Leonardo Valle
As sacolinhas de supermercado causam diversos problemas ao meio ambiente. Elas são produzidas a partir de uma matéria prima não renovável – um derivado do petróleo, chamado polietileno de alta densidade (PEAD) – e seu ciclo de vida gera resíduos no meio ambiente e emissão de gás carbônico na atmosfera, que está relacionado ao aquecimento global.
“Entre seus benefícios está o fato dela poder ser reutilizada várias vezes e de proporcionar isolamento sanitário adequado para os lixos gerados pela sociedade. Quando fabricadas de acordo com as normas, podem aguentar aproximadamente seis quilos”, assinala a pesquisadora de resíduos sólidos poliméricos e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Elen Beatriz Acordi Vasques Pacheco.
Ainda assim, seu consumo é desenfreado. A Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, estima que sejam consumidos no mundo, por ano, entre 500 bilhões e trilhão de sacos plásticos. Seu fim são os aterros sanitários ou, quando o descarte é incorreto, os oceanos. No mar, eles são confundidos pelos animais com águas-vivas, que são fonte de alimento, o que pode matá-los por sufocamento.
Por esse motivo, leis no Brasil e no mundo passaram a proibir a distribuição de sacolinhas plásticas gratuitas e solicitar sua substituição por opções feitas com plástico verde, oxibiodegradáveis e biodegradáveis. As três, contudo, ainda são questionáveis do ponto de vista ambiental ou inacessíveis.
Biodegradação
Os plásticos verdes são elaborados a partir de fontes renováveis, como milho, mandioca, beterraba e cana-de-açúcar. A partir deles, é feito um polímero similar ao plástico. “É o mesmo tipo de material das sacolinhas, mas feito com uma matéria-prima diferente”, lembra Pacheco.
Se por um lado seu uso contribui para a redução do consumo de petróleo, ele não é biodegradável [decomposto por micro-organismos em uma escala de tempo, normalmente, de semanas ou meses]. “O material só se biodegrada em usinas de compostagem, onde há condições adequadas de luz, umidade e temperatura”, explica a doutora em química, Bianca Chieregato Maniglia.
Já o plástico oxibiodegradável é aquele comum, vindo do petróleo, mas com um aditivo que aumenta sua degradação. “Contudo, ele ‘quebra’ em pedaços menores”, contrapõe Pacheco. “Além disso, por se fragmentar, reduz a possibilidade de reciclagem e reuso da sacola”, acrescenta.
A melhor opção seria o uso do plástico biodegradável, que é produzido a partir de fontes renováveis e naturais, como o amido. Assim, ele pode ser digerido por bactérias, fungos e algas, que o transformam em água, CO2 e matéria orgânica. Contudo, essa alternativa ainda não é acessível no Brasil.
“Temos a deficiência do nosso plástico ter alta afinidade pela água, sofrendo enfraquecimento ou dissolvendo. As propriedades dos biodegradáveis ainda não são competitivas. O convencional apresenta um menor custo, e por fim, é caro e complexo mudar o esquema de produção de uma indústria”, contextualiza Maniglia.
“Ainda precisamos desenvolver um plástico que sofra biodegradação, seja produzido por fontes renováveis e que tenho propriedades e custo para competir com o convencional. Como ainda não temos todas essas características em um só material, o ideal é reduzir o consumo”, recomenda a química.
Melhores práticas
Segundo a professora do curso de engenharia ambiental da Uniderp, Marjolly Bais Shinzato, o ideal é utilizar materiais com maior ciclo de vida nas idas ao mercado, que possam ser reutilizados. “As opções são as ecobags e as caixas de papelão. Para o lixo do banheiro, ela defende o uso de sacolas de papel mais resistentes. “Não é um lixo tão molhado”, explica. “O resíduo de cozinha tem a possibilidade de ser compostado [processo de transformação de restos orgânicos, como frutas, legumes e alimentos em geral, em adubo], inclusive em casa, dispensando recipientes ou sacos.”
Além disso, o ideal é que mesmo o uso das sacolas de papel seja feito com consciência. Segundo o site do Ministério do Meio Ambiente, apenas substituí-las pelas de plástico, sem reduzir seu consumo, aumentaria o desmatamento de árvores, necessárias para gerar a celulose (matéria-prima do papel).
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Atualizada em 24/9/2018 às 13h43.
Crédito da imagem: daizuoxin – iStock