Quais são os conhecimentos e atitudes que por meio da educação é preciso desenvolver nos estudantes para garantir um mundo justo, tolerante, inclusivo e sustentável? A busca por essa resposta é encampada por quem acredita na chamada educação para a cidadania global. “Visa capacitar os estudantes a assumirem papeis ativos tanto local como globalmente, enfrentando os desafios em suas dimensões sociais, políticas, culturais, econômicas e ambientais. Ela também reconhece o papel da educação para construir valores, habilidades sociais e atitudes entre os alunos que facilitem a cooperação internacional e promovam a transformação social”, resume a especialista do Escritório Regional de Educação para a América Latina e o Caribe (Unesco), Cecilia Barbieri.

No Brasil para o “Seminário Internacional Educação para a Cidadania Global”, a representante da Unesco abordar o tema nesta quinta-feira (12/5), em São Paulo (SP), durante o evento. Confira a seguir a entrevista exclusiva concedida por e-mail ao NET Educação para entender o assunto.

Cecilia Barbieri – A Unesco identificou conteúdos de aprendizagem e desenvolveu uma orientação pedagógica. As dimensões centrais são: cognitiva (a aquisição de conhecimentos e pensamento crítico sobre questões globais, regionais, nacionais e locais e a interdependência dos diferentes países e populações); socioemocional (sentimento de pertença a uma humanidade comum, partilha de valores e responsabilidades, empatia, solidariedade e respeito às diferenças e à diversidade); comportamental (agir de forma eficaz e responsável nos níveis local, nacional e global para um mundo pacífico e sustentável).

Cecilia – São necessárias mudanças em todo o sistema de ensino, envolvimento de todas as partes educacionais e o fortalecimento dos laços entre a escola, a família e a comunidade para promover um ambiente democrático. Os alunos precisam saber como aprender de forma independente, pensar criticamente, comunicar e resolver conflitos pacificamente. É preciso, ainda, promover conhecimento e respeito pelos valores universais fundamentais, como paz, direitos humanos, diversidade, justiça, democracia, tolerância.

Cecilia – Ela incentiva os alunos a analisarem criticamente questões da vida real e a identificarem soluções. Ela dá suporte para os alunos compreenderem a relação entre questões que estão acontecendo no nível local, nacional e global. Promove aspectos da diversidade, ao desenvolver o sentido de pertença e de identidade. Transforma o engajamento em ação para trazer a mudança desejada. A Educação para a Cidadania Global contribui para a igualdade de gênero, por exemplo.

Cecilia – A contextualização regional é essencial nesta fase de desenvolvimento do conceito. Precisamos identificar quais são as necessidades, os desafios e as possíveis ações para alcançar uma aplicação eficaz por meio dos sistemas de ensino, e não só isso.

Cecilia – Colocando-a no centro dos sistemas de ensino, incluindo-a nas políticas, planos, conteúdo, pedagogia, formação de professores e ambiente de aprendizagem, políticas escolares, regras e códigos de conduta. Proporcionando oportunidades de aprendizagem fora da escola. Concentrando-se sobre competências socioemocionais e comportamentais no ensino. Por meio da criação de um ambiente seguro e democrático para a aprendizagem

Cecilia – Elas aumentam as oportunidades de colaboração e aprendizagem; ajudam a alcançar diversos grupos de pessoas; proporcionam oportunidades de envolvimento no debate público; facilitam o diálogo sobre assuntos sensíveis, como a injustiça, a violência, e a sexualidade.

Cecilia – O conceito em toda a região é relativamente novo. O sistema nacional de educação já realizou iniciativas relacionadas a questões como direitos humanos, desenvolvimento sustentável, direito à educação e outros direitos fundamentais que estão associados à agenda da Educação para a Cidadania Global. Porém, essas não estão totalmente incorporadas no sistema educacional.

Cecilia – Um clima político, social, cultural e religioso que está aberto aos valores universais (como direitos humanos e paz) é crucial para a cidadania global. Sua implementação requer políticas de apoio e orientação pedagógica. O ambiente de aprendizagem deve promover links entre as comunidades locais e globais e, aos alunos, experiências da vida real. Por exemplo, por meio de atividades humanitárias comunitárias e programas de intercâmbio de estudantes.