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No último século, a cada 20 anos, a massa dos objetos construídos pela humanidade dobrou. A constatação é de estudo realizado pelo Instituto Weizmann de Ciência, de Israel. Outro dado trazido pela pesquisa é o de que no final de 2020 a massa antropogênica se igualou à massa natural. “Nós retiramos elementos da natureza e transformamos em objetos, edificações… tudo aquilo que é construído pelo ser humano é o que eles tão chamando nesse artigo de massa antropogênica”, explica o biólogo e pós-doutor do Programa Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) Edson Grandisoli.

Os pesquisadores compararam essa matéria não viva modificada diretamente pela ação humana — como metal, asfalto, concreto, tijolos, plástico, vidro — com a biomassa viva, constituída por vegetação, animais, fungos e todos os micro-organismos presentes no solo e nas águas. “Se a gente pega esse valor da massa antropogênica no ano de 1900, ela era de apenas 3%; em 120 anos, nós subimos de 3% pra 50%. Isso demonstra, claramente, essa voracidade nossa sobre os recursos naturais”, afirma o biólogo.

Nova era

Grandisoli concorda com uma série de geólogos, geógrafos e geologistas que defendem que vivemos na era do Antropoceno: “Pode ser marcado, por exemplo, pela primeira Revolução Industrial o início do Antropoceno, que foi quando esses processos mais vorazes de uso de recursos começaram a acontecer. Mudar o nome da nossa era também é muito simbólico para marcar esse nosso impacto sobre os ambientes naturais”.

Estimativas indicam que, se o ritmo de crescimento se mantiver, a massa antropogênica pode alcançar três trilhões de toneladas em 2040, o que corresponde ao triplo da biomassa terrestre. “É muito importante a gente sempre ficar atento no consumo do dia a dia, e não só no quanto se consome, mas o que se consome; por que se consome e se realmente eu preciso consumir aquilo que eu estou consumindo. Essa consciência com relação ao consumo é fundamental de ser desenvolvida no plano individual”, acredita Grandisoli.

No áudio, o entrevistado, além de analisar o estudo, traz exemplos de economia circular e do desenvolvimento de materiais rapidamente degradáveis como alternativas para reverter o crescimento da massa gerada pelos objetos criados pelos seres humanos. “Muitas grandes indústrias, inclusive, no ramo de plástico, já se ocupam do desenvolvimento desse bioplástico, desses biomateriais há muito tempo. A gente tem que pensar sempre de uma maneira circular: como aquela sacolinha ou aquela garrafinha feita de um biomaterial rapidamente degradável pode colaborar, inclusive, pra retornar os nutrientes para o solo?”, aponta.

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Transcrição do Áudio

Transcrição do áudio:

Música “Futuro”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Edson Grandisoli:
Quanto mais nós retiramos da natureza para fabricar objetos, fabricar edificações, mais rápido nós degradamos esses recursos naturais. E muitos deles podem acabar nessa década ou na próxima década.
Meu nome é Edson Grandisoli, eu sou biólogo de formação, pós-doutor na área de educação para sustentabilidade pelo Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP); diretor educacional da Reconecta.

Vinheta: “Instituto Claro – Cidadania”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Plástico, metal, concreto, asfalto… alguns dos materiais usados para construir objetos para a humanidade. No final de 2020, estudo realizado pelo Instituto Weizmann de Ciência, de Israel, publicado na revista especializada Nature, apontou que o peso dessa nossa produção, conhecida como massa antropogênica, já é igual a de todos os seres vivos. Neste podcast, você vai entender o que isso significa e o que tem sido feito no sentido de diminuir o impacto da ação humana na Terra.
Edson Grandisoli explica que, apesar do nome complexo, é fácil de se entender o que é a massa antropogênica.

Edson Grandisoli:
Massa se refere à massa mesmo, o peso; antropogênica significa “criada pelo ser humano”. Essa massa antropogênica ela está ao nosso redor o tempo todo. Se agora você está escutando esse podcast por um celular, está sentado numa cadeira de madeira ou de alumínio, está embaixo de um telhado de plástico… tudo isso são construções humanas, né? Nós retiramos elementos da natureza e transformamos em objetos, edificações, tudo aquilo que é construído pelo ser humano é o que eles tão chamando nesse artigo de massa antropogênica.

Marcelo Abud:
O biólogo fala da importância dessa pesquisa, que compara a massa antropogênica à massa natural.

Edson Grandisoli:

Massa natural tem total relação com massa antropogênica. Tudo o que a gente utiliza pra fabricar as nossas coisas no dia a dia, construir, petróleo, madeira, minérios, vêm da natureza. Essa massa natural é justamente a massa viva, a massa que se encontra aí hoje no planeta: árvores, animais, microrganismos, fungos, tudo o que está aí, todos os seres vivos que se encontram nesse momento no planeta é o que a gente dá o nome de massa viva.

Música: “Um Sonho” (Alexandre Salgues / Jorge Du Peixe / Lucio Maia / Opium Producoes / Romario Menezes De Oliveira), com Nação Zumbi

Estão comendo o mundo pelas beiradas
Roendo tudo, quase não sobra nada

Edson Grandisoli:

Existem milhares de estudos que têm demonstrado o impacto do ser humano sobre a natureza e sobre o planeta como um todo. Essa questão da quantificação me parece que é bem interessante, porque fica mais concreto para as pessoas a dimensão do impacto do ser humano nos ambientes naturais, na natureza como um todo. Igualar a massa antropogênica à massa natural demonstra a voracidade que nós temos retirado esses materiais da natureza pra construir as nossas coisas, as nossas civilizações. Isso é muito preocupante, né, principalmente quando colocado do ponto de vista comparativo: se a gente pega esse valor da massa antropogênica no começo do século XX, por exemplo, no ano de 1900, ela era apenas de 3%; em 120 anos, nós subimos de 3% pra 50%. Isso demonstra, claramente, essa voracidade nossa sobre os recursos naturais.

Marcelo Abud:

De acordo com esse estudo do Instituto Weizmann de Ciências, observando o último século, a cada 20 anos, a massa antropogênica – produzida pelo ser humano – dobra. Essa ação da humanidade sobre os recursos naturais faz com que alguns pesquisadores defendam que estamos em uma nova era.

Edson Grandisoli:

Já há algumas décadas, geólogos, geógrafos, biólogos, geologistas, têm discutido mudar o nome da nossa era para antropoceno, que seria justamente a era do ser humano. Pode ser marcado, por exemplo, pela primeira Revolução Industrial como o início do antropoceno, que foi quando esses processos mais vorazes de uso de recursos começaram a acontecer. Mudar o nome da nossa era também é muito simbólico pra marcar esse nosso impacto sobre os ambientes naturais.

Marcelo Abud:
Diante do fato de que a massa do que é produzido pelo ser humano está prestes a superar a natural, Grandisoli aponta que é preciso repensar o consumo.

Edson Grandisoli:
Esse estudo mostra mais um indicador que está intimamente relacionado com essa questão do consumo. Existem muitos movimentos que têm se ocupado de fazer estudos, de propor novos caminhos; um deles é o trabalho com o consumo consciente. É muito importante a gente sempre ficar atento no consumo do dia a dia, e não só o quanto se consome, mas o que se consome no dia a dia; por que se consome e se realmente eu preciso consumir aquilo que eu estou consumindo, não é? Essa consciência com relação ao consumo é fundamental de ser desenvolvida no plano individual. A pessoa sempre fala isso, né, ‘se é mais importante ter ou ser’. Eu gosto muito dessa comparação.

Música: “Trem-bala” (Ana Vilela)
Também não é sobre correr contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás

Edson Grandisoli:

Então nós extraímos uma quantidade muito grande de materiais da natureza, como se esses materiais fossem infinitos; produzimos, transportamos de forma ainda muito inconsequente, do ponto de vista de perdas, de desperdício; consumimos, muitas vezes, sem precisar; e descartamos numa velocidade muito grande, né? Nós temos cada vez mais, em vários países, em várias cidades do Brasil, problemas de falta de espaço pra ter novos lixões, novos aterros sanitários. Então é preciso mudar um pouco essa lógica linear de produção / consumo / e descarte; produção / consumo / e descarte.

Marcelo Abud:
Uma alternativa para reduzir os impactos da ação humana é a economia circular, contemplada, por exemplo, na logística reversa.

Edson Grandisoli:
O celular, em vez de ele sair da minha mão e ir para um lixão ou pra um aterro sanitário, ele deve ser coletado pela empresa responsável, por isso que é logística reversa, né? Voltando pra mão de quem produz aquele celular, muitos daqueles materiais podem ser reaproveitados na fabricação de outros celulares. Você poderia me perguntar: mas quem é responsável por isso? Todos nós! Não é o fabricante o único responsável; não é quem vende o único responsável; não é quem consome o único responsável. É preciso que haja uma corresponsabilização de todos os atores: do governo, né, de ter postos de recolhimento de materiais; ter transporte pra devolver esses materiais pra quem produziu.

Música: “Redescobrir “ (Gonzaguinha), com Maria Rita
Vai o bicho homem fruto da semente
Renascer da própria força, própria luz e fé

Edson Grandisoli:
Muitas grandes indústrias, inclusive, no ramo de plástico, já se ocupam do desenvolvimento desse bioplástico, desses biomateriais há muito tempo. A gente tem que pensar sempre de uma maneira circular: como aquela sacolinha ou aquela garrafinha feita de um biomaterial rapidamente degradável pode colaborar, inclusive, pra retornar os nutrientes para o solo?

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Se o ritmo de produção atual for mantido, estima-se que em 2040 a massa antropogênica, a que tem interferência humana, alcance o triplo da massa natural terrestre. A mudança dessa realidade depende da consciência de cada um e do incentivo a hábitos de consumo mais conscientes.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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