Leonardo Valle

“Casa Tucuna” é como a designer e artista plástica Mari Pini chama o local que serve como sua residência e estúdio em São Paulo (SP). Quando sua filha foi estudar fora do país, Pini transformou o espaço em uma moradia coletiva.

“No início, procurei obter sustentabilidade na economia doméstica, conforto e a convivência com jovens por meio de programas de intercâmbio. Posteriormente, alterei o foco para pessoas que estão buscando viver coletivamente”, conta ela, que hoje divide o espaço com mais seis pessoas.

Movimento parecido fez Bruna Romanini que, após anos morando sozinha em São José dos Campos (SP), decidiu se mudar para o sítio de uma amiga, em Panorama (SP), para desenvolver projetos de agroecologia e permacultura. Atualmente, ela, o namorado e um amigo são residentes fixos da casa. “É difícil responder com quem eu moro, porque há pessoas que passam 40 dias aqui, outras uma semana ou um final de semana. Cada momento eu moro com pessoas diferentes”, revela ela. “Eu decidi ter essa experiência como um crescimento pessoal e por entender que era o mais adequado para mim”, completa.

Tendência atual

Segundo a arquiteta especializada em longevidade e fundadora do grupo Cohousing Brasil – Co-Lares Lilian Avivia Lubochinski, o movimento de compartilhar moradias avançou no Brasil na mesma medida que as configurações familiares passaram a ser mais plurais e os preços dos aluguéis nos grandes centros inflou. “Hoje, há menos famílias ricas com condições de arcar com imóveis muito grandes. Esse segmento acabou migrando para os apartamentos e esses imóveis ficaram disponíveis”, descreve.

Segundo Lubochinski, há dois tipos de moradia compartilhada: o co-living e o co-housing. O primeiro é quando uma residência desenhada para atender uma família é dividida por diferentes pessoas. O modelo, no qual se enquadram as “repúblicas de estudantes”, oferece menos privacidade e há o compartilhamento de cômodos como a cozinha e banheiro.

“O perfil de morador é variado, mas geralmente, é uma opção de jovens, que conseguem morar em uma localização melhor e garantir qualidade de vida ‘rachando’ despesas. Seu caráter, contudo, é transitório. As pessoas permanecem por menos tempo”, descreve.

Já o co-housing é configurado por moradias individuais, com sala, quarto, cozinha e banheiro, em um mesmo terreno. Além disso, os moradores também possuem espaços compartilhados, como uma cozinha coletiva. “Ou seja, preserva-se a privacidade, que é desejada, mas sem que isso signifique solidão”, assinala.

De acordo com a arquiteta, o modelo, que é utilizado principalmente por idosos na Europa, ainda não se consolidou no Brasil. “Ao contrário do co-living, não é uma opção transitória e tão pouco pode ser uma aventura. Exige que um grupo compre o terreno, pense na arquitetura, nas questões jurídicas, e compartilhe dos mesmos sonhos e ideais a longo prazo”, diferencia.

Cultura do compartilhamento

Para Lubochinski, compartilhar uma morada possibilita o desenvolvimento de habilidades socioemocionais importantes. “São necessárias uma cultura do compartilhamento mais refinada e pensar em dispositivos de governança, como reuniões para decidir assuntos da casa e o rodízio de tarefas”, defende. “Inclusive, apostar em uma comunicação não-violenta pode ajudar na boa convivência”, recomenda.

Bruna Romanini concorda. “Quando você mora com outras pessoas, tudo muda. Você aprende, na prática, o respeito às diferenças e a tolerância. Que não é porque você guarda o sapato em um local, que o outro precisa guardar também”, exemplifica. “Também é entender o tempo do outro e que ninguém sabe a dor de cada um. É preciso não apenas ser verdadeiro, mas aceitar as verdades sobre si e fazer delas um oportunidade para crescer”, acrescenta.

Já para Pini, viver a experiência de compartilhar moradia requer disponibilidade. “A pergunta que cada um deve fazer é se realmente tem intenção de se relacionar com os outros. Parece fácil, mas a maioria das pessoas vem de ambientes familiares de pouco contato, estão habituadas a se relacionarem virtualmente e não possuem cultura de convívio”, afirma. “A convivência se materializa muito na mesa, em torno das refeições, nas festividades e celebrações. É nessa lógica que uma casa cria seu convívio”, acredita.

Para Romanini, ao possibilitar a divisão de utensílios e recursos, a morada compartilhada ainda contribui para a sustentabilidade e para o consumo consciente. “Por exemplo, temos mais de um carro, mas nos organizamos na semana para usá-los em um momento em que todos precisem fazer algo fora do sítio”, diz. “Também nos alertamos uns aos outros sobre o gasto de água e luz, para não haver desperdício”, revela.

Crédito da imagem: zubada – iStock

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