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Entre 5 e 16 de junho de 1972 aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia). Foi o primeiro importante alerta sobre a necessidade de a humanidade tomar medidas emergenciais de proteção ao meio ambiente. Duas décadas depois, na Rio-92, os avisos se intensificaram. Esses dois momentos são lembrados pela Mostra Ecofalante deste ano.

“Essas duas conferências foram extremamente importantes pra trazer esta mensagem de que a sustentabilidade é absolutamente estratégica para a nossa sociedade. É uma pena que os governos e as indústrias não escutaram essa mensagem e continuam as suas atividades como se nada estivesse acontecendo num planeta em colapso ambiental”, analisa o professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e integrante, há mais de 30 anos, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC) Paulo Artaxo.

Emergência climática

Para o pesquisador, os desastres ambientais que têm sido constantes no Brasil e no mundo vão continuar e se intensificar se não houver um esforço coletivo em torno das emergências climáticas. “O IPCC, no último relatório do Grupo de Trabalho III, coloca que nós já temos a tecnologia pra construir uma sociedade sustentável. Mas visões de curto prazo das empresas, que querem o maior lucro possível no menor espaço de tempo possível, e a visão de curto prazo da enorme maioria dos governos está impedindo que a sociedade evolua para uma economia global sustentável. E isto é um problema, obviamente, muito sério para a nossa sociedade como um todo”, conclui.

Ainda no áudio, o diretor da Mostra Ecofalante, Chico Guariba, indica três filmes que estão disponíveis online e gratuitamente, em comemoração aos 10 anos de dedicação ao cinema ambiental.

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Transcrição do Áudio

Música: “O Futuro que me Alcance” (introdução intrumental), de Reynaldo
Bessa, fica de fundo

Paulo Artaxo:
A ciência já fez o seu papel: de fazer cálculo sobre eventos climáticos extremos; previsões de aquecimento que estão sendo confirmadas com a realidade e assim por diante. Cabe aos políticos estruturarem políticas públicas que possam mudar o rumo do nosso desenvolvimento para um desenvolvimento sustentável. Para isso, a questão da comunicação é estratégica. Porque, na verdade, a população efetivamente ainda não conseguiu acordar para a gravidade da crise climática e os impactos que isso já está tendo hoje e vai ter ainda mais com o agravamento do aquecimento global nas próximas décadas.
Eu sou o professor Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP e trabalho há mais de 30 anos no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Há 50 anos, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, que aconteceu entre os dias 5 e 16 de junho de 1972, em Estocolmo, foi o primeiro alerta aos governos de todo o mundo para a necessidade de tomar medidas emergenciais de proteção ao meio ambiente.
Há 3 décadas, foi a vez da Rio-92 ampliar a necessidade de maior consciência ecológica.
Esses dois momentos foram o mote do debate que abriu edição especial da Mostra Ecofalante.
Paulo Artaxo, que participou da mesa e foi ouvido pelo Instituto Claro, afirma que desde o encontro na Suécia os avanços aconteceram, mas foram mais tímidos do que a degradação do meio ambiente.

Paulo Artaxo:
Não dá pra dizer que não avançamos porque hoje a conscientização da população, em geral, em relação a uma estratégica posição do meio ambiente, no sustento do nosso sistema socioeconômico, é muito grande. Todos percebem que o clima já mudou e percebem o impacto que isso traz: no aumento do preço dos alimentos por causa de secas, no deslocamento de populações de baixa renda por causa dos eventos climáticos extremos, como secas e inundações, e assim por diante.
Então essas duas conferências foram extremamente importantes pra trazer esta mensagem de que a sustentabilidade é absolutamente estratégica para a nossa sociedade. É uma pena que os governos e as indústrias não escutaram essa mensagem e continuam as suas atividades como se nada estivesse acontecendo num planeta em colapso ambiental.

Marcelo Abud:
As respostas à emergência climática nos cinco continentes acontecem de formas diferentes e, sem uma ação de fato global, aprofundam desigualdades.

Paulo Artaxo:
Você vê na Califórnia, por exemplo, hoje uma fração muito grande dos automóveis são automóveis elétricos e eles estão fazendo todo um esforço pra que a eletricidade que move esses automóveis seja vinda de energia solar e eólica. Você não pode comparar isso com a África ou a América do Sul, que ainda têm bilhões de pessoas passando fome, fora do sistema de consumo e que não contribuíram com o seu estilo de vida paro o aumento da concentração de gás de efeito estufa. Ou seja, eles não foram os causadores da crise ambiental que a gente está passando agora (ou emergência climática).
Por outro lado, eles são a parcela da população que mais vai sofrer com as mudanças climáticas globais, como já está acontecendo hoje.

(Áudio de matéria de Telejornal da Rede Globo) Repórter:
A procura pelos desaparecidos segue quase sem interrupção no Recife, em Jaboatão dos Guararapes e em Camaragibe. O IML confirmou que nove corpos vindos de unidades de saúde eram de pessoas que morreram em consequência dos temporais.
Paulo Artaxo:
Quem vai sofrer os impactos da mudança climática não é um americano que mora numa casa de 400m² no Texas e tem cinco carros na sua garagem. É um favelado aqui da Rocinha, da Vila Brasilândia (favela em SP); é um favelado em Bangladesh, e assim por diante. Então a crise de alimentos que vai decorrer da necessária redução de emissão de gás de efeito estufa, de novo: vai afetar muito mais a população de baixa renda. Então é um sistema que está tornando o planeta ainda mais injusto.

Marcelo Abud:
Artaxo afirma que é urgente que se mude a visão de lucro imediato para que todos façam parte das mudanças. Segundo o pesquisador, o caminho é apontado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, organização científico-política criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas.
Paulo Artaxo:
O IPCC, no último relatório do Grupo de Trabalho III, coloca o seguinte: nós já temos toda a tecnologia necessária pra reduzir as emissões de gás de efeito estufa em 50%, em todos os setores da nossa economia – ponto. Veja que é uma frase muito forte, que coloca o seguinte: nós já temos a tecnologia pra construir uma sociedade sustentável. Mas visões de curto prazo das empresas, que querem o maior lucro possível no menor espaço de tempo possível, e a visão de curto prazo da enorme maioria dos governos está impedindo que a sociedade evolua para uma economia global sustentável. E isto é um problema, obviamente, muito sério para a nossa sociedade como um todo.

Música: “Aquecimento Global” (Tatit, Wisnik e Nestrovski), com Celso Sim
Ouvi no rádio que houve um grande terremoto
Lá nas bandas do Peru e a terra até tremeu em Manaus
Faz pouco tempo era um dilúvio em Louisiania
Quem não era um bacana, lá ficou a ver navios
Há uma semana o frio aqui era uma história
Agora o sol está me matando
E amanhã deve chover

Paulo Artaxo:
Nós vamos aquecer o nosso planeta (isso é inevitável), pelo efeito cumulativo das emissões ao longo dos últimos 200 anos. Quanto mais cedo nós reduzirmos as emissões, menor será o esforço e menor será o dano para as futuras sociedades. Por outro lado, a atual estrutura das nossas economias, né – de favorecer os ricos, de concentrar renda, não importa o dano que se faça ao clima, ao meio ambiente –, está com os dias contados, porque ela não é sustentável mesmo a curto prazo. Então nós vamos ter que mudar isso, não há a menor dúvida. E para isso nós temos que comunicar a sociedade quais são os possíveis caminhos e como que a sociedade pode pressionar nossos governantes em todos os níveis – municipal, estadual, cada país e a nível planetário.
Então aí, agora o papel desses podcasts, o papel do cinema na Mostra da Ecofalante, que tem filmes extraordinários, que tocam a alma do homem, do quanto é que nós estamos destruindo o meio ambiente.

Marcelo Abud:
Para celebrar os 50 anos da Conferência de Estocolmo, a Ecofalante disponibiliza neste mês – sem custo e online – 20 filmes que foram exibidos em edições anteriores. O diretor da mostra, Chico Guariba, destaca 4 desses títulos.

Chico Guariba:
“A Conspiração da Lâmpada” é um filme que pela primeira vez trouxe a questão da obsolescência programada.
Outro filme que eu acho que é fundamental é o “Mais que Mel”, que trata da importância das abelhas como polinizadoras para a sociedade humana. As abelhas estão passando por um momento muito difícil por conta do uso de agrotóxicos, não é, no mundo. E, no entanto, é engraçado porque elas são fundamentais pra polinizar e gerar alimentação.
Por fim, eu destacaria também um filme que é o “Trashed – Para Onde Vai O nosso Lixo”. É uma megaprodução com o Jeremy Irons e talvez seja o filme que até hoje melhor retrata a questão do consumo e da questão dos resíduos. Ele traz os problemas dos oceanos, plásticos, todas essas questões que estão muito presentes aí na nossa vida e estão na pauta constante a partir de agora da humanidade.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Desde o primeiro grande aviso da ciência para a necessidade de mudança no modo de vida da sociedade global até hoje, os esforços para enfrentar as emergências climáticas foram poucos, frente ao crescimento desenfreado.
A ciência e a arte têm feito o papel de emitir alertas constantes, mas é preciso ações rápidas e concretas, sobretudo por meio de políticas públicas locais e globais.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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