de até 100 mil habitantes, nos quais algumas de nossas atuações atingem 100% da rede.
NET Educação – O que é o Local de Entrega Voluntária Escolar?
Salvatore – É um projeto dentro da área de educação ambiental. Uma coisa é você promover a reutilização de materiais recicláveis, outra é usar isso como possibilidade de implantar uma coleta seletiva no município inteiro, porta a porta, que é um grande desafio hoje no Brasil. Isso aconteceu em Crateús (CE), que foi o nosso projeto piloto. Lá, havia o cenário ideal, que era uma associação de ex-moradores do lixão que gostaria de fazer a coleta seletiva na cidade e o poder público, que gostaria de implantar a coleta. A escola se tornou ponto de coleta específica e os estudantes foram ensinados a higienizar e separar e integrar o material. A associação devolve ainda 20% do valor que recebe com a comercialização dos materiais à escola.
Em Crateús, escolas públicas se tornaram ponto de coleta de lixo reciclável
NET Educação – Por que a escola foi importante para a educação ambiental da população?
Salvatore – Porque a educação ambiental foi trabalhada em cada casa do município por meio dos alunos. Foram 24 escolas envolvidas, com aproximadamente dois mil alunos. Eles que aprenderam e levaram os ensinamentos para suas famílias. O valor oferecido à escola foi uma iniciativa da própria associação de catadores em reconhecimento ao trabalho da escola, e se tornou uma fonte de renda inteligente. O material reciclado que vem de lá é diferente daquele vindo da coleta. Ele já está limpo e separado, pronto para a prensa. Isso facilita o trabalho da associação e também aumenta o tempo de vida útil dos aterros.
NET Educação – Qual foi o resultado da experiência em Crateús?
Salvatore – Na cidade, possuem hoje uma coleta de porta em porta que atende toda a zona urbana e quase toda a zona rural. São vendidas mensalmente 45 toneladas de lixo reciclável por mês, o que é muito para um município pequeno. Isso nos dá uma amostragem do quanto produzimos de lixo por mês. Aproximadamente 20 famílias de catadores vivem exclusivamente do trabalho com o lixo reciclável.
O Leve pode ser replicado em outros municípios?
Salvatore – É uma iniciativa que pode ser replicada em outros municípios, mas que depende do poder público para levar o projeto adiante. Hoje estamos trabalhando Crateús como um polo de expansão do Leve, que está indo para outros três municípios vizinhos, com potencial para se expandir para outros dez. Temos uma área desapropriada onde poderíamos expandir o galpão de triagem [onde é trabalhado com o material da coleta seletiva]. Além disso, há a possibilidade de fazermos o processamento do material no futuro e vendermos diretamente para a indústria.
Salvatore em atividade educacional nas escolas de Crateús (Crédito: arquivo pessoal)
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