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Criada por uma família Kaingang, a estudante aventureira Luz embarca em uma jornada em busca de suas raízes ao lado do amigo Vaga-lume. “Ela [Luz] simboliza a interseção entre alguns universos. Ela é uma menina não indígena e foi adotada por uma comunidade indígena, Kaingang, e ela cresce ali até o seu aniversário de 9 anos, quando descobre informações sobre o seu passado e resolve seguir numa jornada de autodescobrimento e de entender mais sobre as suas origens”, resume o diretor-geral da série, Thiago Teitelroit.

Por meio da saga de Luz, crianças e adolescentes entram em contato com o jeito de viver do povo Kaingang. “Os saberes e a cultura indígena eclodem na série naturalmente, tanto nas relações afetivas quanto nos detalhes, no fazer do dia a dia, o artesanato. Aqueles saberes e aquela cultura são apresentados confortando conflitos internos e externos da própria personagem”, explica Teitelroit.

O diretor destaca os saberes e costumes indígenas que aparecem na série. “A relação sustentável, a relação bem-sucedida que eles têm com o entorno, com o meio ambiente. A convivência, o cuidado, o olhar para o grupo, o olhar para a natureza em volta, cuidado com todo um ecossistema, que vai além deles”, aponta.

Na entrevista, Teitelroit também comenta algumas cenas em que a cultura e os saberes indígenas são apresentados. Ele afirma que isso acontece principalmente a partir da relação de Luz com a avó e com os colegas da escola em que vai estudar.

“Cenas da Luz com o Joca [parceiro da protagonista] e com as outras crianças, quando todo mundo se pinta e se divide em dois grupos, o grupo do Kamé e o grupo dos Kairús, são alguns exemplos. Muitas cenas da avó com a Luz são muito pautadas na afirmação dos preceitos, dos ensinamentos e da cultura indígena”, cita o diretor.

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Crédito das imagens: Aline Arruda – Divulgacão / Netflix

Transcrição do Áudio

Gá Tãn – Canto e Dança Kaingang fica de fundo

Thiago Teitelroit:

Ter conhecimento sobre outros povos, sobre outros comportamentos, sobre outras culturas, isso é só matéria para nos tornarmos melhores seres humanos, e eu considero que é essencial para um exercício de empatia, para todos, né, enfim.

Pras crianças, é fundamental a gente estimular o diálogo e o conhecimento sobre questões indígenas para promover uma desconstrução de estereótipo.

Meu nome é Thiago Teitelroit, diretor criativo da parte de ficção da produtora Floresta. No caso da série Luz, eu fui diretor-geral.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música original da série Luz (Felipe Zenícola / Rumori Desenho Sonoro) fica de fundo

Marcelo Abud:

A série “Luz”, da Netflix, traz como pano de fundo os saberes dos povos indígenas para o público infantojuvenil. É por meio da jornada da garota Luz, de 9 anos, que crianças e adolescentes tomam contato com a cultura da comunidade em que ela cresceu.

Thiago Teitelroit:

Ela simboliza a interseção entre alguns universos. Ela é uma menina não indígena e ela foi adotada por uma comunidade indígena, Kaingang, e ela cresce ali até o seu aniversário de 9 anos, quando ela descobre informações sobre o seu passado e resolve seguir numa jornada de autodescobrimento e de entender mais sobre as suas origens.

Trecho da série, em que Luz se apresenta aos colegas na escola:

Meu nome é Luz e eu tenho 9 anos. Bom, eu fui criada pelos indígenas Kaingang, numa comunidade bem diferente daqui. Aposto que vocês nunca ouviram falar, mas, tudo bem, eu também não conhecia vocês. A minha avó, ela sempre fala que todo mundo tem que aprender e ensinar.

(Aplausos)

Thiago Teitelroit:

Os saberes e a cultura indígena, eles eclodem na série naturalmente, tanto nas relações afetivas quanto nos detalhes, no fazer do dia a dia, o artesanato, quando tem um diálogo de conforto para personagem, né, aqueles saberes e aquela cultura é apresentada confortando conflitos internos e externos da própria personagem Luz, né, que é a nossa protagonista.

A forma como ela vê o mundo, a partir da cultura indígena, influencia um olhar mais de cosmovisão, um olhar mais empático para as outras crianças que estão à mercê de uma outra perspectiva, de uma outra linha de pensamento cosmopolita.

Trecho de cena entre crianças na escola, na série Luz:

Estudante: Só pra avisar que é a gente quem manda aqui, não vamos deixar nenhuma indiazinha atrapalhar.

Outras crianças: Indígena!

Thiago Teitelroit:

A cultura vem desse lugar, no lugar da conexão, do comparativo não de exclusão, mas do comparativo que conforta, que traz uma nova possibilidade, um novo olhar a uma dificuldade.

Marcelo Abud:

O diretor destaca algumas cenas em que a cultura e os saberes indígenas estão presentes na série.

Thiago Teitelroit:

Quando ela cria a conexão com o Joca, né, que vira o parceiro dela. Esse lugar da cultura que diz que o mundo é dividido em dois tipos de pessoas, as pessoas que são guerreiros e pessoas que são mais introspectivas, que são mais da estratégia, do pensamento. Isso conforta as crianças porque as crianças se sentem parte de uma microcomunidade ali.

Cenas da própria luz com o Joca e com as outras crianças, quando todo mundo se pinta e se dividem em dois grupos, o grupo do Kamé e o grupo dos Kairús são alguns exemplos, eu acho.

Fala de Luz na série:

O Kamé é a metade dos guerreiros. A gente não fica sentado esperando as coisas acontecerem. A gente vai atrás para as coisas darem certo. O Kairú sabe usar a cabeça com calma para fazer planos. Mas ninguém é nada sem o outro.

Thiago Teitelroit:

Muitas cenas da avó, né, da Gá com a Luz são muito pautadas na afirmação dos preceitos, dos ensinamentos e da cultura.

Fala da avó de Luz na série:

Você será forte e corajosa.

E terá muito valor.

Thiago Teitelroit:

A cultura indígena tem uma coisa muito interessante, que é algo também que eu uso pra vida, que é o não subestimar a criança.

Povos ocidentais e de uma cultura mais cosmopolita contemporânea criam castas, criam espaços diferenciados pra criança. E o indígena, na verdade, né, o povo que adota a cosmovisão tem uma outra maneira de lidar com a criança, de não subestimar potencial, a inteligência, o lugar daquela criança.

Trecho da série Luz:

Professor:

Foi ideia dela, essa brilhante ideia dessa noite iluminada.

Estudante:

Luz, na comunidade, era assim toda noite?

Luz:

Toda noite não, mas a minha vó, que é um tipo de pajé.

Estudante interrompe:

Pajé?

Luz:

Ela é tipo uma médica, mas diferente, ela sabe de tudo sobre ervas, remédios, para curar a gente por dentro e por fora. Mas essa minha vó, ela gosta muito de reunir todas as crianças em volta do fogo. Aí a gente fica ouvindo história, enquanto ela faz alguma comida.

Thiago Teitelroit:

Isso fica na série, nas entrelinhas, nessa relação da Gá de confiar, obviamente, ela faz o que ela pode pra proteger de longe, mas respeita a jornada daquela criança, sabe?

Trecho da série:

Luz:

Lá na minha comunidade, a gente estuda também, mas é diferente, a gente faz outras coisas. Eu brinco, eu corro, eu vou pro rio. E depois eu limpo toda a minha bagunça e a minha casa também.

Quem arruma as coisas aqui?

Professor:

Ah, tem outros funcionários para isso.

Luz:

Mas e a família?

Professor:

Que que tem?

Luz:

Quando é que os alunos podem ver a família?

Thiago Teitelroit:

As cenas da Gá com a Luz até no próprio sonho, quando a Gá vem em sonho dizer “Ouve o que está dentro de você”. Respeita isso, né, valida o que está dentro de você.

Trecho da série em que Gá fala com Luz em sonho:

(com música idílica ao fundo) Quando estiver tudo escuro, olha pra essa luz aqui dentro, ela vai te guiar pro melhor caminho. O vaga-lume te trouxe, não trouxe? Então, seu lugar é aqui, agora. Escuta, confia no professor e nos seus amigos.

Música: “Um Vaga-lume” (Zélia Duncan e Juliano Holanda)

Um vaga-lume sozinho não faz clarão

Faísca de escuridão

Na multidão os desejos brilharão

No breu da nossa canção

Thiago Teitelroit:

Mas isso vem muito no discurso da personagem luz. Quando ela confronta, ou quando ela acalenta, isso aparece o tempo inteiro nas palavras de forma orgânica, sabe?

Trecho da série:

Professor:

O que é o futuro? Luz, você que é a mais nova aluna, você gostaria de começar?

Luz:

Eu penso mais sobre o presente, se a gente não pensar na natureza e nas coisas hoje, não tem amanhã, não tem futuro. Minha vó sempre fala isso e na escola Kaingang também.

Professor:

Realmente você tem toda razão. Não tem como se preocupar com o futuro e não pensar, de fato, no presente, no hoje, no agora.

Marcelo Abud:

Na série Luz, a cultura dos povos Kaingang aparece ainda na maneira como a comunidade indígena se relaciona com o meio ambiente.

Thiago Teitelroit:

A relação sustentável, a relação bem-sucedida que eles têm com o entorno, com o meio ambiente. A convivência, o cuidado, o olhar para o grupo, o olhar para a natureza em volta, cuidado com todo um ecossistema, que vai além deles, assim, é muito impressionante.

Gá Tãn – Canto e Dança Kaingang fica de fundo

Marcelo Abud:

De acordo com Thiago Teitelroit, a série “Luz” é uma oportunidade para crianças e adolescentes terem acesso ao exercício de empatia com os povos indígenas.

Marcelo Abud para o podcast de Cidadania do Instituto Claro.

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