Quem busca parar de fumar pode contar com tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso porque o Brasil conta com o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), uma política pública que articula a rede de tratamento do SUS com ações em estados e municípios.

“O programa surge como forma de responder a esse grave problema de saúde pública que é associado a doenças do coração, acidente vascular cerebral (AVC), a problemas respiratórios e surgimento de diferentes tipos de câncer”, resume a psicóloga integrante da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (INCA) Vera Lucia Gomes Borges.

Borges explica que o programa tem três frentes. A primeira é preventiva, visando desencorajar o uso por crianças e adolescentes. A segunda é reduzir a exposição à fumaça do cigarro em ambientes públicos e particulares por meio de legislações. “Isso porque o tabaco não faz mal apenas ao usuário, mas [também a] quem está ao seu redor”. E, por fim, os tratamentos oferecidos por Unidades Básicas de Saúde (UBS) e hospitais públicos.

“O objetivo não é apenas controlar o uso do cigarro, mas de produtos com tabaco como um todo, incluindo charutos, cachimbos, narguilé, dispositivos eletrônicos, entre outros”, ressalta.

Por que há tratamento para parar de fumar pelo SUS?

Vera Lucia Gomes Borges: Porque os produtos com tabaco apresentam aproximadamente sete mil substâncias nocivas à saúde, incluindo a nicotina, que é uma droga com características psicoativas. Isso significa que ela age diretamente no cérebro provocando dependência química da mesma forma como álcool, cocaína e outras substâncias. Assim, quando a pessoa tenta parar de fumar, ela enfrenta sofrimento físico e psicológico. Motivo pelo qual o tratamento para parar pelo SUS envolve uma equipe de diferentes profissionais, incluindo médicos, psicólogos, enfermeiros, dentistas, entre outros.

Como o tratamento funciona?

Borges: O modelo adotado no SUS prevê abordagem cognitiva-comportamental, ou seja, primeiro o paciente passa por palestras que orientam porque ele fuma, os elementos que o tabaco possui, como é o processo para conseguir parar de fumar.

Depois, passa por avaliação para que os profissionais entendam a história dele, como e quando iniciou o tabagismo, se já tentou parar de fumar sozinho. Isso vai definir o plano de tratamento. Este pode incluir tratamento individual, em grupo e medicações. E após o paciente alcançar a meta de parar de fumar, precisa ser acompanhado por um tempo para não ter recaídas.

Como fazer para conseguir o tratamento para parar de fumar pelo SUS?

Borges: Ele é desenvolvido nas unidades de atenção básica de todo o país. A pessoa interessada deve buscar a UBS mais próxima da sua residência, perguntar se ela oferece o tratamento, os dias e horários disponíveis e como fazer para participar.

Quais as medicações oferecidas pelo SUS para parar de fumar?

Borges: A necessidade de receber ou não apoio com medicamentos é avaliada de acordo com o nível da dependência. A medicação sempre será associada ao acompanhamento terapêutico, ou seja, nunca o modelo de tratamento será apenas medicamentoso, mas também comportamental.  Entre os medicamentos disponíveis no modelo do SUS estão a cloridrato de bupropiona e a Terapia de Reposição de Nicotina (TRN). Esta ocorre por meio de adesivos de 21 g, 14 g e 7 g, assim como pelo uso de goma de mascar.

Qual a importância desse serviço ser gratuito?

Borges: As pesquisas nacionais de saúde mostram historicamente que os fumantes estão concentrados em grupos de menor renda e escolaridade. Ou seja, são justamente os mais pobres, que precisam gastar uma parte considerável da sua renda já limitada para manter o tabagismo. Além disso, o SUS é para todos e garante que o tratamento seja democrático e acessível para qualquer pessoa, independentemente do nível socioeconômico.

Qual o diferencial do modelo proposto pelo SUS em relação a outras alternativas?

Borges: Há inúmeras formas de ajudar pessoas a pararem de fumar, porém vale ressaltar que o modelo adotado pelo Ministério da Saúde tem protocolos clínicos, é baseado em evidências científicas e foi elaborado por profissionais com expertise no controle de tabagismo. Isso faz com que seja efetivo.

Quais os benefícios do modelo de tratamento em grupo?

Borges: O modelo de tratamento que é repassado e reproduzido pelas UBS prevê tanto atendimentos individuais quanto em grupos, a depender da primeira avaliação do paciente. Os benefícios é que o país ainda possui aproximadamente 21 milhões de fumantes, e o modelo em grupo permite que mais pessoas consigam acessar e aderir ao tratamento para parar de fumar de forma gratuita. Já entre os benefícios terapêuticos, o modelo de grupo permitir que pessoas se apoiem mutuamente e compartilhem experiências sobre os seus processos.

Há pontos nesse modelo de tratamento para parar de fumar via SUS que podem ser melhorados?

Borges: Apesar do modelo ser bom, melhorar é uma premissa. Ter mais unidades de saúde funcionando aos finais de semana e à noite ajudaria a atender melhor a população que trabalha e de menor renda, onde justamente estão concentrados os fumantes.

Quais as orientações para quem deseja parar de fumar?

Borges: É importante estimular as pessoas a procurarem tratamento, principalmente aquelas que tentaram parar de fumar sozinhas e não conseguiram. Por se tratar de uma dependência química severa, parar de fumar causa um mal-estar intenso e é necessário ajuda e apoio terapêutico. O esforço vale a pena e liberta, porque o tabagismo é algo que adoece e escraviza.

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Crédito da imagem: Image Source – Getty Images

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