Um olhar inclusivo para a pessoa idosa em condomínios e prédios estimula a sua socialização com vizinhos e funcionários. É o que acredita a arquiteta e professora na Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP) Maria Luísa Trindade Bestetti: “A convivência intergeracional é importante para a saúde emocional da pessoa com mais de 60 anos. Principalmente porque a solidão atinge parte dessa população que mora só e sem familiares próximos”.
Bestetti argumenta que a presença de espaços para atividades interativas traz uma sensação maior de pertencimento aos idosos. Construtoras, administradoras de condomínios, síndicos e conselhos de condomínios, porém, raramente entendem a importância de pensar os espaços sociais do prédio pelo ponto de vista dos moradores mais velhos. “Na prática, pode haver desde condôminos que mudaram para aquele espaço já idosos até moradores que adquiriram seu imóvel quando jovens e lá permaneceram até envelhecerem”, contextualiza a assistente social e professora de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal Paulista (Unifesp) Naira Dutra Lemos.
Leia mais: Habitação para idosos de baixa renda é alternativa à cultura do asilamento
Desenho universal
“Programas arquitetônicos com ambientes que permitem os encontros, sejam em entradas, áreas de lazer ou de circulação, possibilitam interações positivas”, enfatiza Bestetti. Tanto nas moradias quanto nas áreas sociais, Lemos lembra a importância de plantas alinhadas ao chamado desenho universal. “Como o próprio termo diz, ele valoriza espaços desenvolvidos para o uso de todos, considerando diferentes necessidades e sem precisar de adaptações”, descreve. Para o idoso, os ganhos são mais segurança e autonomia.
Um exemplo é a iluminação adequada nos corredores, mesmo quando há sensores de presença. “Assim como trajetos acessíveis em todas as áreas comuns, pisos antiderrapantes e corrimãos onde houver rampas; além de informações que facilitem a identificação de blocos e unidades”, lista Bestetti.
Em contrapartida, áreas de sombra, pisos brilhantes, espelhos e outros materiais reflexivos devem ser evitados, pois podem provocar desorientação. Portas de vidro devem ter marcadores coloridos, sinalizando quanto estiverem abertas ou fechadas. Ações como tirar tapetes de passagens e marcar áreas molhadas, como em dias de limpeza, previnem quedas.
Confira: Respeitar e criar laços com idoso LGBTI+ ajuda a diminuir vulnerabilidade dessa população
“Priorize assentos confortáveis, com altura adequada e braços auxiliares para facilitar o sentar e o levantar. Um bom assento convida a pessoa idosa a tomar sol ou sentar para conversar”, acrescenta Bestetti. Lemos ainda destaca a importância de ter gerontologos nas equipes que pensam projetos arquitetônicos e os espaços de moradia. “São profissionais habilitados à atenção da população idosa, com o propósito específico de garantir bem-estar, saúde e qualidade de vida.”
Estreitando laços
Condomínios também podem ajudar na conexão de pessoas de diferentes idades. O síndico pode mapear os idosos que precisam de ajuda com compras, acompanhamento em consultas médicas, entre outros, colocando-os em contato com vizinhos dispostos a ajudar. Esse movimento solidário foi visto com frequência no período de isolamento social da pandemia da covid-19.
“Acompanhar situações de fragilidade, ainda que à distância, oferece ao idoso a sensação de ter a quem recorrer em uma emergência e pode evitar a depressão”, destaca Bestetti.“Para completar, vale manter uma lista de contatos dos familiares dos idosos, para casos de urgência, e orientar os colaboradores para que sejam sempre solícitos com essa população”, indica a arquiteta.
Veja mais:
Negligência é o tipo mais comum de violência contra idosos, destaca levantamento no DF
Sustentabilidade e respeito às diferenças são ganhos ao dividir moradia
Atualizada em 17/06/2021, às 16h35